Opinião

O regresso ao trabalho depois das férias: oportunidade ou rotina?

Alexandra Andrade, country manager da Adecco Portugal

Setembro e, para muitos, julho ou agosto, marcam uma espécie de “reset” natural. Paramos, descansamos (ou tentamos), olhamos com mais distância para o trabalho e para a forma como o vivemos. E quando regressamos, temos uma escolha a fazer: voltamos à rotina ou aproveitamos o momento para recomeçar com intenção?

Gosto de pensar no regresso ao trabalho não como uma linha de continuidade, mas como um ponto de inflexão. Uma oportunidade estratégica para realinhar prioridades, desafiar hábitos instalados e, acima de tudo, reaproximar as equipas do propósito coletivo. Num mundo tão volátil como o que vivemos hoje, esta reflexão não é um luxo, é uma necessidade.

Vivemos tempos de enorme imprevisibilidade: a tensão entre as potências globais, a inflação persistente na Europa, as taxas de juro elevadas e a instabilidade política em vários países (incluindo o nosso) afetam diretamente a confiança das empresas, o comportamento dos consumidores e, consequentemente, a vida das pessoas. Não podemos ignorar este contexto quando falamos de liderança.

A incerteza económica está a tornar-se o novo normal. Segundo o World Economic Forum, mais de 80% dos líderes globais acreditam que 2025 será marcado por maior volatilidade do que 2023. E é neste ambiente que lideramos, contratamos, motivamos e fazemos crescer equipas.

Por isso, o regresso ao trabalho depois das férias é mais do que retomar tarefas. É olhar para o futuro próximo com a pergunta certa: como posso dar clareza e segurança às minhas equipas, sem lhes retirar autonomia?

Enquanto líder, acredito profundamente no valor da escuta ativa. Às vezes, um café informal no regresso vale mais do que uma reunião formal com slides e objetivos. É nesse reencontro, muitas vezes silencioso, que percebemos como está a equipa e onde ela pode e quer chegar.

Se há algo que aprendi ao longo do tempo é que os líderes não têm todas as respostas, mas devem sim criar as condições para que as perguntas certas sejam feitas. E uma das perguntas mais poderosas que podemos lançar nesta altura do ano é: o que faria diferente se começássemos do zero?

Este é, para mim, o verdadeiro sentido do recomeço: não se trata de apagar o que ficou para trás, mas de nos libertarmos das repetições automáticas. É também aqui que o papel do líder evolui, de alguém que organiza e controla para alguém que facilita e inspira.

Cada vez mais acredito numa liderança ao serviço dos outros. Uma liderança que reconhece o talento, que dá espaço para crescer, que acompanha sem oprimir. E que entende que o bem-estar não é antagónico à performance é, aliás, o seu combustível mais sustentável.

Vivo este regresso com essa ambição: olhar para os desafios económicos do país e do mundo com lucidez, sim, mas sem nunca perder a confiança no poder das pessoas e das equipas. Porque são elas, e não os ciclos políticos ou financeiros, que todos os dias fazem a diferença.

Se há algo que este momento nos permite é isso mesmo: recomeçar com intenção. Com mais escuta, mais foco e mais coragem. E com a certeza de que liderar é, antes de tudo, servir.

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Alexandra Andrade

Alexandra Andrade

Alexandra Andrade é CEO da Adecco Portugal, com mais de 20 anos de experiência na área de Recursos Humanos, é licenciada em Sociologia, com especialização em Criminologia, tem um MBA e é coacher desde 2016. Iniciou a sua carreira em 2002 como Senior Consultant e passou por algumas empresas da área de Recursos Humanos. Em 2008 começou a sua carreira de liderança. Internacionalizou a sua carreira profissional, em 2017, no Grupo Adecco em Espanha como responsável pela marca Spring Professional,... Ler Mais..

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