Entrevista/ “Temos planos futuros para outras rondas ou até para um eventual IPO”

João Sousa, diretor financeiro da Omniflow

Um dia depois da empresa fechar uma ronda de investimento de dois milhões de euros, o diretor financeiro da Omniflow, João Sousa, falou com o Link To Leaders sobre os objetivos da empresa que está presente em 20 países.

Criada em 2011, a Omniflow é uma start-up portuguesa que opera no setor das energias inteligentes. Considerada pela plataforma de tecnologia Red Herring como um dos projetos europeus mais promissores, o processo de expansão – que será agora acelerado – já permitiu inserir a solução inteligente em duas dezenas de países.

A empresa nacional criou a Omniled, uma luminária que produz energia a partir de fontes renováveis. Este produto está não só a iluminar, como também a alimentar sistemas de vigilância e serviços de telecomunicações espalhados por todo o mundo. O objetivo, a curto prazo, passa por incluir funcionalidades como o carregamento de drones, de bicicletas e carros elétricos.

Ontem, a empresa, que integra o portefólio da Portugal Ventures, deu a conhecer o fecho de uma ronda de investimento junto da HCapital New Ideas, um fundo de capital de risco português gerido pela HCapital Partners especializado em energia, mobilidade e territórios inteligentes.

Foi ontem anunciado o fecho de um ronda de investimento de dois milhões de euros junto da HCapital. Qual é o objetivo para este dinheiro?
O levantamento destes dois milhões euros e a entrada do novo acionista HCapital na estrutura vai permitir-nos acelerar o crescimento da atividade e o plano de internacionalização através do reforço da equipa de gestão nas áreas de desenvolvimento de software, IoT e comercial. Para além disso, vai também permitir-nos modernizar o processo produtivo em termos de automação.

Quanto tempo é que vão conseguir sobreviver com estes dois milhões de euros?
Não é uma questão de sobrevivência. Somos uma start-up fundada em 2011 e já temos um negócio rentável. Em 2017 fechámos o ano a triplicar a faturação e temos resultados positivos há dois anos consecutivos. Já estávamos a crescer e, agora, com o levantamento de capital, vamos poder acelerar este crescimento.

Tendo em conta que são uma start-up com capital 100% português, diria que é difícil levantar investimento a nível nacional?
Não, não é difícil. Atualmente, o acesso a capitais de risco e a financiamento não é difícil para start-ups que tenham produtos escaláveis, tecnologias patenteadas e um negócio já com uma tração validada, como é o nosso caso.

Portanto, reunindo estas condições, em princípio, não será difícil levantar capital…
Não. Fomos abordados por várias entidades e acabou por ser a HCapital a entrar. Felizmente para nós – e para muitas start-ups portuguesas -, neste momento, não é complicado atrair investimento, [até porque, no caso da Omniflow] já temos alguns anos de atividade e o produto já está testado.

De acordo com as nossas informações, a Omniflow estava à procura de investimento desde setembro. Portanto, segundo o que refere, foi mais uma questão de escolher o parceiro ideal do que propriamente dificuldade em encontrar investidores, correto?
Sim. Escolhemos este parceiro por opção estratégica com o objetivo de acelerar o crescimento e também para aproveitar o ecossistema do fundo, que também nos vai permitir acelerar o crescimento internacional.

Atualmente, qual é o vosso maior mercado?
Neste momento, o mercado nacional corresponde a 40% das vendas. No internacional já estamos presentes em 20 países, em todos os continentes. Os mercados mais representativos na Europa são a Bélgica e o Reino Unido, no continente americano os Estados Unidos e no asiático é a China.

Diria que o mercado português continua a ser apelativo ou vão-se focar mais além-fronteiras?
O objetivo é continuar a crescer no mercado nacional, mas o potencial de crescimento internacional é muito maior.

Que objetivo pretendem atingir com o vosso produto?
Atualmente existem cerca de 500 milhões de luminárias públicas, em todo o mundo, com tecnologia obsoleta, que já tem mais de 20 anos. O nosso objetivo é substitui-las. A luminária da Omniflow é inteligente – porque qualquer função pode ser controlada à distância – e funciona através de energias renováveis [solar e eólica].
As funcionalidades passam pela iluminação, videovigilância, acesso a wi-fi, instalação de routers 4G para as operadoras de telecomunicações e instalação de sensores ambientais. Para as cidades do futuro estas são as funções. Temos mais algumas funções que já estamos a desenvolver e que vão ser o nosso plano de futuro, como o carregamento de bicicletas e carros elétricos e estações de carregamentos de drones. Portanto, no futuro, a nossa luminária vai também ser utilizada para estas funcionalidades.

Qual é o vosso modelo de negócio? Vendem só o produto ou oferecem também um serviço de manutenção?
Vendemos o equipamento ao cliente final, que pode ser uma autarquia, um município ou uma empresa privada para, por exemplo, um parque de estacionamento, e garantimos os serviços associados [comunicações e acesso à informação].

E isto não se apresenta como um entrave à escalabilidade do negócio?
Não, porque, a nível nacional, a manutenção é feita por nós e pela Siemens Mobility, um parceiro estratégico que, desde 2017, trabalha connosco na mobilidade das cidades como instalador parceiro. Nos mercados internacionais obviamente que não temos estrutura, logo, a comercialização é feita por distribuidores licenciados que ficam também com a tarefa da manutenção.

Em quanto tempo é que um cliente tem o retorno do investimento feito nas vossas luminárias?
Em termos do preço que se paga pelo equipamento e pelas poupanças energéticas que se têm ao longo dos anos, o payback do investimento são dois anos [para lâmpadas de halogéneo normais]. Sendo que, como a nossa luminária permite a agregação de várias funcionalidades, esse investimento é ainda mais rentabilizado. Atualmente, o propomos às cidades é um produto que agrega várias funcionalidades e que é o somatório de vários equipamentos implementados em localizações distintas.

Entre 2017 e 2018 tiveram um aumento de 300% em termos de vendas. Quais são os vossos planos para um futuro próximo?
A nossa previsão – e o grande objetivo para 2019 – é terminar o ano com o mesmo número, ou seja, voltar a triplicar, ou mesmo quadruplicar o volume de vendas.

E a longo-prazo? Quando é que estão a pensar levantar outra ronda de investimento?
Em 2019 não temos prevista mais nenhuma ronda. Temos planos futuros para outras rondas de investimento ou até para um eventual IPO [oferta pública inicial] em bolsa, mas isto será para depois de 2020.

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