Entrevista/ “No setor segurador, a transparência e a confiança são intrínsecas à atividade”

Pedro Rego, CEO da F. Rego

Atua no mercado segurador há mais de 40 anos, tem apostado na modernização de produtos e serviços para uma resposta eficaz às necessidades dos clientes, e quer continuar afirmar-se como uma empresa portuguesa e independente. Estas são algumas das características que definem a F. Rego, como fica patente na entrevista com o seu CEO, Pedro Rego.

“Estamos permanentemente à procura de novas sinergias, que nos permitam aumentar o portefólio de serviços e de produtos, e responder às necessidades dos clientes”, afirmou Pedro Rego, CEO da F. Rego – Corretores de Seguros.

Com uma experiência de mercado que já ultrapassa as quatro décadas, a empresa tem pautado o seu percurso pela criação de relações de confiança com todos os stakeholders, promovendo condições para o desenvolvimento económico pela transferência de riscos e de responsabilidades, através de soluções de seguro, e adotando princípios e práticas de transparência impulsionadoras da responsabilidade social e da sustentabilidade ambiental.

Em entrevista Link To Leaders, Pedro Rego falou da estratégia empresarial do projeto que lidera, destaca a aceleração da digitalização como a consequência mais imediata e significativa da pandemia, e alerta para os riscos cibernéticos e para a necessidade de repensar os produtos e as coberturas atualmente disponíveis no mercado. Além disso, acredita que o setor segurador tem todos os ingredientes para atrair e reter talento, em particular o talento jovem.

Como decorreu a atividade da F. Rego em 2020?
O ano de 2020 foi extremamente desafiante para todos os setores e a indústria seguradora não foi exceção. Para nós, este foi um período marcado por fortes aprendizagens e por uma necessidade de demonstrarmos enorme flexibilidade perante as diferentes contingências que foram surgindo. Esta flexibilidade reflete-se não só pelos constrangimentos ao nível das dinâmicas laborais, com a adoção do teletrabalho e a digitalização de uma significativa parte dos processos, mas igualmente pelas novas necessidades que foram surgindo da parte dos clientes, decorrentes da respetiva atividade.

O balanço é, claramente, positivo, dado que conseguimos acompanhar e dar resposta aos novos riscos a que os clientes ficaram expostos, logrando, simultaneamente, lançar novos produtos no mercado e atingir novos targets.

“(…) a empresa tem demonstrado uma grande atenção àquilo que são as carências do mercado (…)”.

A que se deve o crescimento registado no ano passado?
O crescimento de cerca de 11% que registámos no ano de 2020 reflete, sobretudo, uma das principais características que defininem a nossa abordagem ao mercado: a capacidade de retenção de clientes. Num setor como o segurador, a transparência e a confiança são intrínsecas à atividade, pelo que privilegiamos relações de longo prazo, que permitam um conhecimento e uma fidúcia mútua que se traduz na capacidade de acompanharmos de forma ágil as necessidades que vão surgindo, encontrando respostas adequadas e personalizadas. Este é um traço absolutamente definidor da F. Rego, e que justifica boa parte do crescimento anual que temos vindo a registar, ancorado no up e no cross-selling junto da atual carteira de clientes.

Paralelamente, a empresa tem demonstrado uma grande atenção àquilo que são as carências do mercado, procurando idealizar e disponibilizar soluções que respondam eficazmente às mesmas. Esta atitude tem-nos permitido a penetração em diversos setores de atividade, com uma grande abrangência de produtos. A título de exemplo, lançámos, em outubro passado, um seguro de Doenças Graves, que se posiciona como um complemento aos seguros de saúde, e que contempla uma modalidade para crianças e jovens que é pioneira no país. Este é um produto que tem registado uma excelente aceitação, precisamente por essa capacidade de preencher uma lacuna nas soluções vigentes no mercado.

Com que seguradoras trabalham?
Trabalhamos com uma rede muito abrangente de parceiros, entre seguradoras, resseguradoras e insurtechs, que não se circunscreve ao território nacional, dado que dispomos de sinergias de largas décadas com algumas das mais credíveis entidades internacionais do setor. É neste binómio que ancoramos a nossa capacidade de resposta à evolução do mercado. Por um lado, dispomos do rigor, credibilidade e segurança assegurados pelas várias décadas de colaboração com alguns dos nossos parceiros. Por outro, estamos permanentemente à procura de novas sinergias, que nos permitam aumentar o portefólio de serviços e de produtos, e responder às necessidades dos clientes.

