Entrevista/ “O principal desafio para o setor proptech é a confiança”

Apresentada oficialmente na semana passada, a Sherlock é uma plataforma imobiliária que quer revolucionar a maneira como se compra e vendem casas em Portugal. Um dos seus fundadores, Phil llic, explicou ao Link To Leaders o modelo de negócio e as ambições deste projeto proptech no mercado nacional.
Depois de ter feito um “soft launch”no ano passado, durante a Web Summit 2018, a Sherlock entrou oficialmente no mercado. Concebida por quatro empreendedores britânicos – Chris Wood, James Coop, Philip Ilic e Tariq El Asad – esta plataforma imobiliária anunciou o lançamento de uma ferramenta de inteligência artificial de avaliação instantânea de propriedade para vendedores.
O projeto quer revolucionar o mercado imobiliário tradicional ao retirar a comissão baseada em percentagem que, até ao momento, é o padrão neste setor de atividade. Preços mais baixos e um nível mais elevado de satisfação o cliente é o objetivo da Sherlock. Nos próximos meses, a proptech irá lançar novas funções tecnológicas para que o processo de venda ou compra de propriedade seja ainda mais simples e acessível. Philip Ilic traçou o perfil do projeto que ajudou a criar e falou das ambições de liderança.
Como nasceu o projeto Sherlock? Quem são os seus fundadores?
O projeto foi concebido quando os quatro co-fundadores se juntaram e conversaram sobre as suas experiências quando compraram ou venderam propriedades em Portugal. Geralmente, ficávamos muito insatisfeitos com o serviço de oferta e, especialmente, o custo muito elevado da venda de um apartamento. A indústria imobiliária em Portugal geralmente cobra 5% mais IVA, que equivale a 16 mil euros de taxas, em média, por casa em Lisboa.
Consideramos que este não seria um preço justo tendo em conta que refletia o baixo valor de oferta. Desde então surgiu a nossa missão para iniciar uma empresa com foco na verdadeira experiência do cliente, encontrar formas inovadoras e utilizar a tecnologia para diminuir taxas de transação.
Acreditamos que estamos no caminho certo para atingir estes objetivos com as nossas avaliações consistentes de 5 estrelas e pelo facto de pouparmos aos vendedores mais de 75% em taxas de transações quando efetuam as suas vendas pela Sherlock.
Nós os quatro, os co-fundadores [Chris Wood, James Coop e Tariq El Asad] temos experiências muito distintas que trouxemos connosco e que utilizámos para a construção da Sherlock como uma empresa de sucesso. Individualmente, estivemos envolvidos ou iniciámos diferentes negócios, desde os tradicionais até às agências imobiliárias, e-commerce, retalho, hotelaria até ao entretenimento. Estas experiências passadas de negócios baseados em tecnologia até aqueles focados no cliente, dão-nos as bases e a ambição para construir a Sherlock como uma das maiores empresas imobiliárias de Portugal, em termos de números de transações, nos próximos três anos.
“(…) oferecemos são soluções tecnológicas que retiram os problemas e o stress do processo de compra e venda.”
A Sherlock afirma-se como uma nova maneira de vender imóveis. Qual a vossa proposta diferenciadora?
O nosso modelo baseado em tecnologia permite a oferta de um elevado nível de atendimento ao cliente com taxas fixas baixas. Este modelo está a percorrer o mundo pelos líderes da indústria e analistas que preveem que empresas imobiliárias online, como a Sherlock, irão ocupar 25 e 50% da indústria. Essencialmente o que oferecemos são soluções tecnológicas que retiram os problemas e o stress do processo de compra e venda. Por fim, o nosso modelo oferece um serviço muito mais elevado por um preço muito mais baixo. É apenas uma questão de tempo até que a indústria tradicional, bastante resistente à mudança devido às suas elevadas taxas e grandes lucros, comece a diminuir e o maior vencedor será o cliente.
Propõem-se simplificar a compra e venda de imóveis através da tecnologia. Têm alguma solução inovadora neste domínio?
No centro da inovação está a tecnologia que estamos a construir, que irá permitir que os compradores e vendedores façam as transações das propriedades a um preço muito mais baixo e justo, e também que o processo seja muito mais simples e intuitivo. Analisámos os pontos mais difíceis na compra e venda de uma propriedade e estamos a desenvolver funções para cada fase que irá aumentar bastante os benefícios para os nossos clientes. Desde a ferramenta de inteligência artificial de avaliação instantânea, que já se encontra disponível no nosso website, às reservas instantâneas para propriedades que um comprador poderá estar interessado em visitar, até às aprovações de hipotecas instantâneas ligadas a bancos. Estas funções, que irão estar disponíveis nos próximos meses, irão dar novamente o poder aos clientes e farão todo o processo muito mais eficiente, transparente e justo em termos de custos.
Queremos tornar a experiência muito mais prazerosa e sem stress, e provar que o que fornecermos resulta na consistência das avaliações de 5 estrelas que as pessoas nos deixam todas as semanas.
Qual é a vossa zona geográfica prioritária?
A nossa prioridade é oferecer os serviços no Porto e no Algarve nos próximos meses, e mais tarde para o resto do país.
Como fica a internacionalização? Está nos planos?
Em 2020, o plano da Sherlock é para expandir-se para o sul da Europa e também para o Brasil.
“Temos como objetivo ter 5% das transações imobiliárias em Portugal anualmente, nos próximos 3 anos.”
Quais as expetativas quanto a resultados?
Temos como objetivo ter 5% das transações imobiliárias em Portugal anualmente, nos próximos 3 anos. Isto representa mais de 8 mil transações e poupanças para o cliente português, de mais de 37 milhões de euros por ano. Algo de que teremos muito orgulho quando o atingirmos.
Enquanto start-up quais têm sido a vossas principais “dores” de crescimento?
Existem sempre muitos desafios quando se inicia uma start-up do zero. Desde uma necessidade constante de financiamento, até à construção de uma nova marca, tecnologia e equipa. Tivemos muitos desafios durante o ano passado, e sem dúvida que haverão muitos mais, mas é esperado e perfeitamente normal.
Estes desafios oferecem também grandes oportunidades para a Sherlock pois podemos re-imaginar o funcionamento da empresa, enquanto que os agentes tradicionais têm uma grande dificuldade em adaptar-se a esta nova onda de mudança que está a afetar globalmente toda a indústria imobiliária.
Estão instalados na Second Home no Cais do Sodré. Como tem sido essa experiência?
O Second Home é um local fantástico para crescer a nossa empresa tendo em conta que oferece bastantes atividades, desde yoga semanal e iniciativas de bem-estar e também outras regalias como bebidas grátis às sextas-feiras, que permite que todos descontraiam e conheçam outras pessoas interessantes em diferentes indústrias.
“Em países como Portugal (…) estes modelos de base tecnológica terão
o maior impacto e vão afetar os alicerces dos agentes tradicionais.”
Como olha para os novos modelos de negócios proptech, fruto da evolução tecnológica?
Existem alguns modelos novos a emergir na área de imobiliárias tecnológicas, desde o modelo com taxa fixa como a Sherlock, até aos compradores que são muito relevantes nos EUA. Todas as tendências acabam por apontar para uma grande mudança a acontecer nesta indústria que, tradicionalmente, tem resistido à mudança. Em países como Portugal, onde as taxas das transações são mais elevadas do que a média, estes modelos de base tecnológica terão o maior impacto e vão afetar os alicerces dos agentes tradicionais. Basta considerarmos o negócio de mobilidade urbana e hotéis: as mudanças nestas indústrias aconteceram num curto período de tempo e mudaram radicalmente a forma como trabalham. O mesmo irá acontecer no setor imobiliário, é apenas uma questão de tempo.
Há mercado para tantos projetos, como os que temos visto nascer no último ano?
Apesar da Sherlock ser a primeira empresa proptech de imobiliário em Portugal, haverá, certamente outras empresas semelhantes que seguirão as nossas pegadas quando virem o nosso sucesso. Temos uma grande vantagem por sermos os primeiros no mercado, mas ainda assim, acredito no mesmo que os líderes da indústria e analistas acreditam: o mercado online imobiliário pode conquistar 25% a 50% da indústria tradicional em apenas alguns anos. Por isso, há espaço para mais do que uma empresa imobiliária online neste país.
As empresas de trotinetes são um bom exemplo, mostrando-nos duas coisas: primeiro, que os portugueses são muito mais recetivos a ideias inovadoras do que alguns analistas previam; e, em segundo lugar, há espaço no mercado para mais do que um concorrente. Nem as trotinetas nem as empresas imobiliárias têm em mente conquistar todo o mercado como a indústria de pesquisa (Google) ou indústrias sociais (Facebook).
De qualquer forma, somos, sem dúvida, a maior empresa imobiliária online em Portugal em termos de transações completas, estamos a crescer rapidamente, e acreditamos que vamos conseguir manter esta vantagem de estarmos primeiro lugar no mercado.
“O maior obstáculo a ultrapassar no nosso setor (…) é ganhar a confiança das pessoas que tentam vender, normalmente, o seu maior património, a sua casa, e por isso querem certificar-se de que escolhem a melhor agência”.
Que desafios se adivinham, no médio prazo, para o setor proptech?
O principal desafio para o setor proptech é a confiança. O maior obstáculo a ultrapassar no nosso setor específico de imobiliária online é ganhar a confiança das pessoas que tentam vender, normalmente, o seu maior património, a sua casa, e por isso querem certificar-se de que escolhem a melhor agência. A nossa estratégia tem sido simplesmente oferecer uma experiência única à medida que crescemos, e a palavra vai espalhar-se de que a Sherlock é uma empresa que entrega o que promete, ou seja, uma elevada satisfação do cliente por uma fração do preço. Até ao momento, temos recebido avaliações consistentes de 5 estrelas de todos os nossos vendedores e à medida que vamos crescendo as pessoas vão-nos recomendar em vez das agências tradicionais. Um desafio em termos de proptech, no geral, é o acesso a bons números de mercado. Noutros países, como o Reino Unido, existem mais bases de dados públicos, o que faz com seja mais fácil a oferta de serviços bons e mais precisos.
Até onde vai a vossa ambição?
As minhas ambições pessoais estão de acordo com as dos meus cofundadores que são colocar 100% da nossa energia a construir a Sherlock como uma das agências imobiliárias mais confiáveis e amadas em Portugal.