Entrevista/ “Os sonhos moldam-se e foi o que aconteceu ao meu”
É um dos embaixadores da DreamConf – a Conferência do Sonhadorismo – que tem lugar na Fil, no Parque das Nações, na próxima sexta-feira e que pretende desafiar os jovens a acreditar e a arriscar nos seus sonhos. Fomos conhecer o testemunho do André Sousa.
Era daqueles miúdos que andava sempre com a bola rente aos pés. Mas curiosamente é nas mãos que a tem mais vezes. André Sousa começou no futebol aos oito anos, integrando a formação da Académica, onde permaneceu até ser infantil de segundo ano. Mas a baixa estatura começou a prejudicá-lo entre os postes e resolveu experimentar o futsal, integrando o conjunto de Coimbra entre 2004 e 2007, quando recebeu um convite de Nuno Dias, o seu atual treinador do Sporting, para rumar ao Instituto D. João V.
Regressou à Académica em 2011/12, mas mudou-se um ano depois para os Açores, para alinhar pelo Operário, seguindo daí para o Fundão, onde permaneceu duas temporadas até ingressar no Sporting. O clube leonino contratou o internacional português para reforçar a época de 2014/15 e é em Alvalade que permanece até aos dias de hoje.
É licenciado em Ciências do Desporto, concluiu o mestrado em Educação Física e está a frequentar outro sobre a ligação entre o desporto e os seus fatores emocionais.
O guarda-redes de futsal do Sporting prepara-se para daqui a dois dias ser um dos oradores da Dream Conf – a Conferência do Sonhadorismo – que decorre na Futurália, na Fil, no Parque das Nações. O Link To Leaders esteve à conversa com o jogador para saber o que espera deste evento e para perceber de que forma o futebol mudou a sua forma de ver e estar na vida.
É um dos embaixadores da Dream Conf – a Conferência do Sonhadorismo – que vai ter lugar na Futurália. O que espera deste evento?
O Sonhadorismo é um projeto que tenho vindo a acompanhar e com o qual me identifico. Acho, inclusive, que nunca fez tanto sentido como hoje. Vivemos numa sociedade desacreditada, onde nos conformamos com a rotina que nos é imposta e acabamos por arrumar os nossos sonhos numa gaveta, à espera do momento certo que, muitas vezes, nunca chega. E é por isso que espero, neste evento, poder inspirar os jovens a olhar a vida com uma nova perspetiva. Vamos ter vários empreendedores, com diferentes estilos de vida, que têm algo em comum: fugiram à norma e tiveram sucesso. Não se conformaram com o simples salário ao final do mês, quiseram mais. São estes exemplos que precisam de ser ouvidos. Espero, sinceramente, que este evento sirva, acima de tudo, para isso, partilhar histórias e experiências dos que conseguiram vingar nos seus projetos, provando que tudo é possível.
Quais os ensinamentos que irá partilhar durante a Dream Conf com os mais jovens?
Essencialmente vou partilhar a minha história. Os meus sucessos e insucessos, mostrando que, com perseverança e dedicação, tudo conseguimos. Não é um trajeto fácil, mas é possível.
Os jovens acreditam e arriscam para concretizar os seus sonhos?
Acho que não o suficiente. Não por culpa deles, mas pela forma como está modelado o ensino e a formação dos mais jovens. Não somos incentivados a pensar fora da caixa. Desde sempre que ouvimos que ‘é difícil’, que ‘é complicado’, que ‘ter um emprego já é uma sorte’ e tudo isso nos leva a desmotivar e a desacreditar. Muitas vezes prefere-se o certo ao incerto. Mas é na incerteza dos nossos sonhos que podemos encontrar o nosso verdadeiro rumo e o sucesso que desejamos.
O que é preciso para que os sonhos se tornem reais?
Numa primeira fase, acho que é essencial o acreditar: acreditar que somos capazes de atingir os nossos objetivos, acreditar que vamos ter sucesso. É também preciso muita perseverança. Ela é fulcral para ultrapassar as dificuldades, até porque estas vão sempre existir. A tudo isto temos de acrescentar talento, há que haver uma vocação e, por fim, uma pitada de sorte, que fará sempre parte do nosso percurso.
O André conseguiu concretizar os seus sonhos? O que foi determinante para realizar os seus sonhos?
Neste momento, vivo o meu sonho. Sinto-me feliz, e isso é o mais importante. Tenho a estabilidade que sempre procurei e a carreira que sempre quis. Talvez algumas coisas tenham ficado pelo caminho, mas, no essencial, consegui atingir os meus objetivos. Continuo a querer sempre mais e, por isso, procuro evoluir todos os dias na minha carreira.
Como começou a sua carreira futebolística?
Comecei a minha carreira desportiva com 8 anos no Futebol de 11. Permaneci durante 4 anos, mas, pela minha baixa estatura física, deixei de ser opção técnica. Assim, decidi experimentar o futsal por convite de um amigo. Na altura, desconhecia a modalidade e, na verdade, a paixão foi imediata e talvez por isso me mantenho há tantos anos. O gosto pela baliza surgiu por influência familiar, pelo meu irmão e pelo meu pai que também foi guarda-redes de futsal.