Como se divide o negócio do grupo entre particulares e empresas?
Temos, desde a fundação, há mais de 40 anos, um posicionamento claro no mercado corporate, com forte especialização nos riscos empresariais. Dentro deste mercado, a abrangência é bastante lata, estendendo-se a praticamente todos os setores de atividade, liderando em algumas das indústrias mais tradicionais da economia nacional. Este foco não esbate a atenção dedicada ao mercado de particulares, em que temos igualmente registado um crescimento interessante. Esta evolução ancora-se na crescente notoriedade de que dispomos, mas igualmente na capacidade de criar condições especiais e competitivas para grupos de afinidade.

Quais os ramos que tiveram maior crescimento na F. Rego? E quais os de maior potencial de crescimento no futuro?
Na F. Rego, os ramos não obrigatórios representam uma parcela cada vez mais relevante do nosso portefólio, sendo os que registam crescimentos mais significativos, com especial destaque para as responsabilidades e seguros de saúde. A um ritmo muito interessante, mas necessariamente ainda com uma menor materialidade, destaco as áreas de riscos cibernéticos, de responsabilidade ambiental ou as linhas financeiras como os que têm registado percentagens de crescimento mais fortes.

Quais os produtos que têm sido mais atrativos para as empresas?
Cada empresa tem uma realidade distinta, dependendo da sua dimensão, setor de atividade ou implantação, pelo que não é possível identificar um produto ou produtos que se destaque, procurando oferecer sempre uma solução global a todos os clientes, incluindo seguros sobre pessoas, património, responsabilidades e crédito e caução.

(…) a cobertura regional é absolutamente essencial para assegurar uma resposta adequada ao mercado”.

Qual o valor acrescentado que aporta ao mercado o facto de terem escritórios em diferentes regiões?
Num setor que apresenta a confiança e a proximidade como valores intrínsecos à própria atividade, a cobertura regional é absolutamente essencial para assegurar uma resposta adequada ao mercado. Do ponto de vista estratégico, a estrutura de que dispomos em Portugal é perfeitamente otimizada: estamos no Norte (Porto), Centro (Coimbra) e Sul (Lisboa). Asseguramos um serviço de proximidade a todos os clientes e parceiros, o que contribui para a eficácia na gestão e operacionalização das demais incidências decorrentes da respetiva atividade.

Há um outro motivo subjacente à dinâmica de crescimento territorial que gostaria de destacar. Portugal, apesar de ser um país relativamente pequeno para a escala europeia, apresenta ainda intrincadas assimetrias regionais, quer do ponto de vista social, quer económico. Atuando na área da gestão e mitigação do risco, é capital que conheçamos o perfil da empresa ou do particular segurado, bem como as especificidades e exposições decorrentes da sua atividade. Com três escritórios em localizações estratégicas e cerca de seis dezenas de colaboradores com cobertura nacional, temos a capacidade de responder de forma assertiva aos desafios de cada um dos setores de atividade.

“(…) destacaria a aceleração da digitalização como a consequência mais imediata e significativa da pandemia”.

O que mudou no setor dos seguros com a pandemia?
Na resposta a esta questão, opto por me focar naquilo que considero as implicações de longo prazo, cuja importância esbate os eventuais impactos presentes de alterações circunstanciais decorrentes dos constrangimentos sanitários da pandemia.

Assim, destacaria a aceleração da digitalização como a consequência mais imediata e significativa da pandemia. Este era um processo que vinha a ser implementado de forma gradual, e que conheceu uma aceleração sem precedentes em resultado da pandemia. Esta transformação implicou uma capacidade de adaptação extremamente célere às novas dinâmicas comerciais e operacionais, traduzindo-se na criação de diferentes touchpoints com os clientes, um acompanhamento virtual mais célere e permanente. O desafio passa, sobretudo, pela capacidade de conciliar o imediatismo e a celeridade de processos permitidos pelo digital com os vetores de confiança e de proximidade que caracterizam a corretagem de seguros.

Paralelamente, o fenómeno epidémico colocou em evidência um conjunto de riscos a que as organizações se encontravam expostas, e cuja cobertura não era assegurada pelas coberturas tradicionais. Esta constatação implicou a criação de soluções técnicas altamente customizadas, que permitam garantir as perdas financeiras resultantes destes riscos epidémicos, e respetivas paralisações, em potenciais eventos futuros.

