Opinião
Como sabemos que não vai ficar tudo bem é melhor…

Na nossa história universal a população mundial é unanimemente e facilmente capaz de se render e indicar dois líderes mundiais que reúnem consenso e são apontados por todos como exemplos de visão, entrega ao outro e legado para as gerações futuras.
(Sugestão do autor: leia o artigo ao som de https://youtu.be/TzAdkzJPAIo).
Nelson Mandela e Mahatma Gandhi são provavelmente os nomes que nenhum de nós pode contestar. A marca destes dois Homens é de uma forma avassaladora a marca de quanto estiveram dispostos a abdicar deles próprios para dar aos outros.
Por isso o seu legado será eterno.
Não deixa no entanto de ser curioso o facto de estas duas referências serem unanimemente referenciadas e aclamadas como o facto simultâneo de poucos, ou mesmo muito poucos, serem capazes de seguir o mínimo dos seus passos e do seu legado.
Talvez, se cada um de nós olhar para as nossas vidas poderemos encontrar os nossos pequenos Mandelas e/ou Ghandis.
Da minha parte sei que nasci, como dizemos em Portugal, com o rabo virado para a lua.
Tive na minha infância, talvez mais do que um Mandela e um Ghandi.
Nesse campo, uma das figuras que me marcou foi o meu avô António.
Tinha eu uns 10 anos, lá para 1983, tempo em que ainda não se falava de reciclagem, alterações climáticas e dos malefícios do plástico, o meu avô já fazia questão de lá na quinta, fazer fogueiras para queimar os restos das podas das árvores onde adicionava uma garrafa de plástico para me mostrar no dia seguinte que tudo se tinha reduzido a cinzas e matéria orgânica exceto o plástico que embora mais retorcido e queimado lá continuava por inteiro.
Esse mesmo avô António, que tinha sido da Marinha e era proprietário de uma pequena quinta nos arredores de Lisboa, tendo por isso uma vivência completa de tudo aquilo que são os fenómenos da natureza e do impacto que o homem tem na mesma, repetidamente contava aos seus 16 filhos e cerca de 40 netos a sua experiência em plantar uma nogueira na entrada da sua quinta.
No dia em que plantava a sua nogueira à entrada dessa pequena e memorável quinta, um homem passava e comentou:
“O Senhor está a plantar uma Nogueira? Julga que alguma vez vai comer um noz dessa árvore?”
(naquele tempo, uma nogueira demorava cerca de 40 anos a dar frutos)
Ao qual o meu avô prontamente respondeu:
“ Se eu não comer, comerão os outros que virão depois de mim”
E para nós, netos e filhos, o meu avô António resumia assim este acontecimento:
“Se todos pensassem como aquele homem nunca ninguém teria comido uma noz”.
Em tempos de pandemia e de extremas dificuldades a que a nossa sociedade já não estava habituada ou desconhecia por completo, tempos esses que nunca imaginámos que poderíamos viver, seria bem melhor que cada um de nós, a começar por todos aqueles que nos governam, encontrassem nas suas vidas o desprendimento, desapego e a coragem para aplicar nas suas decisões os exemplos de todos os Mandelas e Ghandis das nossas pequenas e insignificantes vidas.
Sem esquecer que esses exemplos são a capacidade de pensar no próximo e na construção de um legado que seja eterno para todas as futuras gerações mesmo que ponha em causa um futuro de curto prazo baseado em interesses circunstanciais e de carácter mesquinho e partidário.
Resumindo. Respeitar a memória de um Mandela ou de um Gandhi não passa por homenagens vãs ou cerimónias de exaltação.
Passa pela coragem de seguir no dia a dia toda a sua determinação e desapego ao poder, para que assim talvez tudo possa verdadeiramente ficar melhor…