Silicon Valley contra o mundo – as facetas do maior ninho de start-ups

Silicon Valley continua a ser a meca das start-ups. Desde 1939, altura em que William Hewlett e Dave Packard fundaram a marca HP (Hewlett-Packard), que o vale californiano é o epicentro da tecnologia a nível mundial.
Com empresas como a Apple, Microsoft, Facebook, Google, Oracle, Uber e Airbnb albergadas neste ninho, seria de esperar que este fosse o berço de sonho para qualquer start-up. A verdade é que ainda o é. Mesmo depois da tentativa de replicar este ecossistema para outros locais, Silicon Valley continua a ter um potencial único para fazer crescer start-ups. Há três razões que explicam este sucesso:
Há menos investimento fora do vale
Os ecossistemas de financiamento fora de Silicon Valley ainda não atingiram a maturidade necessária para fazerem frente ao vale norte-americano.
Enquanto que os Estados Unidos contam com redes de investimento já estabelecidas, com inúmeros investidores e instituições dispostas a apostar desde alguns milhares de dólares a milhares de milhão em start-ups, dificilmente se encontram ecossistemas com este nível de maturidade no campo dos investimentos, o que não só dificulta o crescimento de projetos, como também desmotiva os potenciais empreendedores devido ao risco acrescido que é fazer nascer uma start-up.
Um relatório do CB Insights comprovou o abismo que separa o cenário de financiamento europeu e o norte-americano. Segundo este estudo, por cada dólar disponibilizado a start-ups europeias, há seis dólares disponíveis para serem injetados em empresas norte-americanas deste género.
Adeo Ressi, fundador do The Founder Institute, referiu recentemente ao Link to Leaders que, devido ao Brexit, a componente de financiamento europeia pode vir a piorar para as start-ups nos próximos anos. Isto porque Londres continua a ter o cenário de financiamento mais forte da Europa, algo que vai ser dificultado depois do processo Brexit.
Esta diferença entre os Estados Unidos e os países europeus está patente num texto da cofundadora da aplicação mobile Front, Mathilde Collin. No referido artigo, Collin, de origem francesa, explica que enquanto que na Europa os fundadores quase que imploram por dinheiro, nos Estados Unidos a procura existe de ambos os lados, tanto de investidores, como das start-ups.
No caso da Ásia, cada vez mais existem fundos disponíveis para apoiar as start-ups. Prova desse esforço atual é o facto de o maior fundo de investimento do mundo, o Vision Fund do Softbank, ser de origem japonesa. Apesar de ter alocado 75 mil milhões para investir em start-ups, os investimentos por parte da organização nipónica mostram uma falta de maturidade que provavelmente não se encontraria nas redes de investidores de Silicon Valley.
Há menos negócios feitos em fases avançadas
Fora de Silicon Valley, no que toca às oportunidades de receber investimento, a grande maioria procura meter dinheiro em start-ups em fases embrionárias ou que estejam aptas para uma ronda de série A.
Nos Estados Unidos, existem consideravelmente mais entidades dispostas a investir em mais start-ups em fases mais avançadas do que na Europa ou na Ásia. Apesar do grande crescimento de incubadoras, aceleradoras e de business angels fora de Silicon Valley, estas mudanças ainda não atraíram os desejados players que poderão mudar o cenário fora do vale.
A falta de investimentos em fases mais avançadas deve-se, em parte, à falta de maturidade do ecossistema. Este campo, segundo Adeo Ressi, “é uma das poucas áreas do mundo que traz uma grande diferença nos resultados. Portanto, uma das coisas que posso recomendar é que Portugal recrute investidores experientes de Silicon Valley”, de forma a trazer a experiência norte-americana para a Europa.
Unicórnios são mais raros fora do vale
Das 57 start-ups que assumiram o estatuto de unicórnio, em 2017, 32 são de origem norte-americana. Isto significa que mais de metade das grandes histórias de sucesso das start-ups do ano passado vieram dos Estados Unidos.
Esta demonstração de poder e força ostentada pelo ecossistema norte-americano, liderado por Silicon Valley, faz com que start-ups de todo o mundo sigam um roteiro padrão: recolher investimentos em fase embrionária ou de série A no seu país natal e seguir para as terras do tio Sam, com o sonho de um dia se tornarem num unicórnio.
*fotografia de Oliver Shou.