Ours, portugueses criam marketplace de aluguer de roupa em Espanha

Partilhar o armário de roupa já é possível e pela mão de dois portugueses que rumaram a Espanha para lançar o seu projeto de moda. Chama-se Ours e dá acesso a modelos e looks de alta qualidade por um preço baixo, e sem precisar de pensar: “mas quantas vezes vou usar esta peça de roupa?”.

Ligar pessoas com visão e gostos singulares, que se preocupam com o consumo responsável e a democratização da moda. É esta a missão da Ours, um marketplace de moda lançado há dois anos por dois portugueses, Vanessa Alves e Vasco Valetim, em Espanha, que estiveram no Web Summit.

“Não precisa de ter apenas um guarda-roupa, mas muitos! E pode rentabilizar o seu! Explore o seu lado esquisito. Vista-se como uma chefe para aquela entrevista de emprego. Use aquela roupa para o casamento do seu melhor amigo! Alugue, reutilize, compartilhe!”, começa por explicar Vanessa Alves, CEO da Ours, ao Link To Leaders.

Para a empreendedora, “cuidar da nossa imagem não pode significar prejudicar o nosso planeta. Ao partilhar o nosso guarda-roupa criamos um sistema de moda circular, onde há sempre algo novo, mas não há desperdício. A indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo. Além de um consumo mais responsável, ele deve ser reduzido, mas como? Alugar em vez de comprar”.

As dificuldades que encontrou pelo caminho no nosso país e o facto de “todas as mulheres terem no seu armário coisas que usaram apenas uma vez ou duas vezes” levaram-na a lançar, juntamente com Vasco Valentim, a Ours em Espanha.

“Trabalhei em moda e, por isso, tive de ir para Barcelona. Aqui em Portugal sabe-se o estado do design e da moda. A moda é literalmente uma ferramenta de comunicação que todos temos ao nosso alcance durante o dia, mas que peca pelas práticas nocivas para o planeta. Eu viajei para a Índia e pela China e vi em primeira mão como as coisas funcionam na produção. E também o quão nocivo é para a psicologia da mulher, para o comportamento da mulher de como é comunicada”, conta a jovem que também quer ajudar a desmistificar o preconceito de usar roupa em segunda mão.

Antes da pandemia, Vanessa começou a pesquisar as plataformas que existiam na área e não encontrou nada do que tinha idealizado no país vizinho: “Na altura não havia nada do género que tinha pensado em Espanha. Comecei a ver que nos Estados Unidos isto já era uma coisa que fazia parte estilo de vida da mulher norte-americana, pelo que não era totalmente novo. Em Inglaterra começaram também a surgir umas plataformas parecidas. Por isso, o que eu queria fazer era um marketplace, ou seja, um tipo de airbnb de moda porque é o que me parece mais sustentável”.

Então, pôs mãos à obra e empreendeu com capitais próprios. O que não estava à espera é que surgisse a pandemia. “Lancei o projeto antes da pandemia, em janeiro de 2020. Assinei com a equipa que nos fez o site duas semanas antes da pandemia. Obviamente que foi um desastre porque não houve crescimento e evolução do negócio”, afirmou no espaço de exposição para start-ups Alpha do Web Summit.

Mas passados dois anos está otimista. “Até ao momento temos 200 utilizadores registados. Este ano estamos a crescer bastante. O registar é, para nós, um processo que denota que a pessoa tem de estar mesmo interessada. Tendo em conta a evolução do mercado em Espanha, é um bom número, mas ainda temos de crescer”.

Mas como funciona o processo de aluguer de roupa?
Quem estiver interessado em “colocar o seu armário à disposição”, tem de se registar na plataforma e passar por um processo de verificação de identidade por questões de segurança. A partir daqui, pode disponibilizar as fotos das suas peças de roupa ou acessórios que quer alugar. Também quem quiser requisitar uma peça terá de passar pelo mesmo processo.

No entanto, há requisitos para quem alugar as suas peças. “Não aceitamos fast fashion – significa um padrão de produção e consumo no qual os produtos são fabricados, consumidos e descartados de forma rápida -, por uma questão de ideologia, roupa interior ou de banho. De resto, tem de estar em boas condições de conservação”, explica Vanessa.

A Ours conta também com o serviço Ours Management destinado a pessoas que “nos cedem as suas peças de roupa, ou seja, gerimos as peças de outras pessoas”.

E custos? Os pagamentos são todos feitos através da plataforma. O aluguer das peças geralmente está entre 10 e 20% do retail price (valor original da peça), mas depois é o proprietário que tem o poder de decisão. A Ours, por sua vez, cobra uma comissão por cada aluguer, que corresponde a 30%.

Chegar a mais pessoas é o próximo passo e, quando o negócio estiver estabilizado em Espanha, Vanessa Alves e Vasco Valentim querem voltar à sua terra Natal e trazer também a Ours.

Comentários

Artigos Relacionados