Opinião

 Os portugueses e as casas: uma relação frustrada

Duarte Ferreira dos Santos, vice-presidente de Investimentos da Casavo

Nos últimos anos, Portugal, e a sua capital em particular, tem ganho destaque entre aqueles que procuram investir no mercado imobiliário. Sobretudo para os estrangeiros, o bom tempo e o custo de vida revelam-se fatores determinantes na mudança.

Contudo, a entrada de capital estrangeiro tem contribuído para o aumento dos preços no setor, que já estavam pressionados por outros fatores como a oferta limitada de habitações, a subida dos custos de construção e a demora nos processos de licenciamento. Assim, na perspetiva de um português, comprar casa exige cada vez mais paciência e resiliência: para encontrar um bom imóvel, ter condições financeiras para o adquirir, aguardar e responder aos processos burocráticos com a banca e serviços financeiros, e encontrar as soluções mais otimizadas para potenciais obras de remodelação.

Como tal, não será de estranhar que 2022 tenha sido marcado por sucessivos recordes no que concerne à avaliação bancária das habitações. Em Janeiro, logo no início do ano, já se verificava um aumento dos preços atribuídos às residências, que se foi intensificando ao longo do ano, numa tendência que parece não ter fim. O valor médio da avaliação bancária atingiu inclusivamente valores que nunca se verificaram desde que a série de dados do Instituto Nacional de Estatística foi lançada, em 2011.

A realidade é que o valor das habitações em Lisboa já ultrapassa, inclusivamente, o de outras cidades europeias que, na história mais recente, sempre tiveram valorizações superiores e habitantes com maior poder de compra. Segundo um relatório da Casafari em torno do mercado residencial, Lisboa tornou-se a cidade mais cara para compra de casa no sul da Europa, superando regiões como Madrid, Barcelona e Milão. De todos os locais analisados, apenas Paris continua à frente da capital portuguesa. No mesmo sentido, Lisboa foi também a cidade que apresentou o maior crescimento de preços das habitações face ao período homólogo do ano anterior.

A esta análise, junta-se também a avaliação do estado em que as casas se encontram. Dados da Pordata mostram que 25,2% da população portuguesa vive em casas com más condições e 16,4% não tem meios para aquecer convenientemente a sua habitação. Observamos, por isso, frequentemente, em plataformas de agências imobiliárias, casas anunciadas a valores inflacionados e com obras significativas de recuperação por realizar, que na grande maioria dos casos não podem ser englobadas no montante de empréstimo concedido pelo banco e exigem a realização de um novo crédito pessoal.

Para terminar, o desafio das famílias portuguesas não fica concluído no momento da compra – prolonga-se durante décadas de pagamentos mensais de um empréstimo que, devido à subida das taxas Euribor, se encontra, atualmente, a valores insustentáveis para muitos. A previsão atual é que as taxas de juro continuem a subir e que a conjuntura se mantenha negativa a nível nacional, com o Banco de Portugal a antecipar que, no próximo ano, a economia deverá sentir de forma mais significativa os efeitos da atual inflação, com um acentuado prejuízo para as famílias e empresas portuguesas.

Perante este cenário desanimador para os portugueses, que, culturalmente, preferem adquirir imóveis em detrimento de os arrendar, é necessário encontrar mecanismos que reestabeleçam a ordem no ecossistema do mercado imobiliário, valorizando a transparência e o real valor das casas. A tecnologia assume-se como uma poderosa ferramenta para fazer frente a esta conjuntura. A plataforma imobiliária europeia Casavo recorre a tecnologia patenteada para efetuar uma avaliação imparcial dos imóveis, baseada em critérios relacionados com o estado da casa, localização e áreas, totalmente independente de especulações setoriais. Adicionalmente, ao adquirir diretamente as casas aos proprietários, assegura a realização de obras de recuperação total ou parcial, colocando de novo no mercado casas prontas a habitar, com melhor eficiência energética e em linha com as tendências atuais dos espaços habitacionais. O objetivo é, assim, estender o acesso à habitação a um maior número de pessoas, através da venda de imóveis com elevados padrões de qualidade, sempre a preço de mercado, para que os portugueses não tenham necessidade de gastar dinheiro na sua renovação e adaptação.

Se queremos ter uma cidade habitada com as suas famílias, assegurar que a oferta corresponde ao real custo de vida do país e que os imóveis têm as condições necessárias para uma qualidade de vida digna é essencial. Para esse efeito, está na altura de vermos a digitalização e a tecnologia como poderosas armas para democratizar o acesso à habitação própria e devolver as nossas cidades aos seus habitantes.

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