Opinião

Por que falham os líderes? Da psicologia dos liderados!

Paulo Finuras, professor associado do ISG*

Mais de 3 milhões de publicações sobre a liderança e não existe ainda uma teoria geral do fenómeno.

Talvez a melhor forma de perceber a psicologia da liderança e dos liderados esteja no passado ancestral que nos remete para a savana de onde todos demos o «grande salto em frente» há milhares de anos e onde o nosso cérebro foi moldado mais de 95% da sua existência.

No atual mundo empresarial, mais de 90% dos cargos de poder de topo são ocupados por homens. Então, por que razão a maioria das pessoas escolhe líderes que sejam, preferencialmente, homens, altos e, se possível, ricos? A explicação cultural aqui não é claramente suficiente, preocupada com os «estilos de liderança» e não percebendo que a “variância invariante” não é só uma marca da nossa natureza: é a nossa natureza!

Características como o sexo, o peso, a altura e a saúde, são, dizem-nos, irrelevantes. Mas não são. Quantos presidentes de países ou de grandes empresas são de estatura baixa, obesos e visivelmente doentes?

Há quem defenda que a razão para que sistematicamente os indivíduos mais altos ganhem mais vezes as eleições, por exemplo, e em quase todos os países, deve-se a um preconceito inconsciente que nos leva a favorecer os indivíduos de maior estatura[1]  para esses cargos. Mas é preciso explicar se será um «preconceito» (e se o for por que existe), ou será algo mais profundo E mais importante: até que ponto esse «preconceito» está desfasado do ambiente atual em que vivemos (e eu acho que está)![2]

A melhor forma de lidar com os nossos instintos acumulados ao longo da evolução passa por reconhecê-los (em vez de negá-los) e a partir daí saber como viver com eles (e não contra eles).

É que os motivos principais para a esmagadora maioria daqueles que querem ocupar cargos de topo na liderança são relativamente básicos: querem o poder, e todos os benefícios diretos e indiretos, imediatos e diferidos que daí advêm, sejam materiais ou simbólicos! Por isso, o grande enigma, não é tanto o da psicologia dos líderes mas sim dos liderados, principalmente quando sabemos que faz parte da psicologia da espécie, não aceitar, ou não reconhecer, qualquer «liderança» que não seja percebida como necessária ou útil.

As nossas preferências, no domínio da liderança são, muitas vezes, um exemplo de um «desfasamento» entre os traços e características de liderança que os nossos ancestrais selecionavam e as pressões e exigências do mundo moderno em que hoje vivemos e que temos de enfrentar. Este desfasamento explica, em grande parte, o fracasso de muitas das lideranças atuais.[3]

Não obstante aqui termos chegado, mais de 5 mil milhões de gerações depois fizemos todos uma longa viagem que mantém recordações (inconscientes) do passado.

 

[1] Como explicar que os indivíduos mais altos são considerados mais atrativos pelas mulheres, copulam mais vezes, têm em média melhores cargos e remunerações e ganham mais do que os homens mais baixos? É claro que existem exceções a esta verificação empírica, mas não anulam o padrão descrito. Lamento.
[2] Isto remete-nos para a armadilha evolutiva conhecida pela «hipótese do desfasamento», ou «teoria da incompatibilidade». É um conceito originário da biologia evolutiva que se refere aos traços evolutivos que nos acompanham e que embora tenham sido vantajosos no passado, tornaram-se inadaptados na atualidade, devido às rápidas mudanças ocorridas no nosso ambiente.
[3] Estudos feitos nos EUA (Nicholson, N. 2000), atribuem uma taxa de insucesso aos líderes empresariais de cerca de 55% e outros estudos (Hogan, R.; & Kaiser, 2005), mostram que mais de 60% dos empregados referem que o aspeto mais negativo e stressante do seu trabalho é o seu…chefe!

 

* Professor associado do ISG – Instituto Superior de Gestão e Investigador, e Associate Partner da Hofstede Insights (Finlândia)

Comentários

Artigos Relacionados