Entrevista/ “A Rorus quer ser a próxima Coca-Cola mas nos filtros de água”

Corinne Clinch, fundadora da Rorus Inc.

Mais de 600 milhões de pessoas não têm acesso a água potável. A pensar neste problema, a Rorus decidiu criou uma linha diversificada de dispositivos de filtragem para tornar a água potável acessível e barata a pessoas carenciadas.

Corinne Clinch criou a Rorus, empresa norte-americana dedicada aos filtros de água, quando ainda era estudante na Universidade de Carnegie Mellon, nos EUA. O objetivo? Acabar com o problema da água potável no mundo.

Corinne dedicou-se ao voluntariado durante cinco anos, em países como a Índia e o Nepal. No seu contacto direto com a população mais carenciada, lidou com necessidades sem resposta, como o problema da água potável.

Foi a partir daqui que nasceu a Rorus Inc, hoje com sede nos EUA e escritórios na Índia.

O Link To Leaders esteve à conversa com a fundadora da Rorus, que acabou de levantar um milhão de dólares numa espécie de fundo pré-semente e semente.

Em que consiste a Rorus?
A Rorus é uma start-up com sede em Pittsburgh, na Pensilvânia, nos EUA. Usamos nanotecnologia e design único em todo o mundo, para criar filtros de água muito simples, tanto para uso doméstico como portátil. O saco da Rorus foi desenhado para ser usado em países em desenvolvimento, mas tem também uma grande aplicação militar. É muito simples de usar, pois focamo-nos nos problemas que decorrem do seu uso por pessoas sem a adequada formação em termos higiénicos. O Rorus é muito simples de ensinar a usar, ao contrário de outras alternativas que existem no mercado. Até uma criança de 5 anos sabe usar o saco, é só meter água de um lado e tirá-la do outro lado já pronta a beber.

O que a fez avançar nesta área de negócio?
Passei cinco anos como voluntária em vários países em desenvolvimento, países na África do Sul, no Togo, na Índia e no Nepal. Foi devido a essa experiência pessoal, por ver os reais problemas e por saber o quão difícil é para uma ONG ou para uma organização académica lançar uma solução escalável para os problemas, que hoje estou aqui. As ONG conseguem entrar no terreno em todo o mundo e fazem o trabalho duro. Vejam, a Coca-Cola está em todo o mundo. Nós queremos ser a próxima Coca-Cola, mas nos filtros de água.

A partir de onde atuam?
Temos a sede em Pittsburgh e escritórios em Nova Deli, mas queremos chegar a todo o lado.

Qual o vosso plano de negócios?
Neste momento, estamos focados em vender para organizações sem fins lucrativos (ONG), principalmente as que operam em zona de guerra. Estamos a recorrer a estas organizações, para obter um melhor feedback sobre o nosso produto, uma vez que são elas que atuam junto das nossas comunidades-alvo e são elas que têm os canais de distribuição para os nossos produtos. Mesmo vendendo para ONGs, conseguimos ter uma boa margem de lucro e é a partir daí que avançamos para o mercado consumidor. O nosso objetivo é vender filtros a um custo tão baixo, que as pessoas nos países em desenvolvimento os consigam comprar para o seu próprio uso. São quem mais valor dará ao nosso produto. É aí que está o maior mercado consumidor. É um mercado avaliado em 14 milhões de dólares (13 milhões de euros) nos países em desenvolvimento, com as pessoas a comprarem os filtros para elas mesmas, sem intervenção de organizações, nem dos governos.

Quais os maiores problemas que enfrentaram até ao momento?
Tivemos uma pequena luta com o fabrico. Desenvolver algo completamente novo é sempre um pouco difícil, mas é um problema em resolução, uma vez que é apenas uma questão de tempo até ter todos os detalhes acertados. Para além disso, é o costume, a luta por conseguir os parceiros certos e os investidores que conheçam o nosso mercado, que é bastante particular, seja na nanotecnologia, seja no mundo, quando aplicado à água.

Quais as maiores necessidades da Rorus neste momento?
Contactos de ONG’s que percebam o produto, que queiram dar uma melhor resposta a esta necessidade e passem a palavra junto dos potenciais clientes locais, de forma a que percebam o valor de usarem um filtro, em vez dos habituais comprimidos de cloro. O Rorus é um pouco mais caro que os comprimidos, mas não nos podemos esquecer de que, cerca de metade das vezes que os usam, não surtem efeito por indevida utilização. O objetivo é que, se as ONG fornecerem à população uma melhor solução para os seus problemas, estes confiem mais nelas e se alcance uma melhor saúde no futuro.

Que lições partilha com os que estão agora a começar o seu negócio?
Primeiro, que não sejam demasiados duros com vocês mesmos. Os erros vão e vêm e, surpreendentemente, são muito poucos os que percebem como é que nos sentimos. Depois, foquem-se mesmo em encontrarem a equipa certa. Tive imensa sorte com o meu cofundador. Começámos a trabalhar juntos durante a faculdade e fomos abordados por um investidor com quem começámos a empresa. Mas daí para a frente, entrámos na luta para conseguir encontrar a pessoa certa para integrar a equipa, alguém com quem passamos dezenas de horas por semana. Tem de ser alguém em quem confiemos e com quem não tenhamos de entrar em micro-gestão. Tem de ser alguém que partilhe a nossa forma de tomar decisões e que saibamos que realmente está a apostar na empresa.

Qual o sistema de financiamento da Rorus?
Acabámos de levantar um milhão de dólares numa espécie de fundo pré-semente e semente, na sua maioria em notas de crédito de business angels ou de agências de capital de risco. Iremos avançar para a série A, mas queremos falar com as pessoas, conhecê-las e descobrir aquelas que devem mesmo estar connosco. Não queremos alguém que apenas entre com dinheiro e desapareça. Queremos alguém que realmente saiba como trabalhar connosco. Somos pessoas jovens que precisam de experiência e de continuar a recrutar pessoas de excelência.

 

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