Opinião

Competitividade para o futuro no pós Portugal 2020

Pedro Cilínio, diretor da DIN*

Se conseguimos atingir os atuais níveis de desenvolvimento socio-económico, foi devido à integração do espaço económico europeu, e a forma mais rápida de destruir esse desenvolvimento é retroceder no projeto de construção europeia.

A economia Portuguesa tem vindo a apresentar um crescimento, ligeiramente superior à média europeia, mas ainda assim moderado. A própria União Europeia cresceu, em 2018, 2%, valor abaixo dos 2,2% da OCDE, dos 4,2% da Ásia e Pacífico e dos 4,2% e da América do Norte.

A Europa e Portugal enfrentam por isso um desafio de crescimento que tem vindo a ser aproveitado por populistas e outras correntes para anunciar o fim do projeto europeu enquanto modelo de desenvolvimento.

No entanto a Europa é ainda o espaço económico mais desenvolvido do mundo. Dos 20 países com maior PIB per capita, 14 são europeus e 12 pertencem à União Europeia. A China, por exemplo, está na posição 67 da lista com 9.608 USD por habitante enquanto que Portugal está em 36.º lugar com 23,186 USD por habitante.

A Europa tem demonstrado, por isso, ser um espaço de crescimento sócio-económico, e as empresas e cidadãos têm tudo a ganhar na defesa e aprofundamento da integração europeia. Os cidadãos europeus precisam de se libertar das fake-news e dos profetas do populismo que desejam o fim da União Europeia e a demonizam enquanto causa de todos os males. Se conseguimos atingir os atuais níveis de desenvolvimento sócio-económico foi devido à integração do espaço económico europeu, e a forma mais rápida de destruir esse desenvolvimento é retroceder no projeto de construção europeia.

A questão que se coloca de seguida é: como acelerar o crescimento e levar Portugal a convergir de forma mais acelerada com o espaço europeu, contribuindo para  preservar a afirmação da Europa como espaço de referência mundial de um crescimento sócio-económico inclusivo e sustentável?

Voltemos por isso aos problemas estruturais da nossa economia. Na recente avaliação do semestre europeu que servirá de base à discussão da aplicação dos fundos europeus em Portugal no pós 2020, foram identificados os sintomas:

  • Portugal tem uma das mais baixas taxas de investimento da UE e níveis de produtividade ainda inferiores ao seu potencial;
  • A insuficiência das ligações ferroviárias e marítimas dificulta que as empresas exportadoras beneficiem plenamente do potencial do mercado único;
  • O investimento em investigação e desenvolvimento recuperou recentemente o seu dinamismo, mas continua a ser insuficiente para melhorar o panorama português a nível da investigação e inovação;
  • Investimentos na eficiência dos recursos contribuiriam para assegurar um crescimento sustentável a longo prazo;
  • O baixo nível de qualificações dos trabalhadores constitui um obstáculo ao investimento e ao crescimento da produtividade;
  • O pleno aproveitamento do potencial da mão de obra requer igualmente o reforço dos serviços públicos de emprego e políticas ativas do mercado de trabalho que sejam eficazes;
  • A falta de competências digitais da população prejudica a sua inclusão na sociedade e a sua empregabilidade, reduzindo o potencial para uma produtividade mais elevada.

A abordagem passará, por isso, por incentivar o investimento empresarial, mais particularmente aquele que resulte em inovação de produto, processo, organizacional ou de marketing que confira maior competitividade internacional às empresas e que permita criar maior valor com os recursos disponíveis.

É preciso apostar no I&D que gere inovação nas empresas e, para isso, é necessário apostar na criação de redes de colaboração entre empresas e instituições de investigação. No novo mundo global ninguém inova sozinho e a colaboração é a palavra de ordem para o futuro. Só dessa forma as empresas conseguirão ultrapassar o risco associado à incerteza tecnológica e ter acesso ao conhecimento e recursos necessários à inovação. Desta forma, a adesão a clusters e a procura de alinhamento com estratégias de especialização inteligente são elementos chave.
No entanto, para inovarem de forma mais competitiva, as empresas têm de sair das fronteiras do país e colaborar de forma alargada e abrangente com outras empresas e entidades no espaço europeu, aproveitando as muitas oportunidades que serão criadas para esse efeito no próximo orçamento da União, como, por exemplo, no novo Horizon Europe.

Por fim, o crescimento não se faz sem pessoas com qualificações adequadas. Aqui Portugal enfrenta aquelas que a meu ver são as principais ameaças ao seu crescimento: a falta de qualificações; a baixa natalidade; o envelhecimento da sua população e a redução anunciada do número de habitantes.

Para combater esta ameaça são necessárias estratégias ativas de qualificação dos jovens que irão entrar no mercado de trabalho principalmente em áreas tecnológicas, promover a integração de quadros altamente qualificados das universidades nas empresas como forma de criar ligações para a inovação, perseguir estratégias de recrutamento internacional de imigrantes qualificados para as áreas de maior necessidade e apostar na requalificação e reconversão da força de trabalho para que todos tenham um lugar numa nova economia cada vez mais digital.

*Direção de Investimento para a Inovação e Competitividade Empresarial / IAPMEI

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Pedro Cilínio

Pedro Cilínio

É atualmente secretário de Estado da Economia. Profissional com mais de 20 anos de experiência em avaliação de projetos de investimento, adquirida em várias funções exercidas no IAPMEI e na AICEP (ex-ICEP), grande parte das quais de direção de unidades de negócio. De 2006 a 2022, exerceu no IAPMEI o cargo de diretor na área de sistemas de incentivos ao investimento em inovação, qualificação e I&D nas empresas, onde implementou iniciativas de reengenharia de processos de negócio suportados na desmaterialização... Ler Mais..

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