Entrevista/ “Nos nossos espaços o cliente só tem que se preocupar com o seu negócio e com o crescimento do mesmo”

Martim de Botton, CEO do LACS

“Acredito que cada vez mais as grandes empresas terão sedes mais pequenas e que tentarão criar pequenos polos espalhados pelas cidades, que sejam mais perto das áreas de residência dos seus colaboradores”, afirma Martim de Botton, CEO do LACS, em entrevista ao Link to Leaders.

Martim de Botton é um dos mais bem-sucedidos jovens empresários portugueses. Assumiu o cargo de CEO do LACS no quarto ano de existência da marca, com a missão de reforçar o seu ADN e expandir o seu impacto no setor criativo e de negócios em Portugal.

Antes disso, foi Managing Partner e fundador do Aruki Sushi Delivery e administrador da Santini, acumulando mais de uma década de experiência em projetos de inovação no setor da restauração.

Martim de Botton traz uma visão estratégica para o LACS, que é hoje uma referência em espaços de coworking e flex offices, com cinco polos em Lisboa, Cascais e Porto, voltados para a criação de sinergias e o desenvolvimento de uma comunidade de inovação. Mas a ambição não fica por aqui e o empresário revela que “pretendemos abrir mais uma localização na cidade de Lisboa até ao segundo semestre” e lançar uma app para os membros, “que estamos a desenhar há mais de um ano”.

Martim de Botton é um dos mais bem-sucedidos jovens empresários portugueses. Passou pelo Santini, pelo Aruki Sushi Delivery e agora encontramo-lo no cluster criativo LACS. Qual o segredo?

Creio que não existe um segredo, mas sim uma conjugação de fatores, que começa por ter sempre uma equipa de enorme qualidade a trabalhar comigo, onde o diálogo e a proximidade de trato são fundamentais. Obviamente que também nada se alcança sem trabalho, perseverança e até alguma teimosia, embora sempre acompanhada de uma capacidade forte em ouvir os outros. Não ter medo de sair da zona de conforto, agir de forma ética e saber respeitar todos os stakeholders são pontos fundamentais também.

Que balanço faz destes 2 anos do LACS?

Tem sido bastante diferente das minhas últimas experiências profissionais, visto que o LACS tinha quatro anos quando cheguei, operava já em três edifícios, com um enorme potencial de crescimento e uma equipa bastante bem preparada. A responsabilidade era enorme, visto que tinha já bastante sucesso, mas por outro lado o desafio era também entusiasmante, uma vez que tinha todos os ingredientes necessários.

Passados 2 anos o balanço é bastante positivo, mas ainda queremos mais, apesar de termos duplicado de dimensão neste período. Temos, ao dia de hoje, cinco edifícios em três localizações diferentes (Cascais, Lisboa e Porto), mas com uma equipa mais preparada e alinhada para responder aos desafios que surgem. Estou entusiasmado com o que 2025 trará!

“Hoje, com o nosso conceito, já não falamos da área. Tentamos vender toda uma experiência em torno do local de trabalho que é algo que o escritório tradicional não traz”.

Quais os maiores desafios encontrados?

O negócio do LACS é muito relacional, pois tem uma vertente comercial muito forte e para isso precisamos de nos conectar constantemente com as equipas, clientes e parceiros. Foi um desafio a nível pessoal o tipo de relação que é preciso ter com os clientes e parceiros, à qual não estava habituado. A própria exposição ao mercado é algo que me obriga a sair da zona de conforto, pois a cada dia que passa a concorrência é maior e mesmo pelo conceito de escritórios flexíveis, que ainda é algo recente e precisa ser explicado, requer mais dedicação, tendo eu por vezes que ter também um papel de Relações Públicas. Há uns anos atrás ninguém falava em “workstation”.

A linguagem sempre foi em torno da área, dos metros quadrados. Hoje, com o nosso conceito, já não falamos da área. Tentamos vender toda uma experiência em torno do local de trabalho que é algo que o escritório tradicional não traz. O conceito de work-life-balance, da conveniência, da flexibilidade, do networking e das sinergias que se criam num espaço como o LACS é um modelo recente e isso exige tempo para conseguirmos educar o mercado e explicar porque somos uma melhor solução que outra que exista no mercado há vários séculos!

O que ainda continua a atrair no LACS os jovens empreendedores? O que estes procuram?

O work-life-balance, a flexibilidade, a conveniência, o networking e a possibilidade de ter ao meu lado eventuais clientes ou parceiros que façam o meu negócio crescer. Um cliente que nos procura quer um serviço “chave na mão”, com o qual a sua única preocupação será fazer o seu negócio crescer e o nosso papel é criar todas as condições para que ele tenha todo o sucesso do mundo. Em primeira instância, somos um local de trabalho, pois é por isso que nos procuram, mas depois o que nos diferencia são todos os serviços paralelos que oferecemos: cafetaria, workshops, happy hours, palestras, aulas de yoga, massagens, entre outros.

“A experiência passada tem-me ajudado bastante neste percurso do LACS, visto que já tinha background na parte de gestão de equipas e definição de estratégia de expansão”.

O que mais destaca do seu percurso que o levou a assumir a liderança do LACS?

O desafio para liderar o LACS surge no momento em que a minha família fica detentora da totalidade do capital social da empresa e o CEO, que deixa de ser sócio, abandona as funções executivas na empresa. A experiência passada tem-me ajudado bastante neste percurso do LACS, visto que já tinha background na parte de gestão de equipas e definição de estratégia de expansão.

Quando o LACS surgiu, o coworking era procurado apenas por pequenas firmas. O que está a mudar nos espaços de trabalho?

