Plataforma em terra firme

pla·ta·for·ma: substantivo feminino que se refere a uma superfície horizontal e plana, mais alta do que o solo que a rodeia. Nos elétricos que animam as ruas de Lisboa são os estrados por onde saem e entram os passageiros. No setor de empreendedorismo tem uma conotação tecnológica e refere-se a um sistema computacional. Em abstrato, é o conjunto de meios para expressar ideias, princípios ou objetivos.

Foi por isso que criámos a plataforma da MAZE, para melhorar o apoio financeiro e não financeiro que oferecemos às pessoas e organizações com quem trabalhamos. Segundo a Global Impact Investing Network, em 2020, foram investidos mais de 715 mil milhões de euros em ativos financeiros que têm como objetivo aliar a criação de impacto social e ambiental ao retorno financeiro. Há oito anos, quando a MAZE foi criada, o investimento com considerações sociais e ambientais era quase 100 vezes inferior, avaliado em apenas 8 mil milhões.

Se queremos que os negócios do futuro sejam sustentáveis, precisamos de garantir que têm as ferramentas que precisam para lucrar enquanto resolvem problemas sociais e ambientais. A plataforma da MAZE surgiu para agregar estas ferramentas e dar resposta ao crescimento do mercado de investimento de impacto global. Através da nossa plataforma procuramos otimizar a forma através da qual apoiamos, informamos e conectamos empreendedores, investidores, empresas e entidades do setor público para melhor servir as pessoas e o planeta de uma forma justa e sustentável.

Mas o que é que isso significa na prática?

– Rigor na forma como gerimos e reportamos impacto (por exemplo, investimos na Ohne, que comercializa apenas produtos menstruais orgânicos, permitindo que os 12 mil produtos menstruais que cada mulher usa em média ao longo da sua vida sejam menos nefastos para o planeta enquanto asseguram uma melhor saúde menstrual e reprodutiva).

– Rapidez na ligação com investidores e empresas (por exemplo, acelerámos a Chatterbox, que cresceu através da sua parceria com o BNP Paribas, onde emprega migrantes e refugiados enquanto professores de línguas a colaboradores do banco).

– Capacidade de empatia, desenvolvendo serviços com base nas necessidades e feedback das pessoas que servimos (por exemplo, trabalhamos com a Área Metropolitana do Porto na implementação de um projeto de inovação com os seus 17 municípios focado na melhoria dos serviços de proximidade e apoio a idosos como resultado da pandemia que vivemos).

– Humildade para reconhecer que mais importante que ter respostas para todas as perguntas é promover a ligação entre as pessoas certas no momento certo (por exemplo, a nossa comunidade conta hoje com mais de 150 empreendedores, mentores e investidores).

Em março de 2021 publicámos o nosso Relatório de Impacto onde partilhamos o trabalho da MAZE nos últimos oito anos, dividido em dois atos:

– No primeiro ato, estudámos, criámos e testámos novas ferramentas com o objetivo de perceber o que funciona e, principalmente, o que não funciona e precisou de adaptação.

– No segundo ato, onde estamos de momento, utilizamos estas várias ferramentas – investimento, aceleração e desenho de respostas sociais – em prol de todas as pessoas que connosco querem provar que o impacto é a maior oportunidade económica dos nossos tempos.

A minha principal responsabilidade na MAZE é garantir que esta plataforma traz valor para todos os empreendedores e parceiros com quem trabalho. É um desafio que abracei com a ingenuidade e otimismo que caracterizam todas as tantas vezes que digo ‘sim’. Estamos apenas no início e tal como o dicionário indica, encaramos com entusiasmo as formas infinitas que a plataforma da MAZE pode vir a tomar.

Em 2017, o Benjamin lançou o álbum 1986. A música ‘Terra Firme’ foi a banda sonora de muitos dias na MAZE desde então. A letra fala sobre a crise de refugiados, quando muitos continuam a arriscar as suas vidas e a das suas famílias para atravessar o Mediterrâneo e construir uma nova casa na Europa. A pandemia reforçou o crescimento do mercado de investimento de impacto. Contudo, acentuou também as desigualdades entre ricos e pobres, países e cidadãos.

Se fizermos as coisas bem, daqui a oito anos, o múltiplo pode ser bastante maior que 100, mas não basta ser, é preciso fazer. Como canta o Benjamim, “Terra firme só não vale, Porto seguro é não ter medo”.

*Responsável pela plataforma e gestão de comunidade da MAZE

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Cristina Almeida, licenciada em Economia pela NOVA SBE, é responsável pela plataforma e gestão de comunidade da MAZE, uma empresa de investimento de impacto fundada pela Fundação Calouste Gulbenkian em 2013. Desde que se juntou à MAZE em 2017, conectou empreendedores, investidores, empresas e figuras do setor público através da gestão de marca, criação e distribuição de conteúdos e eventos. Anteriormente, foi consultora na EY, fez um secondment no Impact Investment Group, na Austrália, e aprendeu as idiossincrasias do mundo das start-ups na Mellow.