Opinião

O curioso elo entre arte e liderança

Sónia Jerónimo, Startup Builder EmpowHER

“Hoje, acredito que a criatividade não é um luxo. É uma necessidade urgente. Não estamos a falar de pintar quadros numa tarde de team building. Estamos a falar de trazer sensibilidade para o centro das decisões. De permitir que as organizações respirem. De recuperar o prazer de liderar com alma!”

Este artigo fala sobre arte e liderança — dois mundos que, à primeira vista, podem parecer desconectados, mas que, na realidade, partilham muito mais do que se imagina. A criatividade e a visão, pilares essenciais no processo artístico, são também forças fundamentais para uma liderança verdadeiramente eficaz.

Exploro aqui como práticas e reflexões artísticas podem inspirar e transformar a forma como enfrentamos os desafios do mundo empresarial e lideramos no quotidiano. Afinal, tal como na arte, liderar é criar algo belo, com propósito — e profundamente único.

Sente-se preso a estratégias rígidas? Pois bem, desenvolver o pensamento artístico pode desbloquear novos níveis de inovação e adaptabilidade dentro da sua organização.

Vamos começar com uma pergunta simples:
Quando foi a última vez que acolheu verdadeiramente a flexibilidade na sua liderança?

Durante décadas, o mundo empresarial baseou-se quase exclusivamente em abordagens lineares: dados, controlo, planeamento rigoroso. E sim, tudo isso tem valor. Mas, num cenário cada vez mais complexo e imprevisível, já não é suficiente.

É aqui que o pensamento artístico começa a dançar no palco da liderança.

Pensar de forma artística não significa transformar reuniões em oficinas de pintura. Significa acolher a intuição, a abertura e a improvisação como componentes legítimas da tomada de decisão. Trata-se de permitir que a criatividade e a sensibilidade complementem as estratégias tradicionais.

As empresas continuam a precisar de estrutura, métricas e previsões — mas já não podem sobreviver apenas com elas. Num mundo em constante transformação, onde convivem diferentes gerações, culturas e formas de pensar, torna-se vital uma abordagem mais flexível, intuitiva e adaptativa.

Artistas vivem da incerteza. Mergulham no caos e descobrem nele beleza e sentido. Deixam-se guiar pela intuição antes de saberem onde vão chegar.

E se aplicássemos esse espírito à liderança?
Em vez de resistir à mudança, poderíamos explorá-la. E, a partir dela, inovar.

O triângulo do pensamento artístico

Se esta ideia ainda lhe parecer demasiado abstrata, deixo aqui três pilares do pensamento artístico que tenho vindo a aprender na minha jornada pelo mundo das artes — e que pode começar a aplicar desde já:

1. Intuição

Grandes líderes têm um tipo de “instinto” que os guia, mesmo quando os dados não oferecem respostas claras. Artistas também escutam profundamente essa voz interior. Reservar espaço para decisões mais instintivas — confiando no sentir — pode revelar novos caminhos.

2. Abertura

O pensamento artístico valoriza a curiosidade e o desejo de explorar perguntas sem respostas óbvias. Crie ambientes onde ideias ousadas e perspetivas diversas sejam bem-vindas. A inovação floresce quando há liberdade criativa e segurança psicológica.

3. Improvisação

Pense numa banda de jazz. Ninguém segue uma pauta rígida e, ainda assim, criam harmonia com base na escuta, na adaptação e na colaboração. Liderar também pode ser isso: responder em tempo real, com agilidade e conexão.

As organizações começam a despertar para o poder desta forma de pensar. Ferramentas como o Design Thinking já demonstram como criatividade, escuta ativa e intuição devem estar presentes nas decisões estratégicas.

Porque devemos preocupar-nos?

Estruturas empresariais excessivamente rígidas sufocam a criatividade e a resiliência. Equipas pressionadas por metas inatingíveis e métricas inflexíveis acabam por cair em burnout e desmotivação profunda.

O pensamento artístico propõe outro caminho. Dá fôlego às organizações ao capacitar líderes para captar sinais subtis, abordar desafios com criatividade e reacender a energia das suas equipas. Não se trata de escolher entre estratégia e sensibilidade — mas de cultivar uma relação simbiótica entre ambas.

Durante mais de trinta anos fui líder. Criei empresas do zero, planeei estratégias, tomei decisões, orientei equipas — sempre com foco nos resultados. Mas o mais surpreendente foi perceber que, ao mergulhar no universo da arte, tudo aquilo que eu sabia ganhou novas camadas.

A minha visão sobre liderança transformou-se por completo.

Na arte, encontrei outra linguagem. Uma que acolhe o caos, que começa com o sentir, que não precisa de certezas para avançar. No estúdio, aprendi a ouvir o que emerge sem controlar. A improvisar. A transformar erro em beleza. E compreendi que essa abordagem tem muito a oferecer ao mundo empresarial.

E agora?

Na próxima vez que o seu plano parecer demasiado rígido, ou quando a resposta não surgir com clareza, experimente perguntar a si mesmo:

“O que faria um artista?”

Essa pode ser, afinal, a pergunta que muda tudo.
Boa leitura e boa reflexão.

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Sónia Jerónimo

Sónia Jerónimo

Sónia Jerónimo é atualmente Startup Builder EmpowHER®. Anteriormente foi cofundadora da GO IT Concept & Ambassador na Fábric@ Empreendedorismo do Município de Seia, foi Entrepreneur & Board Advisor e passou pela Winning, como COO e Board Advisory. Tem mais de 20 de experiência na área da gestão e liderança de empresas ligadas às tecnologias de informação. Após a licenciatura em Economia, iniciou a sua carreira no mundo académico como professora nas áreas de Economia e Gestão, na Universidade da Beira... Ler Mais..

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