Por que surgem tantas start-ups em Israel? A resposta está na infância.

A empreendedora em série e influencer israelita Inbal Arieli explica no seu livro por que são criadas tantas start-ups no seu país. Tudo começa na infância.

O que leva as pessoas a pensarem em grande? O que as inspira a correr riscos? O que as incentiva a pensar de forma diferente? Estas são características típicas dos empreendedores de start-ups bem-sucedidos, e dos empreendedores israelitas em particular, declara Inbal Arieli no seu livro “Chutzpah: Why Israel is a Hub of Innovation and Entrepreneurship” [chutzpah: palavra Iídiche que expressa a qualidade de audácia, para o bem ou para o mal].

Conhecida como a “nação das start-ups”, Israel ocupa, em termos de inovação, o 3.º lugar em patentes concedidas, depois da Suíça e dos EUA. O país tem uma ampla gama de indústrias nas quais os israelitas são grandes inovadores. Com mais de 8 mil milhões de dólares (7 mil milhões de euros) arrecadados em capital de risco a cada ano, dos quais 85% vêm do exterior, Israel ganhou o direito ao epíteto de “nação start-up”.

Já todos ouvimos dizer que são as forças armadas israelitas, sobretudo algumas unidades, que fazem convergir pessoas com grandes ideias e um vasto conjunto de capacidades. Mas, para Inbal Arieli, que é também CO-CEO da organização de desenvolvimento de liderança Synthesis, a cultura de empreendedorismo em Israel começa muito, muito antes.

A autora chama a atenção para a espécie de “junkyard” (depósito de sucata), onde a maioria das crianças israelitas brinca enquanto crescem. Neste espaço há todos os tipos de objetos estranhos, nenhum com qualquer relação particular com o outro.

Grande parte da cultura de criatividade começa aqui, assegura a influencer. “Primeiro, não há regras. As crianças brincam com cada objeto como acham melhor, e misturam-nos e combinam como bem entendem. Os adultos não lhes impõem regras, então elas aprendem por si próprias a decidir o que fazer”.

“No parque infantil, as crianças israelitas também aprendem a correr riscos. Elas não descem pelo escorrega: escalam por ali acima, estão penduradas pelas laterais, estão por todo o lado…”, prossegue Inbal Arieli.

Então, quando as crianças brincam na espécie de “ferro-velho”, é frequente quererem unir objetos que são bastante pesados. Isto significa que aprendem a colaborar – têm de trabalhar em conjunto para mover os objetos pesados.

“Há outro tipo de brincadeira que as crianças israelitas gostam: envolve quebrar regras. Elas são conduzidas a um lago, onde há um canal com uma placa onde está escrito “Perigo! Mantenha-se afastado”. O professor leva-as até lá e diz que nadem nele. “Isto dá uma mensagem complexa sobre ordem, de usar o próprio discernimento, e sobre tomada de decisões”, ressalta a empreendedora.

Este processo de potenciar a criatividade na infância prossegue até à adolescência. “Nesta altura fazem muitas coisas estúpidas, mas, se lhes der responsabilidade, assumem-na com grande seriedade”, explica.

Assim, os adolescentes israelitas servem na Cruz Vermelha como voluntários, prestando primeiros socorros (após formação) sob a supervisão das equipas de ambulância. “Isto ensina-os a tomar decisões por si, a trabalhar em equipa e a usar o discernimento”, continua a autora.

Com este enquadramento cultural, quando completam 18 anos e entram no serviço militar já estão equipados com as competências sociais (soft skills) de que os empreendedores precisam, diz. Nas forças armadas israelitas, que são muito orientadas para a equipa – os líderes não dão simplesmente ordens, antes constroem colaboração – tal reforça o que os agora soldados já aprenderam.

“Ao aprender a criarem as próprias regras, a assumir riscos, a quebrar ou alterar normas, e a partilhar a responsabilidade, as crianças israelitas crescem e tornam-se indivíduos muito criativos. A cultura faz a diferença; o serviço militar apenas dá o acabamento”, conclui Inbal Arieli.

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