Opinião
Que sistema para a defesa aérea em Portugal?
O chanceler alemão Olaf Scholz apresentou o European Sky Shield Initiative (ESSI) em outubro passado, com o objetivo de criar um sistema europeu de defesa aérea e antimíssil através da aquisição conjunta de equipamento – a ser desenvolvido durante cinco anos.
Desde então, 17 países assinaram o acordo, incluindo o Reino Unido, os Estados Bálticos, a Suécia, a Finlândia, e até a Suíça e a Áustria, dois países que não são membros da NATO.
O Sky Shield irá usar um sistema de defesa por camadas, baseado nos seguintes subsistemas:
Médio-alcance: IRIS-T de origem alemã ou CAMM de origem britânica;
Longo-alcance: MIM 104 Patriot de origem americana/ SAMP-T de origem franco-italiana;
Muito longo alcance: Arrow 3 de origem israelita, THAAD e Aegis de origem americana.
O que podemos depreender deste sistema é que se por um lado está montado em cima de sistemas que estão relativamente provados, e testados, por outro lado depende quase integralmente nas suas componentes de longo e muito longo alcance (anti míssil balísticos) de sistemas que não são europeus, não possibilitando, para já, a criação de sistemas independentes, desenvolvidos na Europa, o que dado o volume de investimento previsto, que será de dezenas de biliões de euros, poderá constituir-se como uma oportunidade perdida de industrialização. No passado mês de junho, o parlamento alemão, o Bundestag, autorizou um investimento de cerca de €4B na aquisição do sistema antibalístico de origem israelita Arrow 3.
Esta proatividade alemã, que no setor da Defesa é incomum, tem causado algum mau estar junto dos franceses, que foram apanhados de surpresa por esta iniciativa, sobretudo pelo facto do sistema franco-italiano Eurosam SAMP/T ter sido excluído do conjunto inicial de defesa aérea. Embora, pareça haver vontade política por parte da Alemanha para cooptar o sistema francês na iniciativa.
E onde está Portugal nesta discussão?
Pelo menos publicamente, não está, mas, devia estar. Portugal não tem sistema de defesa antiaérea digno de nota, a pouca de defesa antiaérea operacional é de curto alcance, é baseada nos sistemas Stinger no exército, e alguma capacidade naval instalada nas fragatas, que apenas servem para as proteger. O país está totalmente desprovido de capacidades de defesa aérea modernas, estando completamente à mercê de ataques de mísseis, ou mesmo de drones, que não possam ser intercetados pela nossa força aérea.
O síndrome ucraniano carateriza-se por este país não se ter municiado antes da guerra, e de ter sido equipado in extremis, depois da guerra ter começado, através de fornecimentos dos países da NATO. A guerra na Ucrânia transformou-se numa autêntica feira de equipamento militar, onde os sistemas de diversos países são usados num cenário de guerra real, comprovando, ou não, as suas capacidades – e as do Iris-T e dos Patriot tem sido amplamente noticiada.
Portugal deve aproveitar este momento para não ficar de fora de um chapéu de defesa antiaérea como o Euro Sky Shield, onde teria de fazer um investimento em pelo menos uma bateria Patriot/ SAMP-T e alguns sistemas Iris-T, sendo que o vetor Atlântico, nos Açores e na Madeira também terá de ser contemplado, com um custo combinado de pelo menos 1000 milhões de euros, e que não estão na atual lei de programação militar.
À semelhança do pragmatismo que tem orientado os governos do centro da Europa, este investimento devia ser alvo de consenso político nacional, por razões que hoje em dia são óbvias para todos, para que ainda possamos usar este investimento tanto para criarmos uma defesa aérea moderna, e até para que dentro deste sistema terá de ser contemplado uma defesa aérea de curto-médio alcance, onde existe espaço para se industrializar um sistema europeu similar ao famoso Iron Shield de origem americano-israelita, capaz de destruir com grande eficácia e custo-benefício, as ameaças de foguetes e drones.