Opinião

O espírito que não se compra

Rodrigo Gonçalves, Managing Partner da PTG Portugal

Os principais critérios para que os investidores escolham apostar num projeto empreendedor e numa empresa são seguramente o potencial de crescimento, a inovação e a rentabilidade que possam ter.

Os investidores conseguem definir o planeamento estratégico que terá de se implementar avaliando os riscos do negócio, a empresa, o modelo de gestão, os seus stakeholders e a saúde financeira, conseguindo também desta forma ver garantidas as condições mínimas de rentabilidade para investir.

As empresas de capital de risco (venture capital) e os fundos de investimento, por exemplo, avaliam minuciosamente uma ideia, um projeto ou uma empresa, bem como o perfil e o comprometimento dos empreendedores, considerando todas estas variáveis determinantes para avançarem com os seus investimentos.

No entanto este processo de avaliação e seleção de uma ideia, projeto e empresa dura meses e em tempos mais duros, como os que vivemos, o espírito empreendedor tende a ser mais escasso e a não arriscar tanto, não fugindo Portugal a esta regra.

Eu diria – sem nostalgia nenhuma – que alguns querem regredir aos tempos passados onde o empreendedorismo simbolizava o sonho americano, e onde os portugueses, na sua maioria, aspiravam a empregos no setor público para toda a vida.

Isto não quer dizer que os portugueses não gostam da ideia de prosperar trabalhando no seu próprio negócio, mas parece reforçar a ideia de que a segurança laboral e a estabilidade financeira desempenham um papel demasiado importante em tempos de grande incerteza e crise como estes de pandemia.

Portanto, não parece ser de admirar que tantas pessoas evitem os rasgos de empreendedorismo e o risco de promover projetos em detrimento da segurança da função pública.

No entanto esta atitude fortalece o lado negativo e enfraquece o lado positivo de uma onda empreendedora tão necessária em Portugal. Por mais investidores e por mais capital de risco disponível que exista, sem vontade de empreender não se pode fazer nada.

Esta disponibilidade dos fundos de investimento e das empresas de capital de risco em investir é ineficaz se não houver empreendedores que peguem no dinheiro disponível e transformem as suas ideias num negócio lucrativo.

Vários são os empresários de sucesso que vivem a máxima de que é em tempo de crise que se deve investir e é exatamente isso que devemos estimular nestes tempos mais incertos, sempre com as devidas cautelas.

Bem sabemos que a disponibilidade dos governos e as políticas económicas de Portugal não têm ajudado muito, mas também é sabido que, no início da criação e gestão de uma empresa, temos de enfrentar alguns tempos difíceis e desafios que testam a viabilidade do negócio e a resiliência dos gestores e empreendedores.

No entanto os tempos difíceis não precisam de ser negativos e é este paradigma que temos de inverter olhando para os tempos difíceis como uma parte positiva da jornada empreendedora que dará estrutura e corpo a qualquer projeto vencedor. Se em tempos difíceis um projeto empreendedor vencer ele terá, seguramente, uma longevidade em tempos positivos e de crescimento, portanto.

Temos de arriscar e ver nos investidores aliados para o crescimento que, por via das suas apostas, oferecem às PME a possibilidade de se transformarem em grandes empresas garantindo o seu crescimento e sustentabilidade a longo prazo, oferecendo o suporte necessário para garantir uma trajetória segura de rentabilidade financeira.

Os investimentos que estão disponíveis para as start-ups, com alto risco e alta rentabilidade, colocam à disposição de empreendedores os recursos suficientes para conquistarem novos mercados e para poderem arriscar com suporte financeiro, mesmo em tempos de pandemia.

Há, porém, uma variável que pode prejudicar esta tendência criando um caminho divergente e negativo e essa variável é o espírito empreendedor, ou a ausência dele uma vez que o espírito empreendedor não se compra e, portanto, por mais dinheiro que esteja disponível ele ou existe ou não.

Mas como o objetivo é convergir valorizemos os motivos pelos quais devemos abraçar os tempos difíceis e os desafios transformando-os em sucessos e estimulando o espírito empreendedor onde quer que ele exista.

Os tempos difíceis aumentam a resistência empreendedora e persistir neles é o equivalente a treinar os músculos empreendedores. Quanto mais o empreendedor se expõe às adversidades, mais preparado estará para lidar com elas e esta é uma das verdades mais importantes.

Devemos rejeitar os tempos passados de quem se acomodava ao “emprego seguro” e reforçar as apostas nos que pretendem avançar e disponibilizar à economia, à sociedade e ao seu País um dos maiores ativos que têm que é o espírito empreendedor.

E a melhor definição deste espírito empreendedor é a que nos revelou Peter Drucker, numa das suas sábias citações, quando defendeu que “A melhor maneira de se prever o futuro é criá-lo.”

Ajudemos então a criar o futuro acarinhando e estimulando todos os que, com muita paixão, respiram e vivem deste espírito que não se compra… o espírito empreendedor.

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Rodrigo Gonçalves

Rodrigo Gonçalves

Rodrigo Gonçalves nasceu em 1974, em Lisboa. Economista, gestor de negócios, empresário, consultor em liderança e gestão de equipas e um empreendedor apaixonado e resiliente. Licenciado em Ciência Política pela Universidade Lusíada, Mestre em Ciência Política, Cidadania e Governação pela Universidade Lusófona, tem ainda um MBA em Liderança de Pessoas, Organizações e Negócios (pela Universidade Autónoma de Lisboa), uma Pós-graduação em Gestão (pelo Instituto Superior de Gestão), um pós-graduação em "Global Business" (pela Harvard Business School), um Business Course em... Ler Mais..

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