Opinião
O que nos traz a segunda metade de 2021?

A economia global vai viver vários anos de crescimento acima da média à medida que recupera da crise pandémica, apoiada pela vacinação e pelas políticas monetárias e fiscais acomodatícias.
As perspetivas económicas globais são fortes. Porém, as divergências entre as zonas onde a vacinação começou mais cedo e onde ainda está a começar, entre as economias desenvolvidas e emergentes e entre os setores da indústria e dos serviços, são pontos-chave.
Apesar de ter em conta que os cenários de downside podem pesar sobre o crescimento e sobre a inflação, o equilíbrio geral dos riscos é positivo. Relativamente à inflação conclui-se que poderá subir mais do que se espera, se continuarem as disrupções nas cadeias de distribuição e se estas passarem para os salários e preços. O crescimento pode ser maior se os sintomas de crise forem evitados.
Muitos bancos centrais, incluindo a Federal Reserve, vão procurar retornar gradualmente a política monetária a uma configuração mais normal. Outros, como o Banco Central Europeu e o Bank of Japan, vão demorar mais tempo.
A meio do ano, as perspetivas económicas são positivas, em grande medida devido aos significativos pacotes de estímulos económicos ao longo do ano passado. Contudo, todo esse crescimento pode ter um preço.
A inflação mais alta é um dos principais riscos a meio do ano, o que torna importante preservar o poder de compra, depois do verão, chegará o verdadeiro teste para a inflação. Será nessa altura que os efeitos de base se desvanecerão e que os mercados se vão centrar nos fatores estruturais e na comunicação dos bancos centrais.
À medida que os EUA, a zona euro e o Reino Unido continuam a avançar com a reabertura das suas economias, a atividade económica vai recuperar em força na segunda metade de 2021. Um movimento impulsionado pela enorme procura acumulada e pelo efeito retardado dos massivos estímulos monetários e fiscais.
Não obstante, no resto do mundo, o ritmo de vacinação está a ser mais lento. Sobretudo nos mercados emergentes como a Índia, o Brasil ou a África do Sul. Por isso, ainda que a recuperação mundial continue vigente e robusta, será mais desigual do que prognosticavam há três meses. Se a vacinação acelerar nos emergentes que ficaram para trás, estas divergências poderão desvanecer-se nos próximos trimestres. Mas, atualmente, as suas perspetivas contemplam mais alguma variabilidade no comportamento económico.
Os consumidores e as empresas, que dispõem de uma grande liquidez, estão dispostos a gastar. E isso acelera a recuperação.
O estímulo fiscal e o aforro forçado durante a pandemia acarretam um forte aumento da procura das famílias e das empresas em 2021. Isto está a criar pressões inflacionárias transitórias devido à insuficiência da oferta de semicondutores, transporte (terrestre e marítimo), materiais de construção e certos metais vinculados à transição energética (cobre, cobalto, etc.). Nos Estados Unidos, o problema agrava-se devido à escassez de mão de obra (subsídios de desemprego mais generosos).
Não se vê no horizonte nenhuma subida de taxas nem na zona euro, nem nos Estados Unidos antes de 2023. Além disso, vão continuar com os seus programas de compras de ativos. Não obstante, em agosto, na reunião de Jackson Hole dos banqueiros centrais nos Estados Unidos, o tapering poderá voltar a estar na agenda.
Os consumidores serão os protagonistas. As operações digitais não vão desaparecer, já que os consumidores vão experimentar a eficiência dos pagamentos online. Por outro lado, os modelos de trabalho e aprendizagem híbridos vieram para ficar e algumas atividades da era pandémica registaram um declínio (como os videojogos), mas espera-se que as viagens e as atividades sociais aumentem.
Durante a segunda metade de 2021, o aumento do emprego, os efeitos positivos sobre a riqueza de um mercado imobiliário resiliente e as taxas de juro reais historicamente baixas, vão impulsionar o consumo e os investimentos.