Há, igualmente, um conjunto de riscos que foram acentuados pelas circunstâncias decorrentes da pandemia. Os riscos cibernéticos, fruto da digitalização acelerada e, frequentemente, desprovida dos adequados mecanismos de acompanhamento e de proteção, posicionam-se como uma das principais ameaças para as organizações, assistindo-se a uma escalada dos ataques registados por esta via no último ano. Outra das evidências exponenciada pela pandemia, e que conheceu, recentemente, um novo episódio, com o bloqueio no Canal do Suez, prende-se com a dimensão das cadeias logísticas e os riscos que daí advêm para todas as organizações envolvidas – importadores, exportadores e operadores logísticos. Esta dimensão, conjugada com a crescente complexidade das operações multimodais, implica a conceção de soluções, por parte do setor segurador, que se caracterizem por uma grande robustez e resiliência, conjugando as múltiplas legislações aplicáveis quer ao setor, quer às diferentes geografias.

O Mundo está em acelerada mudança, impulsionando a transformação de todos os setores de atividade. Fruto da natureza da sua atividade, o setor segurador é diretamente afetado por estas dinâmicas, para as quais tem de encontrar, de forma célere, soluções ajustadas e eficazes.

Como tem sido evolução da procura de seguros de cibersegurança em Portugal? A pandemia acelerou a perceção deste risco?
A evolução registada na procura deste tipo de produtos, no período pré-pandemia, era bastante lenta. Apesar de uma forte sensibilização para a relevância dos mesmos, quer pelo setor segurador e gestores de risco, quer pelos especialistas em cibersegurança, a verdade é que o ritmo de aquisição destas soluções não acompanhava o investimento das organizações na digitalização das suas operações. Esta situação acarreta, evidentemente, fortes riscos, expondo as empresas aos devastadores impactos de um ataque cibernético.

As consequências da pandemia, nomeadamente no que concerne ao encerramento dos estabelecimentos e a impossibilidade de realização de atividades presenciais, precipitou a aposta no digital, com a criação de novos canais de venda e de touchpoints com os clientes e consumidores. Este investimento não tem sido, frequentemente, ancorado na devida proteção – quer do ponto de vista técnico, quer das coberturas de potenciais perdas. A escalada dos ataques registados nos últimos meses e a constatação das consequências dos mesmos para a credibilidade e finanças das empresas têm incentivado a adoção de proteções adequadas, sendo notório o crescimento recente da procura por estes produtos.

“É notória a necessidade de repensar os produtos e as coberturas disponíveis, mas igualmente os modelos de distribuição, de avaliação e de preço”.

Quais os maiores desafios que enfrenta o setor dos seguros em Portugal?
O setor dos seguros atravessava já, no período pré-pandemia, uma notória transformação. Esta alteração prende-se, sobretudo, com a forma como este perceciona a sociedade e as organizações, e o papel que ocupa na mitigação do risco a que estas se encontram expostas. Fenómenos como a robotização, a Internet of Things (IoT), a digitalização e as alterações climáticas alteram significativamente as dinâmicas de vida e laborais das populações, implicando igualmente a disrupção do paradigma do risco.

É notória a necessidade de repensar os produtos e as coberturas disponíveis, mas igualmente os modelos de distribuição, de avaliação e de preço. O mercado automóvel, por exemplo, é um dos mais relevantes para a indústria seguradora mundial e conhecerá uma autêntica revolução na próxima década, ancorada nas plataformas de partilha e nos self driving cars. Os modelos atuais de avaliação de sinistros e responsabilidade não respondem eficazmente a esta nova realidade, preenchendo a indústria de interrogações acerca das garantias de risco nestes cenários. Equação semelhante é encontrada na indústria transformadora, com a discussão acerca da eventual atribuição de personalidade jurídica aos robots, protegendo eventuais danos que possam causar.

As consequências da escalada das alterações climáticas são uma ameaça clara ao setor, e à forma como este encara os riscos. Os especialistas preveem um contínuo agravamento destas transformações, levando a que, a médio prazo, alguns riscos se tornem “virtualmente inseguráveis”, face ao esbatimento do caráter de imprevisibilidade que está subjacente aos modelos seguradores.

