Opinião

O vírus do vírus: “eco-inconsciência” durante a crise pandémica

Alexandre Amorim, vice-presidente da Associação Começar Hoje

Contra a lógica do encerramento de grande parte dos serviços e da consequente redução na produção de resíduos a nível global, fecharam-se cafés e restaurantes, abriram-se os frigoríficos e as ruas, atoladas de descartáveis à moda da pandemia.

O desperdício é o mesmo, só “muda o cheiro”. Apenas a título de exemplo e à custa disso, uma cidade como o Porto conseguiu reduzir cerca de 800 toneladas de lixo por semana durante o confinamento obrigatório, mas demorámos pouco tempo a compensar a profunda inspiração pulmonar terrestre e esse é o real vírus do vírus: Os resíduos são, agora, produzidos em casa e à mesma proporção.

Faltou o quase…

As grandes empresas, focadas na sustentabilidade e aniquilação dos plásticos nas mais variadíssimas formas, entraram em 2020 confiantes de que este era o ano… mas não foi, pelo menos ainda.
Vejamos os casos de empresas como a Tesco e a Waitrose que, logo na viragem do ano, anunciaram que iriam deixar de usar este material tão prejudicial nos seus produtos embalados. Tudo o COVID19 mudou.

O altruísmo que parecíamos ter para com o futuro e as próximas gerações, rapidamente se sucumbiu à falsa necessidade de uma resposta generalizada e barata – o bom do plástico.
Máscaras descartáveis, recipientes para desinfetantes e o próprio packaging do packaging que envolve todo este veneno ambiental. Falamos de recuos avassaladores no que diz respeito à utilização do plástico para quase tudo, com a desculpa de que nada é tão resistente como, nada é tão barato como e nada é tão versátil como.

Regressamos à era do “pau para toda a colher” ou direi, plástico para toda a colher?

E é fácil de explicar, como nos diz Mick Clark, Sales Director da empresa especializada em packaging WePack: “It can be made more flexible or rigid according to the pack style that you want. You can order it low or high density, low slip, high slip, which means that they put additives into the PE that allow it to work better for different applications. PE is a very useable film.”

É caso para perdemos a esperança? Claro que não, apenas passámos de lebre a tartaruga, mas continuamos na corrida e a meta mantem-se à mesma distância de sempre – uns metros de inovação e outros tantos de eco-consciência.

Não podemos, na minha opinião, deixar a utilização por completo dos plásticos enquanto não for criado um substituto totalmente viável ecologicamente, até porque a nossa adaptação enquanto consumidores é gradual e a consciencialização anda de braço dado com esta adaptação.

Se pensarmos no cartão: é barato e adaptável, mas substitui na totalidade o propósito do plástico, na sua robustez ou resistência? (Vamos à fase um de todo o processo: aceitação) NÃO.

Mas, aceitando que ainda não há uma solução que substitua por completo este mal global criado por nós, podemos olhar para a o lado ecológico de cada um destes produtos reinventando o propósito dos mesmos e dando lugar aquilo que acredito sermos todos dotados de: liberdade criativa.

Recuámos, mas não parámos, a velocidade é outra, mas vamos crer na ideia de que a essência não se perdeu. E é aqui que agradecemos à liberdade criativa da nossa eco-consciência.

Temos a esperança, manifestada aos mais altos níveis e globalmente que a tecnologia nos ajude a ultrapassar as barreiras na adoção de materiais mais sustentáveis e ecológicos. Mas temos de ter em conta que poderemos estar sempre limitados, quer pelos objetivos, quer pelo mercado, segmento ou mesmo pelos destinatários dos projetos.

Daí que novas pessoas nos projetos tragam ideias “fora da caixa”. Quanto maior for o nosso conhecimento do problema, mais limitada se encontra a nossa liberdade para criar. Dou um exemplo fantástico: o Infinite Book. Criado em Viseu, por uma empresa 100% portuguesa, torna um objeto tão simples – o nosso bom velho amigo, bloco de notas – em algo infinito. Mesmo. Limitando em muito o desperdício de papel, neste caso. Soluções como estas são geniais e mostram que é possível.

Ultrapassar estes obstáculos pode não ser a tarefa mais fácil, mas é claramente gratificante. Até porque, “liberdade criativa” não deixa de ser a ilusão evidente de alguém que não aceita as conceções estabelecidas, desafiando-as, indo assim mais longe estimulando a sua superação.

Por isso mesmo, demonstrar a estas novas gerações de futuros profissionais que, para além da sua tarefa diária de trabalho, devem acima de tudo ser livres de criar, de pensar, de encontrar novas e diferentes formas de fazer o que acharíamos não poderia ser reinventado é fundamental. Até porque, convenhamos, serão eles o futuro e recai nos seus ombros o peso dos anos futuros e do seu enquadramento mundial.
Esta é parte da missão da Associação Começar Hoje!

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