Entrevista/ “Menopausa Tech”: será este o novo nicho de sucesso das femtech?

As start-ups femtech, especializadas em tecnologia vocacionada para a saúde e bem estar da mulher, estão a entrar num novo campo de atuação: a menopausa.

A tecnologia está cada vez mais atenta ao target feminino e às necessidades que este segmento têm em cada  etapa da sua vida. Com milhões de mulheres pelo mundo a viverem uma fase de vida tão sensível como a entrada na menopausa, este tema já começa a entrar na agenda das start-ups femtech, bem como na dos investidores. Aliás, o setor femtech (produtos ou serviços tecnológicos vocacionados para a saúde das mulheres) está a crescer exponencialmente e a indústria já está avaliada em 50 mil milhões de dólares (44,4 mil milhões de euros).

Por exemplo, nos Estados Unidos, a marca de lubrificantes para a menopausa Madorra recebeu um financiamento de 4 milhões de dólares (3,5 milhões de euros), a plataforma de saúde digital Genneve lançou um serviço de telessaúde e a start-up de dados Menopause.ai foi adquirida pela start-up de suplementos Seed Health.

Com este cenário do lado de lá do Atlântico, os empreendedores europeus começam a seguir o exemplo e a  inovar na oferta que disponibilizam para este mercado tão particular.

Quem lidera a tecnologia para a menopausa na Europa
A publicação Sifted apresenta alguns exemplos bem sucedidos como o caso da empreendedora Nicola Millar que decidiu entrar no mercado da menopausa depois de ela própria passar por essa experiência. Com o apoio da Cambridge Consultants, a sua start-up, a Pebl, desenvolveu um dispositivo de arrefecimento (com um formato que se assemelha a uma pedra achatada) que as mulheres podem usar discretamente sempre que tiverem um afrontamento. O dispositivo deverá chegar ao mercado dentro de um ano e meio.

Mas nem todos os empreendedores nesta área têm experiência pessoal no assunto. O jovem Peter Astbury, 25 anos, é o designer e fundador por trás da Grace, uma start-up que desenvolveu uma pulseira refrescante projetada para ajudar mulheres na menopausa a controlarem a sua temperatura corporal à noite. O fundador já se habituou à surpresa dos investidores por verem um jovem à frente de um projecto desta natureza, mas apesar disso já conseguiu levantar fundos da Universidade de Loughborough, Inglaterra, e já recebeu um prémio de inovação da AXA.

Peter Astbury comentou à Sifted que a menopausa é uma área totalmente nova para muitos investidores e que por isso, antes de apresentar a sua start-up, tem que explicar o que esse processo envolve e como é viver com afrontamentos constantes, ter privação de sono devido aos calores noturnos e quais os efeitos prejudiciais que podem afetar vida profissional e pessoal das mulheres nesta fase.

A parisiense Moona é outra start-up focada neste target. Coline Juin, sua cofundadora e diretora executiva, espera ajudar as mulheres nesta fase da vida a manterem-se mais frescas de uma forma diferente: desenvolveu almofadas termo-reguladoras para usar na cama e que já estão disponíveis em pré-venda por cerca de 355 euros.

Serviços para a menopausa
Este mundo não se restringe apenas aos dispositivos físicos. As mulheres procuram ativamente serviços e apoio online e as start-ups estão igualmente atentas a essa necessidade. Por exemplo, a aplicação B-wom pretende apoiar as mulheres durante as mudanças que ocorrem na saúde sexual. Foi criada em Barcelona e oferece formação e conteúdo sobre saúde personalizada para mulheres. Como explicou  a sua CEO ao Sifted, “uma mulher com menopausa pode ter problemas ao dormir, mas outra pode ter problemas de excesso de peso. Por isso, definimos os nossos padrões e enviamos o conteúdo mais útil para cada uma”. Por agora, a  B-wom disponibiliza o serviço diretamente ao consumidor, mas está a desenvolver um modelo business-to-business para que as empresas possam oferecer o B-wom às funcionárias, e as empresas de seguros e as farmacêuticas o possam disponibilizar aos clientes. Este projeto, fundado em 2016, recebeu um financiamento de 1,1 milhão dólares (977 mil euros) em 2017 e ajuda centenas de mulheres em todo o mundo.

A quantidade de projetos que vão surgindo no mercado revela que as start-ups europeias que atuam no setor femtech estão em fase de expansão, mas para que esta seja consolidada também os investidores precisam de entender este mercado. O estigma e a falta de informação sobre o tema ainda constituem um forte obstáculo para muitos investidores, em particular quando apenas 20%  destes são mulheres.

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