Opinião

Mulheres, tecnologia e inovação

Isabel Neves, membro da Direção da Investors Portugal*

Historicamente, a indústria tecnológica tem sido predominantemente dominada por homens. No entanto, os tempos estão em franca mudança.

As mulheres estão agora a mergulhar no mundo da tecnologia e a ganhar o seu lugar por mérito próprio. No mundo da tecnologia e das start-ups, as mulheres desempenham um papel cada vez mais significativo, quebrando barreiras, desafiando estereótipos e impulsionando a inovação, liderando start-ups inovadoras e revolucionando indústrias.

De facto, as mulheres trazem perspetivas diferentes, as quais aliadas às competências adquiridas, permitem uma nova abordagem para a resolução de problemas da sociedade em geral.

Uma das grandes forças que impulsiona a ascensão das mulheres na tecnologia é a sua enorme capacidade de pensar fora da caixa e o seu pragmatismo e, por isso, são excecionais a identificar oportunidades e a criar soluções disruptivas. Além disso as mulheres empreendedoras não estão apenas focadas na construção de negócios de sucesso financeiro, esforçando-se igualmente para que esses negócios tenham um impacto positivo na sociedade.

Na maior parte dos casos, as start-ups fundadas por mulheres, abordam áreas críticas como a saúde, educação, ambiente, biotecnologia, sustentabilidade e problemas sociais. Ao alavancar a tecnologia e o seu espírito empreendedor, as mulheres estão a impulsionar mudanças reais e a fazer a diferença no mundo, existindo um reconhecimento crescente do imenso potencial inexplorado que as mulheres trazem para a indústria tecnológica.

No entanto, e apesar dos progressos alcançados, ainda existem vários desafios, barreiras culturais e preconceitos; acesso desigual ao financiamento e sub-representação em posições de liderança. É por isso crucial dar resposta a estes desafios e barreiras, criar um ambiente inclusivo, para permitir um maior envolvimento das mulheres na tecnologia e aproveitar esta capacidade catalisadora de mudança e de inovação.

Para isso é fundamental: alterar sistemas de ensino, introduzindo o empreendedorismo bem como oportunidades de educação em ciência e tecnologia nos programas escolares, desde o ensino básico; orientação técnica/profissional nas escolas e universidades; implementar programas de capacitação e mentoria; lançar iniciativas para fornecer apoio, recursos e oportunidades; promover modelos femininos de sucesso .

Quanto ao acesso desigual ao financiamento: para melhorar o investimento em start-ups lideradas por mulheres é necessário incentivar mais investidores e apoiar as empreendedoras. Como é que isso se pode fazer? Uma das possíveis soluções será através de programas de consciencialização e educação sobre a importância de investir em diversidade; além da criação de redes de apoio para conectar investidores e start-ups lideradas por mulheres.

É também fundamental promover a transparência nos processos de seleção assegurando a presença e participação de start-ups lideradas ou colideradas por mulheres. Isso já acontece em vários programas europeus, os quais têm a preocupação de introduzir nos critérios de seleção a presença de mulheres nas equipas. Pessoalmente acredito que o talento não tem género e que haverá sempre investidores para boas start-ups.

E quanto à sub-representação em posições de liderança?

A sub-representação das mulheres em posições de liderança é um problema persistente em alguns setores e a tecnologia é um deles. Apesar dos avanços é verdade que ainda persiste disparidade entre homens e mulheres. Essa disparidade pode ser atribuída a desafios estruturais, a preconceitos inconscientes e às barreiras culturais.

É importante que as empresas e a sociedade em geral trabalhem ativamente na promoção da igualdade de oportunidades, incentivando a diversidade e apoiando o desenvolvimento de competências de liderança em todas as pessoas, independentemente do género.

A diversidade é fundamental para impulsionar a inovação e a criatividade na indústria da tecnologia.

*Membro da Direção da Investors Portugal

 


Isabel Neves é licenciada em Ciências Jurídico Económicas (1985), pela Universidade Livre de Lisboa, e frequentou o Mestrado em Ciências Jurídico Comerciais na Universidade Católica de Lisboa. Completou a sua formação jurídica com vários cursos e seminários em Direito Comunitário. Advogada e consultora de empresas, acumula essa profissão com a gestão da Star Busy Investimentos e Inovação LDA, empresa que tem por objetivo apoiar novas empresas e projetos com elevado grau de inovação.

É atualmente é coordenadora e professora convidada na Pós-Graduação de Empreendedorismo de Negócios da Universidade Europeia; professora convidada no ISCSP (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas), na Universidade Lusófona e na Coimbra Business School em Pós Graduações de Organização de Eventos; na Porto Business School (Ignition Program), programa de lançamento de novas empresas e negócios de base científica que visem a sustentabilidade; madrinha da licenciatura de Gestão de Recursos Humanos do ISLA – Santarém. É formadora certificada, com larga experiência em formação presencial e online, com especial destaque para legislação laboral,  recursos humanos, empresas e direitos humanos.

Presidente do Clube de Business Angels de Lisboa, foi vice-presidente da FNABA (Federação Nacional de Business Angels) e, atualmente, é membro da Direção da Investors Portugal (Associação Portuguesa de Investidores em Early Stage).

Mentora, colabora em várias incubadoras nacionais e participa assiduamente em projetos de promoção do empreendedorismo, bem como em conferências e seminários como oradora. Participou como membro do painel de jurados do Shark Tank Portugal (2.ª temporada).

Em junho de 2022 foi nomeada presidente da direção da UNA – United Nations Portugal, uma instituição de direito privado dedicada ao suporte de organizações, iniciativas e projetos das Nações Unidas, nomeadamente o desenvolvimento de ações e programas da Federação Mundial das Associações das Nações Unidas (World Federation of United Nations Associations).

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