Opinião

Mudanças rápidas das economias

Eugénio Viassa Monteiro, professor da AESE-Business School

Surpreendo-me ao ver como a posição dos chamados países do Ocidente (EUA, UE, Japão, etc.) tidos, outrora, por todo-poderosos, quando nada se fazia sem o seu consentimento ou aprovação, dominando e explorando os outros países, estarem hoje a ser largamente superados por alguns novos, antes colonizados e explorados.

Como é natural, ninguém quer perder a sua posição de proeminência, procurando continuar a pontuar em variados assuntos, como os fidalgos do passado, já na bancarrota, que não desistiam de impor uma certa imagem e exercer os direitos que tinham sido criados para si.

Felizmente, com muito trabalho, suor e sofrimento, quase todos os países se libertaram, primeiro dos colonizadores, ganhando autonomia para se organizarem e crescerem rapidamente no plano económico, para logo a seguir fazerem-no na Educação, na Agricultura, na Manufatura e nos Serviços. Deram passos de gigante em muitos domínios, sobretudo no nível intelectual, científico e tecnológico. Estou a pensar na Índia, na China, nos chamados Tigres Asiáticos e outros, que fazem inveja aos antigos dominadores.

De entre eles alguns libertaram-se de sistemas económicos que os oprimiam, passando para sistemas de livre iniciativa, com uma chamada progressiva de todos os cidadãos para entrarem em cena no desenvolvimento do país, nas diferentes áreas do seu interesse.

Nos países pobres e explorados, quando há certa melhoria da economia, todos os outros setores têm possibilidade de evoluir depressa, dada a disponibilidade de recursos económicos. Refiro-me em particular à China, à Índia e a outros países asiáticos mais pequenos em população, com dinâmicas de crescimento impressionantes, nas últimas décadas, a partir de 1980/1990.

Se até há uns anos era o grupo dos países mais ricos, os chamados do Grupo G7, que ditavam as regras e a sua opinião era a que marcava a pauta para a ação, hoje encontramos um novo agrupamento de grande peso, como os BRICS, que se podem comparar ao G7, com muito maior alcance, representando uma população de quase três vezes a população do G7. Têm, além disso, um poder económico em franco crescimento e com ele uma importância acentuada nas áreas das ciências e tecnologias, preponderantes para os tempos próximos -futuros.

Os BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – têm uma população de 3,300 milhões, sendo a China e a Índia com 1,400 milhões cada um e os outros três países com cerca de 420 milhões. O G7, composto de Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, tem uma população de cerca de 780 milhões.

Os BRICS são países de economias muito importantes, em grande crescimento, que no seu conjunto superam o poder económico dos países do G7. É natural que os dois grupos se apresentem como alternativa ao outro, mas seria bom que colaborassem e alinhassem os objetivos no sentido de ajudarem todos os países mais pobres, em especial da África, América Latina e Ásia, a terem um bom desenvolvimento, sem a pretensão de lhes impor ideologias ou políticas às quais não desejam aderir.

Desde há muito que nenhum país podia deixar de ter como referência forte a China, num longo e fulgurante período de grande crescimento, dos anos 1990 até ao 2020, devido a sua posição de alto crescimento nas manufaturas e na criação de infra-estruturas. A China começou a afrouxar há uns quatro anos, ao mesmo tempo que a Índia e outras nações asiáticas mais pequenas continuam o seu ritmo, ainda que com taxas de crescimento mais modestas (de 7% ao ano, no caso da Índia).

Os dois países, lado a lado, a China e a Índia, estiveram permanentemente a observar-se. Conseguiria a Índia crescer ao ritmo da China? A longa estagnação da Índia, devida ao modelo económico decalcado no da União Soviética, de economia centralmente planeada, contrastava com a China muito viva e liberal na economia.

A governação de um país é determinante na dinâmica do seu desenvolvimento. Em muitos casos, quando há capacidades internas e pessoas de iniciativa, deixar que elas entrem a funcionar, dentro do um marco político de referência, pode ser a melhor solução. A pior situação parece ser a de um Governo, mesmo que democraticamente eleito, querer impor políticas de base ideológica às quais o povo não adere, e que, com a pretensão de fazer o bem, acaba destruindo a economia do país. Estou a pensar na Venezuela, na Argentina.

Quando além das escolhas democráticas os Governantes querem realmente o bem dos cidadãos e do país, então uma ampla convocatória de todos os cidadãos, criando condições aceitáveis para lançar iniciativas e tomar riscos, pode ser a melhor solução de fazer avançar o país até situações imprevistas. A criatividade dos cidadãos aliada à sua capacidade de empreender é sempre a alavanca para pôr qualquer país em movimento.

Comentários
Eugénio Viassa Monteiro

Eugénio Viassa Monteiro

Eugénio Viassa Monteiro, cofundador e professor da AESE, é Visiting Professor da IESE-Universidad de Navarra, Espanha, do Instituto Internacional San Telmo, Seville, Espanha, e do Instituto Internacional Bravo Murillo, Ilhas Canárias, Espanha. É autor do livro “O Despertar da India”, publicado em português, espanhol e inglês. Foi diretor-geral e vice-presidente da AESE (1980 – 1997), onde teve diversas responsabilidades. Foi presidente da AAPI-Associação de Amizade Portugal-India e faz parte da atual administração. É editor do ‘Newsletter’ sobre temas da Índia,... Ler Mais..

Artigos Relacionados