Opinião
O desafio da mudança

As empresas são sujeitas a constantes mudanças ditadas quer por erros do passado, quer por circunstâncias do presente, quer por perspetivas do futuro. Se as empresas não mudam, morrem!
Há um processo ininterrupto de adaptação e transformação que as empresas têm de percorrer, caso pretendam responder aos desafios que o mercado e a conjuntura lhes impõem. Isto obriga as empresas a renovarem sistematicamente a sua organização, os seus procedimentos, os seus produtos, as suas tecnologias e até a sua cultura e valores.
Num tempo marcado pela incerteza, complexidade, insegurança e volatilidade, como o que estamos a viver, a necessidade de repensar e redefinir as empresas é ainda mais premente. De resto, a pandemia de Covid-19 obrigou a grandes mudanças na gestão das empresas. Houve necessidade de recorrer ao trabalho remoto, de reorganizar equipas e processos, de acelerar a digitalização, de encontrar novos canais de vendas e de estabelecer uma nova relação com os stakeholders, por exemplo.
Ainda não totalmente restabelecidas da crise pandémica, as empresas foram confrontadas com outros dois eventos trágicos: a invasão da Ucrânia e o conflito em Gaza. Ora, a efervescência geopolítica que assola o mundo está a causar fortes impactos económicos, desde a perturbação das cadeias logísticas globais ao agravamento dos custos das matérias-primas, da energia e do financiamento.
As empresas estão muito vulneráveis aos riscos quer da tensão geopolítica e das guerras comerciais, quer de outros acontecimentos disruptivos do nosso tempo, como a crise climática, os ataques cibernéticos, o envelhecimento populacional ou as correntes migratórias. Todos estes fenómenos representam enormes desafios para as empresas, a quem é exigido que repensem as suas atividades, processos, atores e modelos de negócio.
Para serem produtivas e competitivas, as empresas devem levar a cabo a chamada dupla transição digital e ecológica. Esta última transição é certamente a mais complexa, uma vez que implica uma profunda transformação das cadeias de valor. Exige-se às empresas um maior compromisso com a descarbonização, a adoção de modelos de negócio mais circulares, uma gestão mais sustentável das matérias-primas e energia e um esforço mais efetivo de redução de resíduos. Para tudo isto, no entanto, é necessário incorporar conhecimento, inovação e talento nas cadeias de valor, de modo a impulsionar uma verdadeira transformação das empresas.
Nas empresas familiares, o desafio da mudança é, por vezes, mais complicado e moroso. Estas organizações são mais atreitas ao chamado “paradoxo do legado”, ou seja, têm uma tendência maior para ficarem presas a rotinas e tradições, perdendo assim o comboio da inovação. Se não há uma constante atualização do legado, as empresas familiares vão certamente perder competitividade num mundo que evolui muito depressa, fruto da imparável dinâmica científica e tecnológica.
Bem sei que, hoje em dia, as empresas familiares adotam modelos de corporate governance modernos e versáteis. Têm conselhos de administração semelhantes aos de quaisquer outras empresas, onde pontificam administradores, e até presidentes executivos e não executivos, que não pertencem à família. Aliás, quando as novas gerações se mostram incapazes de conduzir eficazmente o negócio, começa a ser frequente, em Portugal, a liderança das empresas familiares ser entregue a gestores de fora da família.
Ainda assim, não faltam casos de empresas (familiares e outras) muito relutantes em inovar nos seus processos, estratégias e visões do negócio. Importa, pois, que essas empresas tenham consciência da importância da mudança e saibam confiar nas novas gerações de empresários e gestores, sejam da família ou não.
*ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários