Opinião
O que faz prosperar um país?

Muitos países, com condições “objetivas” de prosperar, estão encalhados num caos e desordem. Vejo-os na África, na Ásia, na América Latina…O que faz falta para saírem do atoleiro e avançarem? Parece que têm quase tudo quanto é necessário. Mas, talvez lhes falte algo fundamental: o saber criar hábitos de convivência, definindo as regras de jogo, e seguindo-as à risca, mesmo quando não nos favorecem.
Falta talvez um esboço de organização e os princípios norteadoras do funcionamento, votado e aceite por todos os cidadãos. Ele irá tomando forma, completando-se, para dar resposta às questões emergentes. A Constituição de qualquer país aponta para isso: organizar a participação para escolher os representantes que irão legislar e/ou governar o país. E o que ficou definido e votado é para aceitar sempre, quer se ganhe ou se perca.
Talvez, naqueles países “encalhados” não se saiba aceitar uma derrota como algo transitório, para se descansar e pensar nas próximas eleições, com propostas que encarem o bem do povo, com criação de riqueza e trabalho.
Subjacente ao conviver, cada cidadão deve desenvolver uma atitude de serviço à sociedade, em ambiente de franca colaboração, para que haja eficiência nos esforços e sinergias na criação de valor.
O Governo a formar de acordo com a lei, deve velar pelo fortalecimento das Instituições, garantir a paz social, prover os cidadãos dos serviços básicos necessários ao progresso das pessoas e do país, como a educação a todos os níveis, o acesso generalizado aos serviços de saúde, uma segurança eficaz para garantir a integridade pessoal e a administração da justiça, com a celeridade possível, para reduzir desmandos.
Numa viagem profissional a Singapura, há uns anos, algumas coisas me chamaram a atenção:
- Disseram-me que é o país de “zero corrupção”, coisa que ouvi com certo desdém, perguntando-me se haveria algum país assim. Depois, tive a evidencia de que tudo ia nesse sentido, pois no táxi que apanhei, quis deixar uma gorjeta, como é habitual…E o condutor disse-me terminantemente: o senhor tem de pagar o valor do meter e nada mais. E comecei a convencer-me de que havia algo diferente…
- Tinha uma reunião, o tempo era muito curto e o meu anfitrião sugeriu-me que almoçássemos na cantina universitária. Outra surpresa: não estava habituado a serviços públicos tão limpos, com uma refeição bem preparada, com boa apresentação e bom sabor.
- E depois, o ambiente de trabalho da reunião: preparação prévia para não se perder tempo, nem fazê-lo perder aos outros, com uma agenda preparada…
- Visitei um pavilhão com uma exposição fotográfica de Singapura no momento da sua independência e os dados de renda per capita, etc… e, em paralelo, as fotos e dados “de hoje”, na altura da minha visita. Aquando da formação de Singapura, teria a mesma capacidade de criar riqueza que todos os países explorados pelo colonialismo, o qual deixara as colónias “de tanga”. Mas que diferença com os dados da altura da minha visita! Esse “pequeno” país era dos mais ricos, a nível dos melhores do nosso planeta! E muitos outros países colonizados estavam como nos tempos dos colonizadores: paupérrimos…, incapazes de se organizarem e seguirem as regras definidas, matando-se uns aos outros.
- A cidade muito limpa, sem pontas de cigarro no chão nem papéis e as pessoas a circularem e a atravessarem as ruas, apenas pelas zonas de peões e somente nelas. Boa organização, forte disciplina, pareceu-me. Terei visto muitos polícias em função (atentos ao que se passava à volta).
E o ambiente de ordem faz interiorizar a exigência pessoal para viver de acordo com as normas aceites pela sociedade, levando ao sentido de responsabilidade no cumprimento dos deveres profissionais. Nas famílias aprende-se a cultura da excelência que o Estado promove…
E entende-se bem como Singapura conseguiu acumular experiência em serviços de altíssima qualidade, a ponto de muitos países, à sua volta ou longínquos, procurarem o seu apoio de consultoria, na conceção e gestão dos portos, dos aeroportos, dos serviços de saúde, como os hospitais, nos serviços financeiros, nos serviços de arbitragem, em caso de litígios, etc.
Uma pessoa amiga comentou-me que a população não aceita ficar na mediocridade. Quer a excelência nos serviços, na qualidade dos produtos e, sobretudo, na prestação dos dirigentes políticos. Fez-me pensar como a integridade dos dirigentes nos níveis mais altos da hierarquia política vai influenciando em cascata, os dirigentes situados nos sucessivos níveis inferiores.
A exemplaridade dos atos fala para todos, e quando corroborada pela atuação rápida dos meios de justiça contra qualquer delito, deixa um claro aviso, que é educativo para o povo. Só assim é possível canalizar todos os recursos e as forças produtivas do país para criar a máxima riqueza para todos e cada membro da sociedade.
Não tenho dúvidas de que a transparência nos processos e nas adjudicações dos concursos é cuidada. Bem assim, para reforço da exemplaridade, o prestar de contas ao pormenor, dos atos de gestão.
*Professor da AESE-Business School, do IIM Rohtak (Índia) e autor do livro “O Despertar da Índia”