Opinião

Transformação digital como pilar do crescimento sustentável: desafios e oportunidades para as empresas

Vasco Reina, Senior Sales Director na Noesis

As empresas portuguesas, independentemente da sua dimensão ou setor, enfrentam o desafio de se adaptarem a mercados em constante evolução e às tendências globais, como a transição energética, a economia circular e a exigência crescente por parte dos consumidores em relação à responsabilidade ambiental.

Neste cenário, a transformação digital tornou-se indispensável, funcionando como catalisador de inovação e possibilitando o crescimento sustentável. Impulsionada por tecnologias como inteligência artificial (IA), automação e Internet das Coisas (IoT), a transformação digital permite revolucionar modelos de negócio, criar produtos e serviços personalizados, oferecer experiências de cliente mais envolventes e promover operações sustentáveis.

Um exemplo claro é o recurso a plataformas low-code que, combinadas com análise avançada de dados e inteligência artificial, aceleram a modernização organizacional, ajudam a reduzir a chamada dívida técnica e reforçam a agilidade e a resiliência necessárias para competir num mercado global.

Em Portugal, a transformação digital assume uma importância acrescida. Para além de responder às pressões competitivas do mercado, é um instrumento crucial para alcançar metas de sustentabilidade globais. Iniciativas como o programa Inovação e Transição Digital, integrado no Portugal 2030, demonstram a prioridade que o país atribui a este processo. Ainda assim, mais relevante do que o alinhamento com metas comunitárias é a capacidade de aproveitar esta oportunidade para reposicionar o tecido empresarial português, tornando-o mais eficiente, competitivo e preparado para responder a um contexto económico em rápida transformação.

Importa, contudo, reconhecer que digitalizar não significa apenas introduzir novas tecnologias. Estamos perante uma mudança estrutural que obriga a repensar processos, mentalidades e modelos de gestão. Essa transformação deve começar na liderança e ser transversal a toda a organização.

Apesar do seu potencial transformador, a digitalização continua a colocar desafios significativos que não podem ser ignorados, entre os quais: a escassez de talento qualificado – sobretudo em áreas críticas como ciência de dados, inteligência artificial e cibersegurança –, essencial para implementar e gerir tecnologias emergentes; a resistência à mudança nas organizações, muitas vezes alimentada por uma cultura empresarial pouco alinhada com a inovação e com a adoção de novas formas de trabalhar. A estes fatores somam-se os custos iniciais de implementação e a crescente pressão para garantir a segurança da informação, elementos que exigem uma abordagem estratégica e de longo prazo.

E por falar em segurança, num contexto em que as ciberameaças se tornam cada vez mais sofisticadas, proteger dados e infraestruturas é vital para garantir a resiliência das empresas e preservar a confiança de clientes e parceiros. O relatório PME e Cibersegurança 2023, do Centro Nacional de Cibersegurança, já alertava que quase um quinto das pequenas e médias empresas enfrentava dificuldades em recrutar ou reter profissionais nesta área, uma fragilidade que continua a afetar de forma particular o tecido empresarial português quando comparado com a média europeia. Não surpreende, por isso, que os orçamentos dedicados à proteção digital tenham aumentado significativamente ao longo de 2025 — o relatório da NTT DATA aponta para um crescimento próximo dos 40% —, evidenciando que a defesa contra ciberameaças deixou de ser vista como um custo e passou a ser tratada como uma prioridade estratégica.

Ainda assim, e apesar dos desafios identificados, a transformação digital continua a abrir novas oportunidades para as empresas. Adotar uma mentalidade recetiva à mudança e integrar a inovação de forma estratégica permite não só consolidar operações e melhorar a experiência do cliente, mas também posicionar as organizações de forma competitiva num mercado em constante evolução.

Portugal, por sua vez, encontra-se num ponto de viragem. Ao longo de 2025, muitas empresas recorreram a fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para acelerar a modernização tecnológica e alinhar-se com as exigências regulatórias e ambientais. O ecossistema de inovação nacional mostrou sinais claros de maturidade, impulsionado pela colaboração entre start-ups, grandes organizações e centros de investigação.

A questão que agora se coloca é como sustentar este ritmo em 2026 e nos anos seguintes.

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