Gap de géneros no empreendedorismo europeu mais perto do fim?

Em 2018, as mulheres continuam a ser um grupo de talentos sub explorados na força de trabalho global. Mas tudo se encaminha para que o gap entre géneros no empreendedorismo diminua cada vez mais.

Um estudo de 2014 da Comissão Europeia (CE) descobriu que havia cerca de 10,3 milhões de mulheres empresárias a trabalhar em toda a União Europeia. O número pode parecer impressionante, mas a realidade revela que as mulheres representam cerca de um terço de todos os europeus autónomos e menos de 30% dos empreendedores de start-ups, apesar de representarem mais de metade (52%) da população total, que é de mais de 500 milhões.

Aliás, os dados relativos a este tema, apontam para o facto da paridade de género global estar a diminuir pela primeira vez desde que o Fórum Económico Mundial começou a medi-la em 2006.

Embora a Europa Ocidental tenha reduzido a diferença de género para 25%, uma disparidade média de 32% em todo o mundo continua em aberto. Em países como Itália, Chipre, Grécia, Malta e Espanha, onde as taxas de emprego feminino estão abaixo de 60%, o progresso é especialmente lento.

Isso não quer dizer que não haja mulheres empreendedoras impressionantes por toda a Europa. Pelo contrário, existem centenas e com um forte desejo de aumentar a liderança feminina. Por outro lado, as mulheres também estão a exigir mais dos seus líderes.

O World Economic Forum projecta que a redução dos desequilíbrios de género poderia impulsionar o PIB entre 9% e 27%. Por sua vez, a McKinsey Consulting Firm estima que alcançar a igualdade das mulheres contribuiria para aumentar em biliões a economia global até 2025.

Para ajudar as mulheres alcançar os benefícios sociais e económicos da igualdade de género, vários grupos de trabalho identificaram alguns obstáculos que se colocam no caminho das mulheres empreendedoras e apresentaram algumas formas de superá-los.

Obstáculos mais frequentes
O acesso ao financiamento é um dos maiores obstáculos enfrentados pelas mulheres empreendedoras. Apenas 15% das empresas fundadas na UE desde 2017 são lideradas por mulheres e apenas 12% dos fundadores de empresas da UE que receberam financiamento de capital de risco (VC) são mulheres.

Um estudo americano recente descobriu que os VCs são mais propensos a financiar o projeto de um homem do que o de uma mulher. Muitas líderes femininas icónicas revelaram que características como a confiança são menos favoráveis ​​nas mulheres do que nos homens.
Também pesquisas científicas da London School of Economics descobriram que a diferença de género é “em grande parte motivada pela falta de confiança das mulheres”.

O acesso a informações, formação e redes também se colocam no caminho das mulheres que desejam estabelecer e gerir um negócio. As mulheres enfrentam ainda o desafio adicional de conciliar as responsabilidades familiares profissionais. Isso é exacerbado pelo número limitado de mulheres empresárias, o que desencadeia um ciclo. Quanto menos representadas, mais os ambientes de trabalho se tornam predominantemente masculinos.

Recursos oficiais
Os grupos europeus públicos e privados estão a introduzir iniciativas especificamente projetadas para levar as mulheres à vanguarda do movimento de start-ups. Concretamente através de legislação que visa melhorar a abordagem do empreendedorismo, simplificando a regulamentação e quebrando barreiras ao desenvolvimento de negócios.

A legislação que tem sido desenvolvida no contexto europeu também aborda dois problemas que afetam desproporcionalmente as mulheres: o acesso ao financiamento e aos mercados.

Existem também vários recursos financeiros disponíveis em toda a União para as mulheres que esperam iniciar um novo empreendimento. O Prémio da UE para Mulheres Inovadoras, criado pela Comissão, oferece entre 20 mil e 100 mil euros para mulheres inovadoras e empreendedoras com menos de 30 anos que inspiram outras mulheres a levar as suas ideias ao mercado.

Além disso, a também a WES Policy Network, a European Community of Business Angels e a Rising Tide Europe fornecem quer apoio financeiro direto quer o acesso a investidores que podem ajudar a impulsionar empresas que estão a dar os primeiros passos.

Projectos globais como a Iniciativa Financeira de Mulheres Empresárias do Grupo do Banco Mundial (We-Fi) também estão disponíveis para mulheres de estados membros selecionados da União Europeia. O We-Fi combina cerca de 860 milhões de euros de financiamento para melhorar o acesso ao capital, fornecer assistência técnica e investir em projectos e programas que apoiem as mulheres e as PMEs lideradas por mulheres.

Ligar mulheres empreendedoras a potenciais mentores e colegas empreendedores é outro passo que beneficia fortemente os participantes sem que tenham de incorrer em altos custos. A Comissão Europeia lançou o WEgate, um portal on-line orientado para o empreendedorismo feminino que oferece materiais de aprendizagem para iniciar e expandir um negócio, acesso a possíveis fontes de financiamento e oportunidades de networking, detalhes sobre organizações e eventos de apoio locais e outros recursos digitais. Complementarmente, existem organismos europeus como Blooming Founders, Startup Live, WeHubs e Woman Who Tech voltados especificamente para quem está na área das start-ups digitais.

Por último, a União aprovou legislação para que as mulheres que trabalham por conta própria em todos os estados membros possam tirar uma licença de maternidade de pelo menos 14 semanas, se assim o desejarem. A UE continua a elaborar e promulgar disposições que reforcem o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal de todos os trabalhadores envolvidos em atividades de start-ups e empreendedoras.

Olhar mais além
Desde 2008 que houve um aumento de 3% de mulheres empreendedoras em toda a União Europeia. Apesar da Grécia, Albânia, Portugal, Itália e Croácia terem amplas desigualdades quando se trata de emprego de género, também são os países com as maiores taxas de empreendedorismo para as mulheres. Na UE as empresas dominadas por mulheres estendem-se a setores como saúde, assistência social e educação. São poucas as empresas pertencentes a mulheres, mas estão em ascensão, especialmente graças a jovens mulheres que investem nos setores digital e inovador.
Mais do que qualquer outra coisa, a força de trabalho feminina parece estar a beneficiar de uma mudança cultural.

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