Entrevista/ “Os departamentos de RH precisam de ferramentas de retenção de talento”

O IT People Group desenvolveu uma plataforma a pensar na retenção de talento, a Talent Tiers. Em entrevista ao Link To Leaders, Eduardo Vieitas, presidente da empresa, sublinha que o programa nasceu de uma necessidade interna e que a sua utilização mostra como a inovação aumenta a motivação dos colaboradores e o compromisso destes com as organizações.
Começou com três pessoas e hoje, passados 10 anos, fazem parte da IT People Group mais de 130 em Portugal e no Perú, e divididas pelas diferentes empresas que compõem o grupo: People Innovation, focada em consultoria IT em nearshore, outsourcing e gestão de talento; NextReality, uma empresa especializada em soluções Web. Mobile, Realidade Aumentada; e a BigAR, centrada no desenvolvimento de soluções de gestão para o nicho das trading card games.
O porgrama Talent Tiers, baseado na tecnologia blockchain, é a mais recente aposta do grupo que inclui o software e o know-how de retenção de talento existente na IT People Innovation: um consultor especialista (Game Master) ajuda na criação de desafios, dinâmicas de grupo e recompensas que tirem o maior partido da tecnologia e alinhem toda a equipa com os objetivos da organização.
Falámos com Eduardo Vieitas, presidente do IT People Group, sobre este programa, o balanço dos 10 anos de atividade e ainda dos projetos para o futuro que passam por reforçar o posicionamento do grupo como parceiro tecnológico para as médias e grandes organizações, tanto na Europa como na América do Sul.
Em que é que consiste o programa Talent Tiers?
É um programa de retenção de talento que desenvolvemos inicialmente para resolver o nosso próprio problema de retenção de talento. Como os resultados foram animadores, lançámo-lo como oferta comercial em maio passado. É um programa único porque reúne a tecnologia blockchain, inteligência artificial e técnicas de gamificação para gerar um salário emocional a cada colaborador. Neste momento do mercado, acredito que todos os departamentos de recursos humanos de médias e grandes empresas precisam de ferramentas de retenção de talento e gestão da mudança, e aí o Talent Tiers pode ajudar.
Como funciona?
É muito simples: as empresas estabelecem os seus objetivos/missões para o programa e, juntamente com a nossa equipa, criam desafios estratégicos para toda a equipa. Esses desafios são depois gamificados e podem gerar recompensas para cada colaborador e uma dinâmica própria, que inclui leilões, compras coletivas ou inclusivamente dinâmicas entre os próprios colaboradores, sem intervenção da organização entre si. Como referi, é único na medida em que não se foca em prémios, mas sim nos valores da equipa, criando uma maior proximidade com a organização e com os seus princípios.
“Todas as organizações com mais de 100 colaboradores e com desafios de retenção de talento podem beneficiar do Talent Tiers”.
O programa foi numa primeira fase implementado nas empresas do IT People Group, mas está neste momento a ser implementado noutras organizações. Que tipo de organizações são estas e quais os objetivos?
Todas as organizações com mais de 100 colaboradores e com desafios de retenção de talento podem beneficiar do Talent Tiers. Naturalmente, empresas com maior complexidade estrutural e com objetivos mais ambiciosos podem beneficiar mais, dado que o Talent Tiers facilita a mudança de comportamentos e a comunicação interna.
Na sua opinião, o que mais contribui para o aumento da motivação dos colaboradores e o seu compromisso com as organizações nos dias de hoje?
A retenção já não ocorre essencialmente pela componente financeira. É importante para as organizações darem algo a cada colaborador que ele valorize e que não encontra noutra empresa. São estes “pequenos detalhes” que devemos de procurar, entender e integrar no Talent Tiers, e que poderão fazer toda a diferença em reter um talento. Temas como colaborar em causas sociais, trabalhar para objetivos criados coletivamente ou ter um ambiente de crescimento de competências ao seu redor são a estrutura desse salário emocional. Mas somos todos diferentes – é nessa individualidade que está o desafio de retenção, bem como a força de qualquer equipa.
É mais fácil reter talentos portugueses ou estrangeiros?
Não encontro uma relação direta: novamente, temos indivíduos únicos com os quais temos de comunicar e qualificar o que cada um valoriza. Só dessa forma conseguimos criar algo que eles não encontram noutra organização.
“Começámos com 3 pessoas e hoje somos mais de 130 em Portugal e no Perú; domos uma das melhores empresas para trabalhar nos últimos 2 anos e queremos mais este ano”.