Era daqueles miúdos que andava sempre com a bola rente aos pés. Mas curiosamente é nas mãos que a tem mais vezes… Era este o seu sonho?
É um facto. Quando era mais jovem, o meu sonho era jogar à frente. Mas a verdade é que acabei por perceber que as minhas características inatas e o meu talento se adaptavam melhor à baliza. Ajustei o meu sonho de ser jogador à posição na qual me enquadrava mais. Continuo a gostar de jogar com os pés, mas é na baliza que faço a diferença. Os sonhos moldam-se e foi o que aconteceu ao meu. Tenho a oportunidade de o realizar diariamente e isso é o mais importante.
Considera que a sua baixa estatura o impediu de ser hoje um grande jogador de futebol 11?
A baixa estatura foi, realmente, uma condicionante numa possível carreira de futebol de 11. Mas é um tema no qual não penso muito. Acredito que as coisas acontecem por algum motivo. O futsal sempre esteve presente na minha família. O meu próprio pai era um excelente jogador no seu tempo. O meu futuro acabou por ser este e não me arrependo. Quem sabe o que poderia ter acontecido se seguisse uma outra carreira? A vida é uma série de ‘ses’. Uma série de escolhas. Tento viver o meu presente da melhor maneira possível, sempre com um sorriso na cara. O meu percurso de vida trouxe-me onde estou hoje e sinto-me feliz por isso.
O que aprendeu no futebol que agora lhe é útil no seu dia a dia?
Muitas coisas. O desporto ensina-nos valores que podem ser adaptados a várias situações do nosso dia a dia. Ensina-nos a perseverança, temos de lutar e treinar para atingirmos o nosso melhor potencial. Ensina-nos o valor do espírito de equipa, pois, para conseguirmos um sucesso individual, temos de trabalhar o sucesso coletivo. Ensina-nos que somos capazes, com esforço e dedicação, e essa é uma das principais lições que levo da minha vida profissional para a minha vida pessoal.
Considera que o espírito de grupo que existe dentro de campo é fundamental para a conquista de êxitos também fora das quatro linhas?
Muito. Quando dependemos de outros para ter sucesso, aprendemos também a dar valor a quem nos rodeia. No futsal e em outras modalidades de grupo, nada se faz sozinho. Eu posso ser muito bom, mas, se os meus colegas não trabalharem bem, eu também não vou conseguir dar o meu melhor. As nossas conquistas são coletivas, trabalhamos em conjunto em prol de um objetivo maior. E esse é um valor que faz sentido em muitos outros contextos fora do desporto. Costumo dizer que juntos somos mais fortes, e tenho a prova disso todos os dias.
Cinco características de um jogador de futebol que podem ser aplicadas no dia a dia de um jovem e no mundo empresarial?
Dedicação, perseverança, superação, espírito de equipa e inteligência emocional.
O André licenciou-se em Ciências do Desporto e concluiu o mestrado em Educação Física. Está neste momento a frequentar outro mestrado sobre a ligação entre o desporto e os seus fatores emocionais. É fácil gerir os fatores emocionais quando se é futebolista e não queremos defraudar as expetativas dos adeptos?
Não posso dizer que seja fácil. Como já referi, o futsal é um trabalho de equipa. Temos de estar bem no todo, para podermos ter sucesso individualmente dentro de campo. Os adeptos são uma das nossas maiores forças, mas são também os nossos maiores críticos. Vivem connosco as vitórias e as derrotas. Estão sempre lá. E é para eles que trabalhamos diariamente. Quando as coisas correm menos bem, temos de ter a capacidade de aprender com a situação e aí a inteligência emocional assume um papel importante. Também quando estamos em baixo, por alguma lesão ou por um jogo que individualmente correu menos bem, é importante gerir as emoções para não entrar numa espiral negativa. Se soubermos gerir o lado emocional, vamos, com toda a certeza, aprender a superar os problemas de uma forma mais produtiva.
Como se vê daqui a cinco anos?
Confesso que não penso muito no futuro. Tento viver o presente da melhor maneira possível sem fazer planos a longo-prazo. A vida ensinou-me que, de um momento para o outro, as coisas mudam, e que o que, hoje, tomamos como certo, amanhã pode mudar. De uma coisa tenho a certeza, quero ser o mais feliz possível. Sentir-me realizado nos diferentes campos da minha vida e ter ao meu lado as pessoas que, comigo, trilham a sua felicidade. Sempre com um sorriso na cara. Essa é a minha premissa!
Respostas rápidas:
O maior risco: Ir jogar para os Açores saindo da minha zona de conforto.
O maior erro: Poderia ter saído mais cedo da zona de conforto.
A melhor ideia: Ainda está para vir! 🙂
A maior lição: Com as duas lesões que sofri, que me obrigaram a duas cirurgias e a parar durante algum tempo, aprendi a ter paciência e, acima de tudo, a valorizar as fases boas. Não as devemos tomar como garantidas.
A maior conquista: Jogar ao serviço da Seleção Nacional da minha modalidade.