Entrevista/ “Investimos em start-ups de muito sucesso”

Gilles Vermot Desroches, VP de Sustentabilidade da Schneider Electric

Gilles Vermot Desroches, vice-presidente de  Sustentabilidade da Schneider Electric, esteve recentemente em Lisboa para participar no Fórum SEforALL, um evento que debateu o acesso universal à energia. Aproveitamos a visita para saber o que está a mudar no setor.

Qual a missão de um chief sustainability officer na Schneider Electric?
É responsável pelo departamento que define e implementa políticas ambientais, éticas e sociais da empresa; sensibiliza os colaboradores da Schneider Electric e outros stakeholders para questões do desenvolvimento sustentável; lidera projetos sustentáveis, como a criação de diretrizes éticas da empresa, a assinatura do UN Global Compact; ou ainda a criação de ferramentas de performance de sustentabilidade, entre outros.

Como é que a Schneider Electric se posiciona em termos de desenvolvimento de soluções técnicas em prol da energia sustentável?
Por um lado, temos soluções líderes em gestão de energia e automação. Por outro, disponibilizamos produtos, soluções e serviços relacionados com a energia para comunidades que não têm acesso à mesma – desde ao fornecimento de eletricidade, a serviços comunitários de eletrificação coletiva. Comprometemo-nos a fornecer soluções inovadoras que garantam que Life is On em qualquer lugar, para todos e em todos os momentos. Esta é a nossa promessa e missão.

Dado que as populações-alvo têm pouco ou nenhum acesso a energia limpa, saudável e fiável, procuramos prover soluções de acesso a energia sustentável que alimentem não apenas as casas, mas também serviços comunitários e novos negócios geradores de valor. A empresa está, portanto, a desenvolver uma gama ampla de produtos e soluções para ir ao encontro das necessidades individuais e de grupo, desde sistemas de iluminação e centrais de energia descentralizadas até estações de recarga de baterias e sistemas de bombeamento de água.

O programa Access to Energy desempenha um papel integral nos compromissos mais amplos de desenvolvimento sustentável do Grupo, com um compromisso feito na COP21 de facilitar o acesso à iluminação e às comunicações para 50 milhões de habitantes na base da pirâmide económica até 2025.

Quais são os maiores obstáculos à aplicação generalizada de energia sustentável?
Para as ofertas e modelos de acesso ao negócio, o principal obstáculo são as áreas remotas, as que não estão conectadas à rede e que nunca foram conectadas. Reunimos todo o nosso esforço em soluções solares.

E quais são as bases para alcançar a Energia Sustentável para todos (SEforALL)?
Com a SEforALL mantemos o compromisso para com a meta 7 de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (SDG7). O grupo partilha, com a SEforALL, a visão de acesso universal à energia e a ambição de aumentar a eficiência energética através de programas específicos. O SDG7 visa “garantir o acesso a energia acessível, confiável, sustentável e moderna para todos” com pré-requisitos para a educação infantil, qualidade de vida, desenvolvimento económico e sistemas de saúde eficazes.

Esta parceria, com a SEforALL, reforça o compromisso da Schneider Electric em fornecer acesso universal a energia segura, confiável, eficiente e sustentável, de acordo com a estratégia de sustentabilidade. Desde 2005, o grupo monitoriza a sua performance através do barómetro Planet e Society, que inclui um indicador do número de pessoas carenciadas que receberam treinamento em cargos relacionados com energia (150 mil pessoas entre 2015 e 2017)

Que papel podem as start-ups desempenhar na inovação e no avanço tecnológico em direção à energia sustentável?
Oferecem um forte potencial para o desenvolvimento e inovação sustentável. Como exemplo, trabalhamos em estreita colaboração com a KIC InnoEnergy, uma parceria de longo prazo entre as stakeholders interessadas em energia para promover projetos colaborativos em inovação, educação e investir em start-ups no campo da energia. É também a oportunidade de destacar um dos três pilares do programa de Acess to Energy, que é o investimento de impacto. Nós temos, hoje, dois impactos positivos, e graças a eles investimos em start-ups de muito sucesso.

Como por exemplo…
Estes são alguns dos projetos em que colaboramos com diferentes start-ups: a FlowBox em parceria com a star-up InnoEnergy. Este projeto visa a produção tecnológica de “baterias com corrente contínua” combinando ácido hidrobrómico e hidrogénio, com um armazenamento de energia separado e funções de produto, o que aumenta as suas capacidades. A Schneider Electric trata do design, produção e instalação do sistema complementar de conversão de energia. E ainda o Projeto Igloo. Internamente a GeoLOcation cOmmissioning (Igloo) usa tecnologias de geolocalização para otimizar a configuração de equipamentos de construção inteligentes e melhorar o seu consumo de energia.

