Opinião
Profissionais do futuro orientados por sentido de missão

Os recursos humanos do futuro não serão apenas motivados pelo sucesso financeiro e progressão na carreira, mas também por um desejo mais profundo de mudar o mundo de forma positiva. As organizações e empresas que compreenderem esta mudança e que integrarem o ‘trabalho com propósito’ vão ter maiores possibilidades de serem bem-sucedidas no futuro.
À medida que o mundo enfrenta desafios urgentes em torno da sustentabilidade, equidade social, segurança alimentar e económica, e uso responsável da IA, está a desenrolar-se uma revolução silenciosa no mercado de trabalho – em direção ao trabalho com impacto social positivo. Observa-se em quase todas as indústrias uma mudança significativa, e que atravessa gerações, nos valores e escolhas dos trabalhadores: cada vez mais pessoas procuram funções que lhes permitam gerar um impacto significativo tanto na sociedade como no ambiente.
As evidências falam por si. Estudos demonstram que os Millennials e a Geração Z, atualmente os maiores segmentos da força de trabalho global, atribuem particular importância a encontrar sentido e missão no seu trabalho. De facto, um estudo recente da Harvard Business School afirma que os recém-licenciados estão dispostos a sacrificar salário por empregos com impacto pró-social. A procura por um trabalho com um propósito social não é exclusiva dos jovens – os dados indicam um movimento crescente e geracionalmente transversal nesta direção.
Os cargos com foco em sustentabilidade estão entre as categorias de emprego com crescimento mais rápido na Europa e nos EUA. A lista de profissões emergentes em 2024 do LinkedIn destacou como áreas de crescimento a gestão de saúde e segurança ambiental, bem como especialistas em sustentabilidade. Esta mudança ultrapassa a simples escolha dos candidatos por estas funções – o próprio mercado está a potenciar esta dinâmica. Por exemplo: a transição energética para as renováveis. A mudança está a ser impulsionada por apoio governamental, pela redução dos custos tecnológicos e por uma crescente procura de soluções energéticas mais limpas. Este cenário leva a acreditar que fazer bem à sociedade também pode ser um bom negócio.
As profissões tradicionais estão cada vez mais a incorporar princípios de sustentabilidade e impacto social e a dar origem a funções híbridas, que combinam competências convencionais com uma especialização ambiental e social. Na Amazon, tenho observado um número crescente de engenheiros que procuram ativamente projetos com impacto social. Seja engenheiros a desenvolver algoritmos energeticamente eficientes para centros de dados, arquitetos a projetar edifícios neutros em carbono, ou profissionais financeiros especializados em investimento sustentável, as fronteiras entre o lucro e o impacto social estão cada vez mais ténues.
Em comparação com as gerações anteriores, que estavam mais preocupadas com a liberdade pessoal e o crescimento económico, os Millennials e a Geração Z demonstram maior preocupação com questões como a desigualdade, saúde mental e alterações climáticas. Como nativos digitais, reconhecem que podem ajudar a resolver estes complexos problemas humanos com tecnologia – o que aponta para um realinhamento profundo das suas aspirações profissionais e valores sociais.
Para se manterem competitivas, as empresas de todos os setores devem adaptar as suas estratégias para atrair e reter estes colaboradores. Isto significa criar funções que tenham um impacto social positivo efetivo; integrar indicadores ambientais, sociais e de governação corporativa (ESG) nas estratégias centrais do negócio. As empresas que oferecerem trabalhos com um impacto social significativo e que capacitem os colaboradores para impulsionar mudanças positivas vão conseguir atrair os melhores talentos. Num mundo em que os fatores sociais e ambientais são já parte integrante do desempenho empresarial, estas organizações terão maior probabilidade de sucesso a longo prazo.
Em última análise, as evidências apontam para um futuro onde a procura por um propósito ou missão assume importância igual, se não maior, que a procura por lucro. Os trabalhadores do amanhã não serão simplesmente motivados pelo resultado financeiro, mas por um desejo mais profundo de criar mudanças positivas no mundo. As organizações que reconhecerem e aproveitarem esta mudança serão aquelas que vão prosperar nas décadas vindouras.