No início deste ano a IT People Group celebrou 10 anos de atividade. Que balanço faz?
Tem sido um percurso motivante, repleto de inovação. Começámos com três pessoas e hoje somos mais de 130 em Portugal e no Perú; fomos uma das melhores empresas para trabalhar nos últimos dois anos e queremos mais este ano; somos os primeiros Microsoft Gold Partner com trabalho publicado em português para Microsoft Hololens; e finalmente, posso dizer que hoje somos três empresas onde todos partilham o mesmo compromisso: inovação. Por isso, os nossos clientes enquadram-nos como parceiro de transformação digital, porque este desafio permanente de inovar cria oportunidades fantásticas para o negócio dos nossos clientes. E o nosso objetivo estratégico é continuar nessa senda.
“Hoje somos dos maiores produtores de soluções de Realidade Aumentada e Mista em português. Temos uma solução única e diferenciadora na área da Manutenção Indutrial & Formação com realidade aumentada e estamos a avançar com uma aplicação única de Blockchain na área dos Recursos Humanos, o Talent Tiers”.
Qual a área de aposta e mais representativa para o grupo?
Estamos sempre a pensar no que vem a seguir e como podemos fazer crescer as nossas soluções para o atingir. Hoje somos dos maiores produtores de soluções de Realidade Aumentada e Mista em português. Temos uma solução única e diferenciadora na área da Manutenção Indutrial & Formação com realidade aumentada e estamos a avançar com uma aplicação única de Blockchain na área dos Recursos Humanos, o Talent Tiers. A nossa aposta não é numa tecnologia, é neste método de inovar constantemente e trazer mais-valias contínuas aos nossos clientes e parceiros.
“(…) temos um cliente peruano que presta serviços de manutenção a equipamentos industriais por toda a América Latina”.
Com capacidade de resposta a nível global, a IT People tem no seu leque de clientes tanto marcas internacionais de grande dimensão como start-ups? Pode destacar alguns destes clientes que sejam case studies para a empresa?
A diversidade do nosso grupo permite-nos ter acesso a um leque variado de clientes. Por exemplo, no caso da BigAR, os nossos clientes são o consumidor final (B2C) e contamos com mais de 50 mil jogadores/colecionadores de TCG (Trading Card Games) a nível mundial. No contexto B2B, temos uma história forte de transformação digital nos processos dos nossos clientes. A título de exemplo, temos um cliente peruano que presta serviços de manutenção a equipamentos industriais por toda a América Latina. Sempre que surgiam problemas inesperados nos equipamentos em países sem técnicos locais disponíveis, surgiam igualmente os custos de deslocação urgente, de estadia e de oportunidade, para além dos prejuízos decorrentes da paragem do equipamento sofridos pelo cliente.
Ao implementarmos uma solução de manutenção remota através do Microsoft Hololens, garantimos que a intervenção seja realizada no momento, sem incorrer nestes custos e acelerando a entrega do serviço. Ou seja, o retorno do investimento inicial foi muito rápido e bastante óbvio para a empresa, que assim se sentiu mais segura em realizar o investimento em hardware, software e formação.
Quanto representa Portugal para a faturação do grupo? E qual o pais que tem mais representatividade?
Naturalmente, Portugal ainda desempenha um papel no nosso negócio, mas existe uma representatividade crescente dos clientes internacionais, quer através do nosso negócio de nearshore, quer através do nosso escritório no Perú. A nossa estratégia passa por internacionalizarmos as nossas soluções e inovação e dinamizarmos cada vez mais os nossos clientes e parceiros internacionais.
Portugal já é reconhecido como um dos países que fabricam melhores engenheiros a nível mundial? Quais os grandes desafios que se colocam?
Novamente, a retenção e desenvolvimento desse talento. Num mundo repleto de tecnologia, o nosso grande foco deve ser colocado nas pessoas e no percurso delas.
Projetos para o futuro? Que outros países estão no horizonte?
Temos vários projetos que iremos revelar no próximo semestre e que irão mostrar novas tecnologias, novas competências e, sobretudo, reforçar o nosso posicionamento como parceiro tecnológico para as médias e grandes organizações, tanto na Europa como na América do Sul. Somos um parceiro que faz a diferença, porque cria oportunidades de crescimento aos seus clientes através da tecnologia, a nível global. Por isso mesmo, o crescimento para novos mercados é um objetivo estratégico.