Se do ponto de vista do produto os desafios atuais para o setor dos seguros são de difícil tangibilidade e resposta, no que concerne à experiência do cliente o repto não é menor. Tradicionalmente ancorado numa relação pessoal e próxima, o setor deverá saber encontrar o equilíbrio entre estas premissas e o imediatismo, celeridade e flexibilidade assegurados pelas operações digitais, com notórios ganhos temporais e financeiros.

“O universo empreendedor nacional está com uma excelente dinâmica, e é com forte agrado que assisto à entrada destes players  [start-ups e insurtechs] no mercado segurador”.

Têm estabelecido parcerias com start-ups e Insurtechs. Qual acha que tem sido o contributo destes players para o mercado e que mais-valias têm trazido para o negócio da F. Rego?
O universo empreendedor nacional está com uma excelente dinâmica, e é com forte agrado que assisto à entrada destes players no mercado segurador. Acredito que estas organizações somam inovação, tecnologia e modernidade àquilo que é o expertise e conhecimento das empresas já implementadas no mercado – é importante notar que as empresas nacionais de maior relevância somam mais de três décadas de experiência.

Acredito que é neste equilíbrio que se constrói o presente e o futuro do setor, e é por isso que nos temos destacado pelas parcerias que temos desenvolvido com estas entidades, com resultados muito satisfatórios. Deste modo, conseguimos acompanhar o crescimento e as novas necessidades da nossa carteira de clientes, mantendo a identidade e o acompanhamento personalizado que sempre nos caracterizaram.

Como é possível manter a experiência de mais de 40 anos neste setor e acompanhar/apostar também na inovação e tecnologia permitida pela digitalização e pelas start-ups que agora apostam neste mercado?
Mais do que uma possibilidade, diria que é uma exigência e uma necessidade. Ao longo destes 40 anos, sempre nos caracterizámos à escala nacional e internacional, por uma permanente ambição de crescimento, por alargar o espetro de soluções e de providenciar um serviço cada vez mais customizado. Esta prerrogativa exige, por um lado, um investimento contínuo na qualificação dos nossos quadros, e, por outro, a capacidade de construir sinergias com players que possam aportar valor aos nossos serviços.

A especialização é outra das chaves para dar resposta a esta evolução. Com particular incidência para a última década, temos apostado na criação de equipas especializadas, quer em áreas de negócio, quer em setores de atividade, que nos permitem ser extremamente assertivos nas avaliações de risco, construção de soluções de mitigação e no acompanhamento da própria evolução da indústria.

 “(…) uma indústria em plena renovação [ os seguros], com a introdução de fatores de modernidade e de digitalização na oferta de valor aos clientes e stakeholders. Esta circunstância traduz-se no cenário ideal para a ambição de um jovem quadro (…)”.

Como é possível demonstrar aos mais jovens que existem oportunidades de carreira neste setor?
Ao contrário do que é comumente referido, acredito que o setor segurador tem todos os ingredientes para atrair e reter talento, em particular talento jovem. A geração que agora ingressa no mercado de trabalho valoriza, em adição à compensação financeira, as oportunidades de crescimento e de aprendizagem. Este permanente desafio é uma constante nesta indústria, dado que funde a sua essência na relação com os demais setores de atividade. Isto implica que um profissional que ingresse numa organização neste setor tenha a necessidade de estudar e aprofundar o conhecimento sobre inúmeros outros, promovendo igualmente a expansão da respetiva network para outras áreas.

Simultaneamente, diria que o setor segurador se encontra, neste momento, no equilíbrio ideal para um jovem em início de carreira. É, indiscutivelmente, um setor estável e resiliente, capaz de resistir aos ciclos do mercado e da economia, fruto de uma robustez construída há várias décadas. Mas é igualmente, no período atual, uma indústria em plena renovação, com a introdução de fatores de modernidade e de digitalização na oferta de valor aos clientes e stakeholders. Esta circunstância traduz-se no cenário ideal para a ambição de um jovem quadro que perspetive impactar a organização que incorpora, e integrar este momento transformador.

Como projeta o futuro da F. Rego?
O nosso objetivo passa pela manutenção do crescimento orgânico, além de ser parte ativa numa necessária consolidação de mercado. Queremos cada vez mais afirmar-nos com um grupo português e independente, parceiro do crescimento e do desenvolvimento dos nossos clientes, através de soluções de seguro inovadoras e de elevada qualidade, adotando permanentemente princípios e práticas de transparência impulsionadoras da responsabilidade social e da sustentabilidade ambiental.

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