Entrevista/ “O sucesso profissional alcança-se tendo atitudes positivas, a trabalhar com paixão”

Isabel Azevedo, presidente da FRIGOCON

“Talvez as mulheres tragam a sua sensibilidade feminina no trato e no cuidado, mas a visão nos negócios é algo em que o género não será o determinante”. A afirmação é de Isabel Azevedo, presidente da FRIGOCON, e vencedora do Prémio BPI Mulher Empresária 2022. Em entrevista ao Link To Leaders falou do seu percurso no mundo dos negócios e do que a move.

Isabel Azevedo, presidente do Conselho de Administração do Grupo FRICON, detentora da marca FRICON, foi a vencedora da edição deste ano do Prémio BPI Mulher Empresária, uma distinção que visa reconhecer o talento e a excelência profissional das empresárias portuguesas e ao mesmo tempo fomentar as redes de contato com outras gestoras líderes no mundo.

Com mais de 40 anos de experiência na indústria do frio comercial e industrial, Isabel Azevedo lidera um grupo empresarial, de origem familiar, com mais de 1000 colaboradores, especialista na produção e comercialização de equipamentos de congelação e refrigeração para supermercados, conservadores de gelados, refrigeradores de bebidas. Atualmente, atua em mais de 110 países, nos cinco continentes.

Quem é a Isabel Azevedo?
Com as suas características, defeitos e qualidades, mas com um sentido muito confiante e otimista acerca da vida e das pessoas. Mãe de quatro filhos, com características particulares, nomeadamente resiliência e dedicação ao trabalho.

É a vencedora da edição de 2022 do Prémio BPI Mulher Empresária. Estava a contar com este reconhecimento?
Não, de forma alguma. Fiquei muito sensibilizada e sinto que ganha mais sentido quando partilho essa alegria com a minha família e com a equipa de pessoas extraordinárias com quem trabalho.

“Parece-me que a educação é essencial, porque pela educação ajuda-se a superar preconceitos (…)”.

O que deve ser feito para promover a igualdade e a diversidade nos cargos de liderança, para que mais mulheres sejam reconhecidas pelo seu talento, pela sua formação e pelo seu trabalho?
Iniciativas como esta, por exemplo, ajudam a tornar a igualdade num tema mais partilhado por toda a sociedade, não só sensibilizando as mulheres, mas todos. Parece-me que a educação é essencial, porque pela educação ajuda-se a superar preconceitos, valoriza-se e aceita-se o direito à igualdade.

Com formação em gestão, a Isabel possui mais de 40 anos de experiência na indústria do frio comercial e industrial. Alguma vez sentiu que ser mulher era um obstáculo para realizar as suas funções?
A igualdade de género teve mais desenvolvimentos positivos nos últimos 40 anos do que nos 200 ou mais anos anteriores. Qualquer pessoa pode facilmente reconhecer isso. É claro que reparei nos obstáculos e convivi com eles, mas decidi ultrapassar todos os que pude e felizmente tive sempre o apoio da minha família e da minha equipa.

“Penso que o fundamental é o carácter, nos negócios e na vida”.

Na sua opinião, o que diferencia a visão das mulheres e dos homens no mundo dos negócios?
Não sei se existe diferença quanto à visão. Talvez as mulheres tragam a sua sensibilidade feminina no trato e no cuidado, mas a visão nos negócios é algo em que o género não será o determinante. Penso que o fundamental é o carácter, nos negócios e na vida.

De Vila do Conde, a FRICON leva o frio a todo o mundo. Qual o segredo para o sucesso?
Estamos habituados a trabalhar sob elevados padrões de exigência com uma parte significativa dos retalhistas nacionais e internacionais a este respeito. Somos uma empresa que nunca foi resistente às mudanças e isso, não sendo um segredo, contribui certamente para o nosso sucesso.

A alteração dos conceitos dos supermercados, que nos últimos anos têm investido em lojas de menor dimensão e mais próximas do consumidor, tem sido um desafio para a empresa?
Um desafio positivo e permanente. Fomos desenvolvendo os nossos equipamentos nos últimos 10 anos de modo a atender esta exigência do mercado, que veio a traduzir-se num elevado volume de negócios através das soluções de frio que estão especificamente dedicadas ao retalho alimentar de lojas de proximidade.

Projetos para o futuro da FRICON?
Consolidar investimento nos recursos técnicos, humanos e materiais. Garantir a consecução e consolidação do nosso volume de negócios. Diminuir a dependência dos clientes com peso significativo na carteira de encomendas, através da incorporação de novos clientes, fruto de análise nos mercados estratégicos. Garantir a política de contratação de compras. E reforçar as atividades de R&D de produtos.

“Prevemos, em 2022, atingir um volume de negócio superior a 30 milhões de euros (…)”.

Quanto prevê faturar este ano?
Prevemos, em 2022, atingir um volume de negócio superior a 30 milhões de euros, com um crescimento previsto de cerca de 10%.

De todos os desafios que já passou, qual o que mais a marcou e o que teve impacto na sua carreira?
Talvez a adaptação a uma nova realidade climática e cultural quando, com 13 anos, vim da Rodésia (atual Zimbabwe) para Portugal. Penso que essa adaptação, difícil, também temperou e preparou a minha personalidade para uma aprendizagem que tive de fazer desde muito jovem, integrando o corpo acionista da FRICON com 16 anos.

“O sucesso profissional alcança-se tendo atitudes positivas, trabalhar com paixão, tentar fazer sempre o nosso melhor (…)”

Que conselho deixaria a uma jovem executiva com ambição de alcançar um cargo de liderança?
As oportunidades em condições iguais são as mesmas independentemente do género. O sucesso profissional alcança-se tendo atitudes positivas, a trabalhar com paixão, a tentar fazer sempre o nosso melhor, ser felizes no que fazemos e ter um forte sentido ético. Pensem sempre à frente e tentem tomar ações que possam precaver o futuro.

Quais as principais competências para se ser uma boa líder nos dias de hoje?
Penso que a capacidade de prever continua a ser algo fundamental. Aliás, prever sempre foi sinónimo de sucesso, é isso que permite a alguns profissionais ajustarem-se à realidade, adaptar e evoluir. O meu pai e fundador da FRICON, sempre dizia: “o crescimento é o produto do futuro que fomos capazes de prever”. Essa é uma competência importante para uma boa líder, em qualquer tempo.

O que ainda falta fazer à Isabel Azevedo gestora? E à Isabel Azevedo mulher?
Não sei se será o que me falta, mas é sem dúvida o que ambiciono. Isto é, ter uma equipa cada vez mais autónoma, que me permita ter uma participação ativa cada vez menor, no dia a dia. À Isabel Azevedo mulher falta apenas ter um pouco mais tempo para mim mesma.

Respostas rápidas: 
O maior risco: constante necessidade de investimentos.
O maior erro: ainda está por vir.
A maior lição: todos os conselhos dos meus pais.
A maior conquista: educar com sucesso os meus 4 filhos.

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