O LACS nasce com o intuito de ser um espaço para receber todo o tipo de empresas, sejam elas pequenas, grandes ou médias. Os nossos espaços de cowork continuam a receber empresas mais pequenas, nómadas digitais, estudantes ou freelancers. No entanto, o nosso principal modelo de negócio assenta nos escritórios privados – representam 97% das nossas receitas – e nessa modalidade, por exemplo, temos várias multinacionais connosco. Também temos empresas pequenas, mas não se resume a isso. O que temos sentido é uma evolução na forma de pensar das empresas na hora de terem os seus escritórios, dado que há alguns anos atrás, para algumas empresas mais tradicionais, como empresas de contabilidade ou até advogados, seria impensável estarem num escritório flexível como o LACS. No entanto, hoje, temos vários clientes dessas áreas.

Como se consegue criar uma cultura de networking numa empresa?

O facto das zonas comuns serem todas de acesso partilhado facilita muito o networking. Temos ainda todos os nossos eventos e momentos de partilha como as happy hours ou workshops, onde as pessoas interagem umas com as outras. Estamos também em processo de finalização de uma app que permitirá a todos os membros LACS interagirem entre eles e poderem conhecer melhor o que faz cada empresa e cada pessoa que está nos nossos diversos espaços.

Qual a sua visão sobre o futuro dos espaços de coworking e hubs criativos em Portugal?

Acredito que cada vez mais as grandes empresas terão sedes mais pequenas e que tentarão criar pequenos polos espalhados pelas cidades, que sejam mais perto das áreas de residência dos seus colaboradores. O custo de manutenção das sedes é enorme e acreditamos que os modelos de trabalho como os pensamos e desenvolvemos no LACS são o futuro, pois permitem às empresas poupar bastante financeiramente e ao mesmo tempo acreditamos que aumentamos a produtividade dos colaboradores, por proporcionarmos um ambiente de conexão com outras pessoas e onde o trabalho e o lifestyle andam sempre de mãos dadas.

“(…) a tendência aponta para um regresso à proximidade entre os colaboradores”.

Quais são as tendências internacionais que emergem para a criação de novos modelos de trabalho?

Estou certo que o modelo de escritórios flexíveis, como o LACS, serão o futuro. Após a pandemia de 2020, a forma de trabalhar e até de nos relacionarmos sofreu uma mudança. No entanto, a tendência aponta para um regresso à proximidade entre os colaboradores. Não significará isso um regresso às sedes das empresas, mas acredito que será através da criação de hubs em que os colaboradores de uma empresa poderão encontrar-se entre eles, promovendo a criatividade, a cultura da empresa e aumentando a produtividade. Para além disso, acresce ainda o facto de se relacionarem com outras pessoas e as vantagens inerentes a todo esse networking.

Que conselhos daria a um jovem empreendedor para criar um espaço de trabalho voltado para a inovação e criatividade?

O primeiro fator teria que ser pensar de que forma o seu produto é diferente dos demais, pois é aí que criamos a nossa vantagem competitiva. Espaços de trabalho há cada vez mais, pelo que se não nos diferenciamos e apenas copiarmos, caímos no risco de não ter sucesso. Outro ponto muito relevante é conseguir atrair clientes com nome no mercado, pois isso passa muita confiança e transmite segurança a futuros clientes na hora da decisão. Felizmente no LACS temos muitas empresas reconhecidas e isso também nos dá credibilidade.

Que objetivos pretende alcançar enquanto CEO do LACS?

Gostava muito que o LACS fosse a referência deste novo modelo de trabalho dos escritórios flexíveis. É um grande desafio, não só pela cultura enraizada do “escritório tradicional”, mas também porque a concorrência é grande. Porém, sinto que temos a equipa certa para conseguir alcançar este objetivo, que é ambicioso. Temos que ser capazes de passar a mensagem ao mercado de que faz sentido apostar no LACS e faz sentido investir neste novo modelo de escritório, pois nos nossos espaços o cliente só tem que se preocupar com o seu negócio e com o crescimento do mesmo. Tudo o resto nós tratamos! Temos vários clientes que têm crescido connosco e isso dá-nos muito gozo, pois sentimos que de certa forma também contribuímos para o sucesso. Pretendemos criar relações de longo prazo com os nossos clientes.

” Ter uma app para os nossos membros é um dos projetos que estamos a desenhar há mais de um ano (…)”.

Que ideias gostaria de implementar no LACS e ainda não teve oportunidade?

Felizmente já tive oportunidade de implementar algumas ideias, sendo uma delas a entrada do LACS na cidade do Porto, no entanto quero sempre mais. Ter uma app para os nossos membros é um dos projetos que estamos a desenhar há mais de um ano e que ficarei muito feliz quando finalmente o vir implementado, pois acredito que será uma ferramenta muita valiosa para a produtividade dos nossos clientes e para a criação de sinergias entre as empresas fomentada pelo networking.

Qual a estratégia de expansão do LACS para o próximo ano? Planeiam abrir mais espaços? Quantos e onde?

Pretendemos abrir mais uma localização na cidade de Lisboa até ao segundo semestre. Há também outras ideias que poderão surgir, mas que ainda não posso revelar.

Outros projetos para o futuro?

O do LACS ainda nem a meio vai!

Respostas rápidas:
Maior risco:
Sair de uma posição estável que tinha no Santini, em 2017, para abrir o meu próprio negócio.
Maior erro: Felizmente faço vários erros e creio que o maior seria não aprender com eles.
Maior lição: Foco no cliente e capacidade de lateralizar os problemas são chave.
Maior conquista: Considero que tenho e festejo várias pequenas conquistas com a minha equipa, como, por exemplo, cada vez que fechamos um novo contrato ou até mesmo um novo edifício no LACS.

 

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