Entrevista/ “Já conseguimos apoiar 2.957 empreendedores sociais, aumentando as suas competências”

Uma comunidade globalmente conectada, centrada no impacto social e ambiental a nível local. É assim que Francesco Rocca define o projeto que ajudou a fundar há sete anos, em Lisboa, destinado a empreendedores e empresas.
Criado há sete anos, numa altura em que os hubs de inovação e empreendedorismo começavam a dar os primeiros passos em Lisboa, o Impact Hub Lisbon é hoje um espaço de coworking e uma consultora estratégica e facilitadora de programas de impacto, como explicou o seu cofundador Francesco Rocca. Atualmente com dois espaços na capital (Baixa-Chiado e Penha de França), o Impact Hub quer continuar a sua trajetória de expansão, sempre com foco nas áreas do impacto social, ambiental e economia circular. Atualmente, acolhe mais de 190 membros fixos no espaço de coworking” e todos os anos forma cerca de 100 empreendedores com os seus programas de aceleração, revela Francesco Rocca.
Sete anos depois da sua criação em Lisboa, o que é hoje o Impact Hub?
O Impact Hub Lisbon tornou-se num ecossistema local de inovação e empreendedorismo social em Lisboa. É um local onde empreendedores, inovadores e criativos se reúnem para colaborar, aprender e crescer. O Hub evoluiu para se tornar, não apenas num espaço de coworking, mas também numa consultora estratégica e facilitadora de programas nas nossas áreas de ação. Dessa forma, pretende ajudar as organizações a atingir os seus objetivos de impacto. Também através de um espaço multifuncional para eventos, workshops e networking, destinado às empresas, bem como à comunidade local.
“(…) o nosso foco está nas áreas do impacto social, ambiental e também na economia circular”.
O espírito inicial de incubadora de cariz social, para apoiar projetos de empreendedorismo de impacto social e ambiental, mantém-se ou alargaram o âmbito de intervenção?
O espírito inicial permanece central à missão de acelerar a transição dos negócios para a nova economia, de uma forma mais justa e sustentável. Nesse sentido, o nosso foco está nas áreas do impacto social, ambiental e também na economia circular. Dentro do nosso pilar de consultoria, decidimos focar mais nas áreas de Diversidade & Inclusão e Clima. A estratégia para projetos de consultoria faz-se através de um financiamento mais direcionado. Assim, aumentamos a eficiência, ao concentrar esse financiamento disponível num número mais reduzido de empreendedores e entidades, para dessa forma aumentar a contribuição por organização.
Quantas empresas estão atualmente nos vossos hubs?
Atualmente, o Impact Hub Lisbon acolhe mais de 190 membros fixos no espaço de coworking, e todos os anos formamos cerca de 100 empreendedores com os nossos programas de aceleração. Estes membros variam, desde freelancers e pequenas start-ups, até empresas mais estabelecidas. Mas todos unidos pelo desejo de inovar e criar impacto positivo através de seus negócios.
Quais as nacionalidades presentes nos espaços Impact Hub?
Somos uma organização multicultural, com membros dos quatro cantos do mundo. Esta diversidade cultural é fundamental, pois promove uma troca rica de ideias, perspetivas e experiências, o que fortalece a criatividade e a inovação.
Qual é a vossa proposta de valor para o mercado? O que vos distingue de outros hubs que atuam na mesma área?
A nossa proposta de valor reside numa comunidade globalmente conectada, centrada no impacto social e ambiental a nível local. A nossa oferta baseia-se em três áreas de negócio. Desde logo, os nossos coworking spaces, mas também através de um espaço para eventos e consultoria ad-hoc para empresas e entidades que visam fazer a transição para a nova economia.
O que distingue o Impact Hub de outros coworkings é a rede internacional de impacto, que proporciona oportunidades únicas de colaboração e expansão global. A isto, soma-se também um forte compromisso com a sustentabilidade e a inovação social, vistos através dos nossos serviços de consultoria e programas. Dou-lhe como exemplos o projeto ‘Bora Mulheres’ da Coca-Cola e ‘Mais Ajuda’ do Lidl, cujo mote passa por beneficiar o ecossistema local através do empreendedorismo.
De que forma os novos modelos de trabalho baseado no trabalho remoto ajudaram a dinamizar o projeto, sobretudo na vertente de cowork?
