Inovação nos serviços de apoio às carreiras em ciência. As tendências futuras.
A Chaperone, uma start-up fundada por dois cientistas portugueses, com o objetivo de democratizar o acesso ao apoio de carreira para os cientistas, analisou as tendências da inovação nos serviços de desenvolvimento de carreiras na área da ciência
Apenas 5% dos jovens investigadores que se encontram a trabalhar no mundo académico, consegue uma posição permanente na academia, apesar de este ser o desejado por muitos. A conclusão é da Chaperone, um marketplace de serviços de desenvolvimento de carreira online, direcionado especificamente para o mercado dos cientistas e investigadores, fundado em março de 2020 por dois cientistas portugueses. “Empoderar os cientistas nas suas carreiras é o lema” deste projeto.
Alertam os responsáveis da Chaperone que 95% dos cientistas académicos são forçados a fazer uma mudança de carreira, muitas sem qualquer apoio de orientação e planeamento de futuro. Aliás, a falta de acesso a serviços de desenvolvimento de carreira é uma situação tão crítica, asseguram, que os cientistas têm uma probabilidade quatro a seis vezes maior de sofrer de depressão ou ansiedade no trabalho do que o resto da população, com impactos óbvios no bem-estar e na sua produtividade. Por outro lado, a baixa produtividade causada pela falta de desenvolvimento de carreira na ciência tem um impacto forte e direto num dos setores mais importantes da sociedade, a investigação e desenvolvimento (I&D) e que representa, globalmente, um investimento de 1,7 triliões de dólares.
O desenvolvimento de carreira foi destacado como uma prioridade societal pela Comissão Europeia através da Carta Europeia para Investigadores, assinada por mais de 1200 instituições de investigação de 41 países.
Disponibilizados em universidades de elite e com maiores fontes de rendimento, os serviços de desenvolvimento de carreira ainda não são uma realidade na maioria dos países mundiais. E muitos deles, frisam os responsáveis da Chaperone, estão a tornar-se obsoletos na medida em que não conseguem acompanhar a diversidade de carreiras e de personalização exigida para acompanhar cada cientista, num contexto em que os mercados de trabalho são cada vez mais dinâmicos.
Neste sentido, os responsáveis da Chaperone identificam algumas tendências futuras que o mercado do desenvolvimento de carreira deve seguir de forma a responder às necessidades dos cientistas:
De uma necessidade para carreira, para uma necessidade vitalícia.
O reskilling e upskilling deve ser um trabalho contínuo, tanto para quem procura emprego fora da academia, como para quem quer ficar e para quem ainda não sabe qual caminho seguir. As competências adquiridas ao longo do percurso profissional de qualquer cientista são transversais e podem ser adaptadas e desenvolvidas de forma a qualificarem-se para posições em setores diferentes.
De “o meu supervisor é a única pessoa que pode me ajudar”, para a procura de diferentes especialistas de desenvolvimento de carreira.
Atualmente, existe um vasto leque de consultores de carreira que estão disponíveis para providenciar suporte aos cientistas nos diferentes níveis da sua progressão de carreira, desde estudantes de ciência até líderes de grupo. Dentro dos diferentes tipos de consultores de carreira podemos encontrar os chamados: i) career advisors – dão apoio de acordo com a sua experiência profissional prévia; ii) os career counsellors – normalmente especializados em gestão de recursos humanos, ou psicologia, ou formação específica para esta profissão disponível em alguns países, e podem guiar os cientistas em escolhas difíceis e no planeamento da sua carreira futura; e iii) os career coaches – formados em coaching, e que auxiliam na definição de objetivos específicos, mas também com o acompanhamento próximo durante o percurso até os alcançar.
De um escritório individual, para um apoio que valoriza a diversidade, a inclusão e a hiper-personalização.
Serviços “tradicionais” têm tipicamente um ou dois especialistas disponíveis para prestar apoio a toda uma instituição académica. Este tipo de gabinetes de carreiras, não são uma solução que esteja alinhada com as comunidades de investigadores que se encontram a trabalhar em conjunto nas mesmas instituições. Estas são altamente diversas (diferentes nacionalidades, diferentes culturas, diferentes línguas, diferentes ambições de carreira, diferentes formações de base), têm elevados índices de mobilidade, e as suas carreiras são cada vez menos lineares, usando as suas skills transversais para atravessar diferentes áreas de investigação, trabalhar em diferentes sectores, e também estão expostos à volatilidade, incerteza e complexidade, que caracteriza as carreiras atuais. Assim sendo, só um suporte que englobe soluções presenciais complementadas com soluções online e que possua um leque de profissionais de apoio com perfis diversos, poderá ser considerado um suporte personalizado e inclusivo.
Da desigualdade a um acesso democratizado
Soluções digitais em que um cientista possa aceder virtualmente a estes serviços em qualquer parte do mundo, é uma caminho eficaz para diminuir as desigualdades sentidas entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos.