Opinião
O Lado Sombrio da Inovação (e do Poder)

A tecnologia avança a um ritmo avassalador e as figuras que a lideram têm um impacto tremendo no nosso quotidiano. Entre esses protagonistas destaca-se Elon Musk, um nome que ressoa em toda a parte, não apenas pelas suas inovações, mas também pelas suas atitudes e declarações, que frequentemente geram controvérsia.
Nos últimos tempos, Musk tem-se comportado de forma errática, quase como um rapaz cheio de energia e frustrações mal resolvidas, o que se traduz numa postura arrogante e, muitas vezes, injusta para com os outros.
O problema não é apenas a sua personalidade ou maneira de agir. O verdadeiro perigo reside no facto de, ao longo da história, a humanidade ter demonstrado uma grande incapacidade de lidar com o poder excessivo. Musk pode ser um génio da tecnologia, mas a inteligência não é sinónimo de bondade ou de sabedoria. Existe a ilusão de que as mentes brilhantes são infalíveis e que tudo o que produzem é, por definição, benéfico ou correcto. Nada poderia estar mais longe da verdade.
Esta reflexão leva-nos a uma preocupação maior: a Inteligência Artificial (IA). Estamos a treinar máquinas para aprenderem connosco, para reflectirem as nossas capacidades, as nossas decisões, mas também os nossos defeitos e falhas morais. O espelho da IA não filtra o que é bom ou mau; apenas absorve e reproduz (por enquanto). Se os seus criadores são figuras cuja noção de responsabilidade é discutível, que garantias temos de que a tecnologia do futuro estará alinhada com valores verdadeiramente humanos e éticos?
O progresso é inevitável, mas deve ser conduzido com precaução e sentido crítico. Não podemos permitir que a euforia pela inovação ofusque questões fundamentais sobre o impacto da tecnologia na sociedade. Há muito a aprender com os avanços, mas há ainda mais a temer se forem conduzidos sem um verdadeiro sentido de responsabilidade. E, por isso, urge uma discussão séria sobre quem detém o poder de moldar o nosso futuro e que valores estão a ser incutidos na tecnologia que definirá o mundo de amanhã.
Todas as discussões políticas a este nível não surtem efeito. São meras reações na mesma frequência: a política! Ou a política muda, com uma estratégia transformadora, criativa e produtiva, ou será apenas mais política, com valor questionável num mundo onde as leis, fruto dessa mesma política, se tornam apenas instrumentos para escravizar o ser humano, em vez de o desafiar a ser mais. O ser humano, por si só, é ambicioso; uns pela busca de mais riqueza e poder, outros pela busca de serem mais… humanos! Fica o pensamento.
Este é, talvez, o meu mais curto artigo de opinião, mas por vezes mensagens sucintas são mais eficazes e facilmente absorvidas do que longos textos repletos de informação dispersa.
Sou apenas uma pessoa sem grande projecção ou influência, mas vejo o mundo a alinhar-se para um ponto de não retorno e não posso deixar de expressar a minha opinião.
Por vezes, é necessário que surjam figuras como Trump e/ou Musk para abalar estruturas e expor determinadas fragilidades. É preciso ter estofo para tal, mas o radicalismo deve ser aplicado com moderação, não em doses industriais que, para além de afectarem as suas próprias “casas”, acabam por atingir as dos vizinhos e dos vizinhos dos vizinhos.
O poder de certas pessoas, por mais avassalador que seja, não as pode transformar em senhores da razão, tampouco em governantes de territórios sobre os quais não possuem qualquer jurisdição.
Nota: Este artigo não obedece, propositadamente, ao Novo Acordo Ortográfico.
Empreendedor, Programador e Analista de Sistemas, Henrique Jorge é o fundador e CEO da ETER9 Corporation, uma rede social que conta com a Inteligência Artificial como elemento central, e que atualmente está em fase BETA.
Desde sempre ligado ao mundo da tecnologia, esteve presente no início da revolução da Internet e ficou conhecido pela introdução da Internet e das tecnologias que lhe estão associadas em Portugal, sendo um dos pioneiros nessa área.
Passando por vários episódios de desconstrução e exploração das linguagens dos computadores, chegou à criação da rede social ETER9, um projeto que tem conhecido projeção internacional, e que ambiciona ser muito mais que uma simples rede social. Através de Inteligência Artificial (IA) pretende construir a ponte entre o digital e o orgânico, permitindo a todos deixar um legado digital ativo no ciberespaço, inclusive pela eternidade. Fora do espaço virtual, é casado, pai de duas filhas, e “devora” livros.