Stress continua elevado no ambiente de trabalho, afirma estudo internacional

A consultora norte-americana Gallup revela que 44% dos entrevistados do seu estudo dizem ter stress durante grande parte do dia de trabalho.

Um relatório recente da consultora norte-americana Gallup analisou vários indicadores que globalmente interferem com a atividade das empresas e com a relação destas com os seus trabalhadores. Um desses indicadores é o stress que, segundo o estudo “State of The Global Workplace 2023”, continua em níveis recorde desde 2021, já que 44 % dos entrevistados afirmaram que experimentam stress em grande parte do dia. O trabalho propriamente dito, assim como problemas externos, como, por exemplo, a inflação ou a saúde, podem estar na origem do stress vivenciado por estes.

Contudo, o relatório destaca o baixo engagment como o fator dominante, com 3,8 vezes mais influência sobre o stress do trabalhador do que o local de trabalho. A forma como as pessoas se sentem em relação aos seus empregos tem muito mais a ver com o relacionamento com a equipa e com a gestão.

O Leste da Ásia, que inclui a China, empatou com os EUA e o Canadá nos níveis mais altos de stress. Os bloqueios em 2022, devido à pandemia, podem ter sido a fonte desse stress. Os jovens trabalhadores e trabalhadores remotos no leste asiático tiveram níveis extremamente altos de stress diário – 60% e 61%, respetivamente.

Mas afinal o que está a stressar os funcionários do mundo? A pesquisa da Gallup não avança muitos detalhes, mas salienta que o trabalho em si pode ser uma fonte de stress, mas que o baixo engagement está relacionado com um stress maior. Fatores alheios ao trabalhador como inflação ou problemas de saúde familiar, também podem ser fontes de stress diário. E embora os líderes não possam mudar esses fatores, podem fazer a diferença no stress geral que afeta a vida dos trabalhadores.

A análise da Gallup descobriu que quando há engagement dos funcionários no trabalho eles registam uma redução significativa do stress nas suas vidas. Todavia, e embora o mercado de trabalho esteja muito competitivo, 51% dos consultados pela Gallup disseram que estavam à procura de um novo emprego.

Na avaliação aos resultados do continente europeu, a consultora constata que esta é a região com a percentagem mais baixa de trabalhadores envolvidos com a empresa, a segunda região com a segunda percentagem mais baixa de raiva diária dos trabalhadores, e a que tem a segunda percentagem mais baixa de empregados interessados em mudar de emprego.

Na Europa, 39% dos trabalhadores experienciam stress ao longo do dia e 14% afirmam ter sentimentos como raiva. No item stress, 41% são mulheres, 37% homens, 40% com idade abaixo dos 40 anos, 38% com 40 ou mais anos, 37% exclusivamente em trabalho remoto e 41% em regime híbrido. Por outro lado, 34% dos europeus inquiridos afirmou estar ativamente à procura de um novo emprego.

Na avaliação por países, aquele em que os trabalhadores revelam mais stress diário é a Grécia com 60%. Portugal surge na 10.ª posição.

No indicador engagement com a empresa, a Roménia ocupa o primeiro lugar. Portugal surge na 17.ª posição, num total de 38 países analisados.

Demissão silenciosa
Os participantes do estudo também abordaram alguns aspetos que gostariam de mudar nas empresas para que estas fossem um ótimo lugar para trabalhar. E nesta questão, 85% dos inquiridos destacaram o envolvimento e cultura, a remuneração e o bem-estar e equilíbrio entre vida pessoal e profissional, como áreas que gostariam de ver melhoradas. Gostariam também de ter mais reconhecimento, mais oportunidades de aprendizagem e melhores gestores.

Outra das vertentes analisadas pela pesquisa da consultora norte-americana refere-se à tendência mundial que tem atingido o mundo laboral conhecida por demissão silenciosa, ou quiet quitting, na versão inglesa. A tendência materializa-se no pouco ou nenhum envolvimento do trabalhador com a empresa, limitando-se a assegurar as funções básicas e o estritamente necessário. No “State of The Global Workplace 2023” fica patente que 59% dos inquiridos se enquadram nessa categoria de quiet quiting.

A par destes são igualmente relevantes os números associados ao triving at work, 23%, e ao loud quitting, 18%. No primeiro caso, estamos perante trabalhadores que estão envolvidos com a empresa, enquanto no segundo os trabalhadores não estão nada envolvidos e, inclusive, fazem tudo para prejudicar a empresa. Ainda de acordo com a análise da Gallup, o fraco engagement dos trabalhadores com as suas empresas tem um impacto negativo muito significativo na economia global. Os números apontam para custos na ordem dos 8,8 triliões de dólares (aproximadamente 8,05 triliões de euros), o que o equivale a cerca de 9% do Produto Interno Bruto global.

O relatório “State of The Global Workplace 2023” foi desenvolvido com base em entrevistas a mais de 122.416 empregados, com 15 ou mais anos, em de 160 países, com o objetivo de dar voz aos trabalhadores para assim ajudar os líderes globais a resolver os seus problemas e a tomar melhores decisões.

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