Considera que os recentes avanços tecnológicos respondem às necessidades que o mundo apresenta para disponibilizar energia a todos?
Os últimos avanços na eletrificação off-grid abriu novas oportunidades para 1,1 mil milhões de pessoas, em todo o mundo que ainda não têm acesso a eletricidade. Os novos modelos de negócio, promovidos pela digitalização, estão a tornar a implementação de projetos de eletrificação financeiramente mais acessíveis nestas regiões do globo.

De facto, espera-se que em 2030 cerca de 674 milhões de pessoas ainda não tenham acesso a energia. É, por esta razão, que o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas definiu o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 7 (SDG 7) como uma iniciativa central para assegurar o acesso a energia moderna, segura, sustentável e a preços acessíveis até 2030. Este objetivo propõe, ainda, estratégias para atingir a meta e ultrapassar a lacuna do acesso à energia, de modo a que ninguém seja deixado para trás. Acreditamos que este objetivo pode ser superado se as tecnologias certas se combinarem, os modelos de negócio regulamentares e financeiros forem modernizados, e a formação local for implementada.

Regulamentação governamental, financiamento, empreendedorismo e tecnologia… Qual é o peso destas áreas na estratégia de desenvolvimento de soluções energéticas sustentáveis?
De modo a atingirmos o nosso objetivo e convertermos os segmentos de população que ainda carecem de acesso a energia, é necessário abordar os cidadãos que consomem energia de forma prolongada. Este esforço requererá regulamentação governamental apropriada, esquemas de financiamento inovadores, implementação de novas tecnologias e implementação de programas robustos de formação.

No domínio da regulamentação governamental, os governantes das regiões onde o acesso à energia é problemático devem adotar reformas que promovam um conjunto de soluções e modelos de negócio. Deve ser evitada a imposição de barreiras a novos participantes/integrantes e facilitado o acesso à eletricidade rural, através da criação de condições ajustadas ao investimento off-grid. No campo do financiamento estão a emergir novos mecanismos tais como o microfinanciamento, microleasing, remessas, crowdfunding, e pay-as-you-go em plataformas mobile. Estas novas abordagens permitem que os stakeholders financeiros assumam um risco inferior ao investir em projetos de acesso à energia. Os novos consumidores de energia utilizam serviços low cost, por exemplo, assegurando assim mais capital para pagar as suas contas energéticas. Com um serviço automático de cobrança e processos de coleção, os stakeholders financeiros enfrentam um risco mais reduzido de incumprimento de pagamentos.

O ciclo virtuoso dos sistemas de energia de microgrid com menor CapEx e OpEX ajuda a criar maiores receitas para os fornecedores de energia locais. Estes sistemas atraem mais juros financeiros permitindo maior acesso à energia. Como resultado dos novos fornecedores de energia, a economia global continua a crescer.

Também é vital promover o empreendedorismo junto da população não privilegiada para promover nas comunidades locais, desenvolver e manter soluções que facilitam acesso a energia segura, moderna e sustentável em energia para todos. Já formámos mais de 130 mil cidadãos e 5 500 formadores desde 2009, além disso temos apoiado 1 000 empreendedores.

Agora, novas tendências tecnológicas que influenciam os sistemas solares small off-grid ou microgrid (muitas vezes referidos como sistemas solares descentralizados), estão a promover um decréscimo nos preços e a preparar uma reavaliação de como o acesso à energia pode ser expandido de forma económica pelas áreas do globo com maiores necessidades.

Quais são as principais medidas para o SDG7 e qual é o papel que a Schneider Electric assume neste processo?
Os objetivos globais para o acesso à energia, como indicado pelo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas 7, alertam para o acesso universal a serviços energéticos económicos, seguros e modernos, até 2030. O objetivo deve ser alcançado também no que toca ao aumento da energia sustentável e renovável, ao mesmo tempo que se otimiza a criação de energia eficiente, a transmissão e os processos de consumo. De facto, 1,1 mil milhões de cidadãos precisarão de ser adicionados à equação como consumidores sem que isto aumente o nível das emissões de CO2. Além disso, os serviços de energia sustentável e moderna nos países em desenvolvimento devem estar disponíveis em 2030. Como empresa responsável, a Schneider Electric tem o dever de ajudar a atingir este objetivo que exigirá um esforço coletivo, devido à importância e complexidade dos desafios associados.

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