Start-ups tecnológicas estão em ebulição no Leste Europeu

A região do Leste da Europa continua a evoluir e a competir para se posicionar na vanguarda das start-ups de tecnologia no velho continente. Até agora, surgiram mais de 10 unicórnios, num valor combinado de 30 biliões de euros. A maioria foi fundada na Roménia e na Polónia. E há um promissor lote de estrelas a surgir no território.
O Leste Europeu registou uma mudança drástica nos últimos cinco anos, passando “de uma maioria de start-ups em estágio inicial para empresas que realizam rondas significativas de Série A+ com grandes investidores internacionais a apoiá-las”. A análise é de Michal Smida, fundador e CEO da Twisto, uma fintech sediada em Praga, que não hesita em afirmar que “são cada vez mais ambiciosas, com produtos que vão além da União Europeia”, referiu o empreendedor ao EU-Startups.
Segundo a publicação, o investimento em start-ups do Leste Europeu está a aumentar. Em 2018 foram investidos cerca de 7 biliões de euros, impulsionados em parte por duas mega rondas de mais de 100 milhões de euros na Taxify e na Citybee. Se forem tidas em consideração as start-ups que se mudaram para os EUA ou para o Reino Unido, os resultados impressionam ainda mais: um recorde de 1,3 biliões de euros investidos.
A Polónia é o país na região com o maior financiamento proveniente de capitais de risco, com os investimentos a atingirem 611 milhões de euros. Segue-se a Lituânia, com 302 milhões investidos desde 2013. Em termos de rondas de financiamento, a Polónia e a Hungria lideram o ranking, com 544 e 227 rondas respetivamente, o que faz de Varsóvia o maior centro tecnológico do Leste da Europa em número de rondas de investimento.
Marcell Kovacs, CEO da agência de consultoria Maxellco e ex-business executive da checa Liber8 Technology, explica como mudanças recentes em Budapeste tornaram o financiamento mais acessível. A capital da Hungria “tem hoje uma abundância de capital disponível por comparação com os últimos cinco anos. Naquela altura era realmente difícil obter financiamento significativo. O valor médio era de cerca de 100 mil euros. Em 2016 o Governo criou um fundo de capital de risco estatal para start-ups no qual injetou 100 milhões de euros. O fundo contribuía com 30 mil para as start-ups em fase inicial, o que levou a um aumento na procura”.
Marcell Kovacs acrescenta que os desenvolvimentos recentes no ecossistema de Budapeste mostram que “a cidade está a passar de um estágio inicial para um mais maduro, melhor integrado na Europa e mais além, em vários níveis”. Andras Dunai, sócio da Lead Ventures, empresa de capital de risco com sede em Budapeste, partilha a mesma opinião, citada pela mesma publicação. “O ritmo de desenvolvimento do ecossistema de start-ups na Hungria tem sido espetacular nos últimos anos. Há mais start-ups a vingar alimentadas por mais capital disponível, tanto do setor privado como de agências governamentais”.
As histórias de sucesso nesta última década são várias, incluindo as de empresas como a Ustream da Hungria, adquirida em 2016 pela IBM, ou a LogMeIn, cuja IPO (oferta pública inicial) em 2009 foi avaliada em 3,2 biliões de dólares (estimativa de 2019). De acordo com estimativas, gigantes como a Avast ou a Allegro valem agora entre 2 e 10 biliões de euros e foram ou adquiridas ou passaram por IPO.
Os potenciais unicórnios incluem empresas como a UIPath, Kiwi.com, Alza.cz, Prezi, Citybee ou a Flo. E há ótimas recém-chegadas à região, incluindo os vencedores do Central European Startup Awards (CESA) de 2018. Um exemplo é a plataforma edtech polaca Brainly, que recebeu o título de “Startup of the Year”. Em julho de 2019 a Brainly angariou 27 milhões de euros numa Série C junto de investidores como a Prosus (antiga Naspers).
Como explicar este crescimento? Com as quantidades recorde de venture capital que estão à procura de novas oportunidades no velho continente. E a região do Leste Europeu é cada vez mais atraente e o talento abunda: cerca de 1 milhão de developers, 50% dos quais estão concentrados na Polónia, na Roménia e na República Checa.
A região tem ainda os investidores de capital de risco mais relevantes da Europa, com destaque para os fundos de investimento polacos: Innovation Nest, Market One Capital, MCI Capital. Os dois primeiros investiram recentemente, respetivamente, 25 milhões de euros e 33 milhões de janeiro de 2017 a janeiro de 2018. Focam-se, sobretudo, em investimentos iniciais, entre os quais se encontram a UXPIN, Packhelp e Azimo. Também a austríaca Speedinvest e a húngara Day One Capital têm sido extremamente proativas.
E quanto ao peso dos diferentes setores? As fintechs e as SaaS (software as a service) são as principais categorias. Os valores investidos em 2018 atingiram 345 milhões de euros nas de transporte, 187 milhões em fintechs e 123 milhões nas de software para empresas. O número de rondas em 2018 totalizou 13 em transporte, 46 nas fintech e 44 em software para empresas.
O que esperar então do Leste Europeu no futuro? Para a EU-Startups a força de trabalho diversificada tem grande potencial. De relembrar que a região inclui cerca de 1 milhão de developers (50% na Polónia, Roménia e República Checa), proporcionando trabalhadores de tecnologia altamente qualificados. A Polónia ocupa a terceira posição – a primeira em Java e a segunda em algoritmos – (depois da Rússia e da China), o que demonstra o potencial de talento do Leste Europeu. A região vai provavelmente receber mais atenção de investidores de fora da Europa (Ásia, EUA, Canadá), tendo visto o investimento duplicar desde 2015, totalizando 0,2 biliões de euros entre 2017 e 2018.