Os novos modelos de trabalho remoto aumentaram a procura por espaços flexíveis e colaborativos, tal como o nosso. O que dinamizou o projeto na vertente de cowork, ao atrair trabalhadores remotos e facilitar a expansão de empresas que recrutam talentos em Portugal. Adaptamo-nos a essas mudanças com a ampliação do espaço de coworking, agora em duas localizações na cidade Lisboa. Temos um espaço na Baixa Chiado e outro na Penha de França, num total de 1.900 metros quadrados, que incluem uma infraestrutura multifuncional para formações, reuniões, workshops, team-building e celebrações, também por força de um terraço com vista panorâmica para a cidade, que se encontra na Penha de França.
Qual o impacto da comunidade Impact Hub no panorama empreendedor nacional?
Ao longo do nosso percurso, já conseguimos apoiar 2.957 empreendedores sociais, aumentando as suas competências empresariais através dos nossos 20 programas de impacto. Mas também através do apoio de 4,2 milhões de euros de financiamento inicial, transferido para empresários através dos nossos programas de aceleração.
(…) possuímos uma forte ligação com o Impact Hub Madrid, que é um dos nossos investidores (…)”.
Qual o peso da rede internacional, dos vossos parceiros, na dinamização do Hub em Portugal? As sinergias existem?
Todos os Impact Hubs do mundo são interconectados, com uma participação anual em congressos que conjugam aprendizagens, metas de impacto e decisões conjuntas. O Global Gathering, realizado anualmente em junho, reúne membros dos mais de 110 hubs. Este ano, o encontro ocorreu em Sesimbra, o que fortaleceu ainda mais as sinergias e colaborações internacionais que dinamizam o nosso hub em Portugal.
Para além disso, possuímos uma forte ligação com o Impact Hub Madrid, que é um dos nossos investidores, e, nesse âmbito, temos realizado projetos de empreendedorismo social nos eixos Madrid-Lisboa. Já com a sede global, o Impact Hub Network, prestamos serviços especialmente na área de comunicação e branding.
Enquanto cofundador e diretor do Impact Hub, com que desafios se tem deparado ao longo dos anos para que o projeto conseguisse vingar?
Alguns dos principais desafios que temos enfrentado passam pela necessidade de criar uma infraestrutura de ponta, garantir financiamento contínuo e manter a relevância e atratividade do Hub, que está, ainda, numa fase emergente. Superar esses desafios exige uma inovação constante, adaptação às necessidades dos membros e novas empresas, bem como a construção de parcerias estratégicas fortes.
Quais os planos de médio prazo para o Impact Hub Lisbon? Que projetos ambicionam implementar?
A médio prazo, pretendemos expandir ainda mais os nossos espaços físicos, pois tal permite-nos acolher mais empresas, facilitar experiências diversificadas e integrá-las nos nossos projetos de consultoria, aumentando o impacto global. Também queremos incrementar a nossa atuação na área de consultoria e programas, através de parcerias com os setores público e privado, de forma a sensibilizá-los quanto à melhor forma de obterem vantagens estratégicas através da sustentabilidade.
Sendo um player do ecossistema empreendedor nacional, como analisa a evolução do mercado português em termos de empreendedorismo, inovação, transformação digital…?
Nos últimos sete anos, Lisboa evoluiu muito e tornou-se num próspero centro de empreendedorismo e inovação, marcado pelo seu reconhecimento como a Capital Verde Europeia 2020 e a Capital da Inovação 2024. Quando o Impact Hub Lisbon foi lançado, o cenário empresarial era completamente diferente, com menos atores, recursos e infraestruturas. A evolução tem sido marcada por uma forte cultura de inovação, um aumento no apoio governamental e privado para o empreendedorismo de impacto, para além de um ecossistema vibrante que favorece a colaboração e o desenvolvimento de soluções inovadoras.
Respostas rápidas:
Maior risco: Adaptarmos as nossas atividades para a Covid foi difícil, estando o nosso projeto centrado numa forte componente presencial de coworking, formação e construção de comunidade.
Maior erro: Começar as nossas atividades em Alcântara foi desafiador, porque há sete anos a zona estava ainda pouco aproveitada. A vinda para o centro da cidade, e agora para a Penha de França, mostram bem a importância da localização.
Maior lição: Ter um modelo de negócio baseado em várias fontes de receitas permitiu-nos continuar a ser relevantes e rápidos na adaptação ao mercado.
Maior conquista: O projeto ter crescido constantemente ao longo dos anos, e, mais recentemente, tendo visto a procura a aumentar, o que mostra que cada vez mais as empresas querem ter um impacto positivo na sociedade.