O que mudou no protocolo empresarial desde a pandemia

Quando em 1997 publiquei “Imagem e Sucesso – Guia de protocolo para empresas”, a minha intenção era que o livro fosse útil e interessante para quem nas empresas se ocupava das questões do ordenamento e da organização de eventos. O livro teve até hoje nove edições sempre atualizadas. Ou, como se costuma dizer, revistas e melhoradas.[1]

Em 2020 começou uma pandemia mundial que, além de dizimar milhares de pessoas, obrigou toda a gente a isolar-se em casa durantes meses. As empresas só puderam continuar a trabalhar através das novas tecnologias, com os colaboradores à distância ou, sendo fundamental a presença de alguns no local de trabalho, esses tinham de respeitar medidas rigorosas de segurança sanitária, sendo uma delas o uso de  máscaras e outra a distância entre si. Terminado o confinamento e encontradas as vacinas, tudo podia voltar àquilo que foi logo denominado a “nova normalidade”.

Muitas empresas chegaram a conclusão de que obrigar as pessoas a regressar ao local de trabalho anterior podia não fazer sentido. Que muito se conseguia produzir mesmo à distância. E surgiram os “nómadas digitais”. Que  são profissionais que aproveitam a tecnologia atual para trabalhar remotamente, permitindo-lhes viajar e viver um estilo de vida independentemente da sua localização. Por vezes têm reuniões presenciais e mesmo no seu dia a dia podem surgir dúvidas sobre as regras que se mantém em vigor e quais a que deixaram de fazer sentido.

O mundo empresarial  mudou radicalmente desde a pandemia. E, como é óbvio, o comportamento, o vestuário, as formas de comunicação também mudaram. Hoje as pessoas vestem-se para trabalhar e estabelecem contacto umas com as outras maioritariamente através das novas tecnologias de uma forma mais informal.

No entanto, o protocolo empresarial continua a ser um instrumento muito útil para se continuar a produzir boa impressão seja nas chefias, seja nos congéneres, seja para promover um bom ambiente dentro do local de trabalho. Algumas regras caíram em desuso, mas foi preciso estabelecer novas regras, igualmente baseadas no bom senso, boa educação e bom gosto, para que a imagem projetada pelas empresas e por todos os seus elementos que entram em contacto com o público continue a ser positiva.

Nas altas instâncias oficiais as regras mudaram menos, mas também se passou a privilegiar o correio eletrónico e os encontros digitais mesmo internacionalmente. Por exemplo, o convite impresso nos termos tradicionais personalizado com o nome do destinatário manuscrito é agora digitalizado e enviado pelo correio eletrónico como anexo. Continua a haver, no caso do Protocolo de Estado, um prévio contacto telefónico para saber se os convidados estão disponíveis naquela data. Esse contacto sempre foi utilizado para os convidados não se esquecerem da data  do convite, caso os correios se atrasassem. E caso não estivessem disponíveis, nem se chegava a mandar o convite.

Na parte da organização de eventos empresariais, as regras sobre a colocação de bandeiras, constantes do Decreto-Lei nº150/87,  de 30 de março, continuam em vigor e, como sempre foi matéria que suscitou muitas dúvidas na sua interpretação, estão amplamente exemplificadas no livro.

Havendo a presença de altas entidades num evento empresarial, continua a ser necessário cumprir as regras de precedência impostas pela Lei nº40/2006, de 25 de agosto, cujo artigo 7.º, com a lista ordenada das altas entidades entre si, como se encontra igualmente reproduzida no livro. Em grandes empresas, em eventos públicos sem presença de altas entidades, o assentamento continua a ser feito, respeitando a hierarquia definida nos respetivos estatutos.

Algumas regras mudaram, mas o conhecimento de protocolo empresarial continua a ser essencial, seja para quem inicia a sua carreira profissional, seja para quem organiza pela primeira vez uma inauguração, um centenário ou outro evento empresarial.

[1] I. Amaral “Imagem e Sucesso – Guia de protocolo para pessoas e empresas”, Casa das Letras 2017.