Opinião

O mito da inutilidade

Rui Pedro Alves, CEO do Grupo RUPEAL

Um dos temas de conversa mais recorrentes com grandes gestores – altamente competentes e talentosos, sublinhe-se – tem a ver com o facto de, por vezes, nos sentirmos inúteis.

Confuso? Passemos à explicação: este sentimento de inutilidade está relacionado com o facto de um gestor estar a fazer um trabalho tão bom de gestão que, a meio do processo, acha que a sua presença no seio da equipa se torna dispensável. Fica-se com a sensação de que há tempo livre a mais, que toda a equipa está a funcionar bem, os objetivos são alcançados e que, por via disso, no final do dia a sua utilidade é discutível. Sempre que este fenómeno vem à tona defino-o como o Mito da Inutilidade.

Vários indicadores mostram, aliás, que a boa gestão faz com que haja mais tempo livre. E o que representa ter mais tempo livre quando os resultados são positivos? Significa que a equipa está a funcionar bem, sem bloqueios ou obstáculos, que a máquina segue oleada e os sistemas encontram-se bem desenhados.

Do ponto de vista da gestão, podemos concluir que tudo corre na perfeição, ou seja, este espaço a mais na sua agenda não é revelador de inutilidade no seio da organização.

Tomemos este contexto de sucesso como exemplo: caso o gestor decida afastar-se um pouco da equipa, é possível que a máquina quebre e os problemas comecem a surgir, além das ineficiências que, inevitavelmente, também vão aparecer. De repente, aquilo que funcionava bem começa agora a derrapar.

O gestor que dispõe de tempo livre e está a alcançar os objetivos que definiu previamente funciona, na verdade, como uma mão invisível que marca presença sempre que é preciso desbloquear problemas e lidar com frustrações na equipa. É a sua figura que conseguirá remover os grãos na engrenagem para que a operação volte aos eixos.

Viver esta situação a nível empresarial significa apenas que está a realizar um excelente trabalho junto dos elementos que compõem o seu coletivo. A ausência, acredite, tornar-se-ia um problema.  Por isso, sinta-se útil pois a sua liderança é fundamental para o crescimento da sua empresa.

*Texto escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 em vigor desde 2009.

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