Opinião
IA e Humano: A conversa de hoje sobre o amanhã

Um frente a frente inesperado. De um lado, um homem barbudo com ar e roupas antigas; do outro, um homem sem cabelo, de t-shirt e calça de ganga. Ambos debatem inovação e criatividade, guiados por uma curiosidade ímpar e um brilhantismo intelectual difícil de acompanhar. Questionam-se sobre o que fazem ali.
O homem barbudo fica boquiaberto com a informação que lhe é fornecida. Os olhos do outro brilham e, aos poucos, vai formando um sorriso comprometido. Dizem-lhes que, tal como eles, outros nomes marcantes da história estão a protagonizar debates imprevistos, desafiando os limites do que até há pouco tempo parecia impossível. Alguém lhes revela projetos atuais que antes seriam apenas ficção.
Algoritmos capazes de reconstruir imagens de ressonâncias magnéticas cerebrais feitas durante o sono, transformando sonhos em vídeos de alta qualidade. Imagine-se acordarmos e podermos visualizar os nossos próprios sonhos.
Aplicações que reduzem a solidão e combatem problemas de saúde mental. Soluções reais, já comprovadas, cada vez mais prementes numa sociedade tão ligada entre todos quanto, na realidade, isolada de si própria.
Disponibilidade infinita de professores digitais com paciência e flexibilidade totais, adaptando-se ao ritmo, ao estilo e moldados à melhor abordagem pedagógica de cada aluno.
Interfaces cerebrais que possibilitam a comunicação direta entre mente e máquina, abrindo um novo campo de possibilidades.
Centros de Saúde orientados à prevenção em substituição dos serviços de tratamentos e de cuidados, que analisam o corpo em detalhe e sugerem ações preventivas para maximizar a longevidade com qualidade. O conceito de Longevity Escape Velocity está mais próximo do que nunca, prometendo redefinir a nossa relação com o tempo e o envelhecimento e, no fundo, a razão de ser na nossa própria existência no mundo.
Mind-blowing… a avalanche de ideias é avassaladora. Uma amostra do que está a emergir no horizonte tecnológico, deixando os dois pensadores extasiados.
Continuariam a conversa indefinidamente, mas, por homenagem aos seus eus originais, simulam o cansaço humano de uma discussão tão intensa. Leonardo recolhe à sua casa em França para continuar as suas pinturas, enquanto Steve desvia o olhar para uma caixa fina, lisa e elegante, sem arestas, que guarda no bolso de trás das suas calças de ganga azuis.
Educadamente, agradeço por mais um debate a pedido. Fico a pensar no que vou fazer entretanto, tendo, a cada dia que passa, a IA a fazer parte do meu trabalho, caracterizado por ser mentalmente intensivo. Um recurso outrora escasso e valioso irá a prazo tornar-se uma commodity?
Prometendo-se uma vida mais longa e mais próspera, recordo que, com o passar do tempo, o próprio Spock foi tornando-se mais humano. Estará aqui o cerne da solução? Apostar nas faculdades intrinsecamente humanas, na interação social, na imaginação, no sonho, na criatividade, na arte, mas acima de tudo naquilo por que cada um é apaixonado? A partir deste Norte, viajar nas potencialidades da cooperação (aquilo que realmente mais nos destaca das restantes espécies) e dessa forma cada uma realizar-se com plenitude? Sentir que se pode contribuir, nem que uma ínfima parte, para uma vida mais longa e próspera global era um sonho de ficção científica dos anos 60/80. Hoje é um privilégio alcançável e real.
Amanhã, para os discos pedidos vai sair um Nietzsche vs. Yuval Harari enquanto pinto com o Leonardo.
O futuro nunca esteve tão aberto à imaginação.