Opinião
O poder da empresa social: 5 ações a repensar

Vários estudos internacionais das principais consultoras, apontam que as tendências globais de capital humano para a próxima década serão a da “empresa social”.
Este conceito reside na capacidade de as organizações redesenharem ou reinventarem-se na sua missão e propósito, combinando receita e lucro com uma necessidade emergente e inequívoca de respeitar e apoiar o seu ambiente e o seu ecossistema das partes interessadas ou intervenientes: colaboradores, clientes, fornecedores, parceiros, stakeholders e comunidades locais.
O poder da empresa social reside na sua capacidade de trazer um enfoque humano e humanizado a tudo o que toca, capacitando os colaboradores a trabalhar produtivamente com tecnologia para criar valor duradouro para si próprios, para a sua organização, com impacto nas comunidades locais e para a sociedade em geral.
Talvez o atual momento que vivemos tenha acelerado este caminho para a “empresa social”. Neste contexto, é preciso repensar atitudes, comportamentos e ações nas lideranças corporativas. Partilho convosco algumas, as cinco mais prementes:
- Medir a presença física do tempo passado no escritório
Os líderes devem concentrar-se nos resultados reais e não na presença física. Vivemos a época perfeita para as organizações agarrarem a oportunidade de que pessoas e tecnologia podem caminhar juntos numa interseção perfeita. Resultados reais e criação de valor já não se medem pelo tempo que passamos no espaço físico do escritório, mas como a tecnologia pode “humanizar” o nosso ambiente de trabalho, seja ele em que espaço for.
- Separar rigorosamente a vida profissional e pessoal
A atual pandemia veio colocar à prova isto mesmo. A nossa saúde, liberdade, bem-estar pessoal e da nossa família, em que todos estamos no mesmo risco de contágio e exposição, não pode ser separado da vida profissional. Liderança vulnerável e marca pessoal exigem que se seja aquilo que realmente somos, independente de cargos que se ocupem, somos humanos no trabalho ou na família. Vulnerabilidade é coragem. Ser humano é força, seja no trabalho ou fora dele. Nunca a vida pessoal e profissional, se tornaram tão próximas e indissociáveis, onde o sentimento de empatia, generosidade e compaixão foi tão bem entendido e vivenciado.
- Motivar as pessoas através da compensação monetária apenas
As pessoas movem-se por um propósito e cada vez mais este elemento ganha força. As pessoas precisam de viver aquilo que a autora Laura Otting escreve no seu livro Limitless de consonância, que é composta de “calling, connection, contribution and control“. Em resumo, quando estes quatro elementos estão presentes, vivemos uma vida feliz, cheia de oportunidades, preenchida e com propósito. O dinheiro não é o principal motivador para a maioria das pessoas, embora estas finjam que o é. O dinheiro é motivador se estiver em consonância, com o chamamento ou propósito e a conexão. Por isso, as organizações devem falar do seu objetivo corporativo, incorporando todos os aspetos do trabalho de cada colaborador e como este tem propósito para ambos.
- Avaliar apenas a competência
Reinventar formas de organização, áreas de negócio, formas de trabalho, entre outras, está no topo das agendas dos atuais líderes. As competências são fundamentais, porém pessoas, quando sabem muito, também se tornam menos abertos a mudanças e inovações. Ser competente é uma grande mais-valia, porém é importante estimular o que há além das competências. Estimular o “porquê?” e trazer a discussão e a partilha de mente aberta a novas soluções e visões sobre um mesmo assunto ou problema, são fundamentais hoje, e cada vez mais no futuro das nossas vidas.
- Liderança de comando e controlo
Esta forma de liderança teve o seu reinado. Os novos desafios da liderança no conceito de empresa social consistem em entender a missão e o propósito maior, mapeá-los para dentro da organização potenciando a capacidade criativa de cada colaborador alinhando-o com a estratégia, agregando motivações, expetativas, competências, paixões e propósitos. Se juntarmos a estes desafios, a incerteza atual e futura, onde tudo acontece a um ritmo veloz, um novo paradigma de liderança está a emergir e a que eu chamo de “resilient leadership”. O líder resiliente, traz coragem, humildade, segurança e força que movem montanhas.
Em resumo, saliento três pilares importantes, no caminho para construir o verdadeiro conceito de “empresa social”. 1) Uma organização que não fala apenas de objetivos, mas que incorpora todos os dias, significado em todos os aspetos do trabalho dos seus colaboradores; 2) Uma organização pensada e organizada para maximizar o que as pessoas são capazes de pensar, criar e fazer num mundo dominado pela tecnologia e por grandes incertezas; e 3) Uma organização que encoraja e abraça uma orientação futura, perguntando não apenas o que otimizar para hoje, mas como criar valor amanhã!
Todos as pessoas querem um futuro brilhante nas organizações onde trabalham, querem crescer, profissionalmente e pessoalmente. Querem estar e ser felizes. Melhorar o conforto das suas famílias. As “empresas sociais” entendem que criar um futuro melhor para a empresa está diretamente dependente de construir um futuro melhor para os seus colaboradores. Um ambiente humanizado, onde a tecnologia tem um papel fundamental nesta humanização e não o inverso.É uma equação permanente para estas culturas!