Foodtech: robô barman, insetos e bebidas de canábis na era pós-pandemia

Como vamos alimentar-nos no futuro pós-Covid-19? De carne falsa a insetos, passando por bebidas de canábis, são várias as alternativas que já estão a ser cozinhadas na Europa. Mas ainda há muito espaço para os empreendedores e start-ups meterem a colher.
Numa altura em que impera o medo em relação à contaminação por coronavírus e são implementadas medidas de distanciamento social em restaurantes, bares e afins, o setor alimentar precisa, mais do que nunca, de inovar. Estas preocupações acrescem à lista já considerável de questões, como a segurança alimentar global e as mudanças climáticas. Com os governos nacionais e órgãos supranacionais como a União Europeia muitas vezes a demorarem a agir nas questões globais complexas, a noção de urgência está a aumentar. O que deixa espaço de sobra para os empreendedores e start-ups liderarem o caminho.
No mundo desenvolvido, as soluções de serviços sem contacto no setor de hotelaria já estão a avançar para o pós-coronavírus, como estações para fazer pedidos sem contacto ou robôs barmen. Com o stress em alta e um novo enfoque na saúde, os alimentos e bebidas cannatech com infusão de CBD (canabidiol, uma das substâncias químicas de canábis) têm potencial para se tornar mais populares, sobretudo nas opções de entrega ao domicílio.
Do outro lado do globo, a corrida para alimentar quem tem fome ficou mais complicada desde o Covid-19. O Programa Alimentar Mundial refere que apoia atualmente 138 milhões de pessoas com segurança alimentar, mas prevê que o número suba para 265 milhões antes do final do ano – um aumento de 82% – devido à pandemia.
A forma como as comunidades locais lidam com a sua segurança alimentar também está a ser questionada, em que a preocupação com os denominados mercados molhados alimenta a discussão sobre maneiras mais sustentáveis de tratar os animais que servem de alimento. Neste sentido, o site EU-Startups avança com soluções de tecnologia alimentar como alternativa aos produtos existentes, e que, afinal, não assim tão futuristas.
1. Alimentos impressos em 3D
Seria capaz de comer algo impresso em 3D? Não é tão plástico como parece. As impressoras 3D funcionam como uma espécie de organizadoras da apresentação dos pratos.
Os benefícios da impressão 3D de alimentos são: velocidade, precisão e eficiência, em comparação com os chefs humanos. Há menor desperdício de alimentos, pois são usadas as medidas exatas necessárias para cada criação. E a comida pode ser customizada e personalizada de acordo com as preferências de cada um, havendo menos esforço por parte da cozinha. As impressoras 3D podem lidar com tarefas que teriam de ser realizadas por um chef humano, libertando espaço na cozinha e permitindo um maior distanciamento social. Para descobrir mais sobre o tema, veja o site e os pratos da Natural Machines, sedeada em Barcelona.
2. Robô barman
O robô é perfeito para as medidas de distanciamento social, em que só tem de inserir o seu pedido sem contacto humano, escolher num menu fixo ou combinar ingredientes de sua autoria. Depois, é só observar a bebida a ser preparada com a precisão de um robô.
A start-up Makr Shakr (2014), com sede em Turim, tem dois “braços” robóticos, o Toni e o Bruno. Pode encontrá-los em Londres ou em Praga, além de em Itália. Como alternativa, conheça o Yanu (2016), de Tallinn, um robô autónomo que serve ao bar, e vem nas opções de branco, preto ou encarnado.
3. Tecnologia de insetos
Se muitas culturas orientais consomem insetos sem sequer pestanejar, o Ocidente ainda tem um caminho a percorrer neste âmbito. Os mais resistentes à ideia podem descansar: os insetos estão a ser debatidos como alimento para animais. As larvas também produzem composto de qualidade, o que ajuda os agricultores a melhorar as propriedades do solo. Os benefícios deste segmento pós-Covid-19? Ajudar os agricultores locais a contarem mais com os próprios recursos, fechando os “ciclos regionais” de alimentação animal, reduzindo pontos de contacto logísticos, e tornar a produção de alimentos local em vez de global.
Uma start-up europeia que lidera esta área é a Ynsect (2011), sedeada em Paris, que também planeia usar os insetos como alimento para peixes e, até agora, conseguiu um financiamento de cerca de 155 milhões de euros. A primeira instalação industrial totalmente automatizada vai abrir em 2021, num sistema de produção em economia circular com desperdício zero. De referir também a FarmInsect (2019), de Munique, que em junho angariou uma quantia de seis dígitos.
4. Carne falsa
A ideia por de detrás da carne falsa é, para muitos, não parar de comer, antes consumir menos. O impacto ambiental de um hambúrguer de meio quilo de carne é de 55,3 litros de água, 6,1 quilogramas de ração e 6 metros quadrados de terra (culturas incluídas).
A carne cultivada em laboratório é criada para ter a aparência, o sabor e a textura da carne e, às vezes, até “sangra” de forma realista. Como funciona? As células-tronco (ou células estaminais) são “doadas” por animais, que não são prejudicados no processo, e a carne é cultivada em laboratório. Embora os consumidores de carne e os vegetarianos possam achar estranho, para muitos é uma melhoria face aos danos causados aos animais e ao meio ambiente pela indústria da carne.
Para quem queira experimentar carne “cultivada em laboratório”, há a holandesa Meatable (2018); há também opções baseadas em fungos, de start-ups como a Mycorena (2017), com sede em Gotemburgo; ou alternativas como a da start-up espanhola Cubiq Foods (2018), que está a trabalhar em gorduras sustentáveis.
5. Cannatech
A crise da pandemia trouxe stress e ansiedade à vida de muitas pessoas, seja devido à doença em si, seja por causa da incerteza que causou no trabalho e em casa. O segmento cannatech afirma que tem uma solução sem stress, ao usar CBD, substância química de canábis que não tem efeitos psicoativos conhecidos. Graças a esta propriedade, é possível comprar bebidas com infusão de CBD, doces e gomas para aliviar as preocupações, enquanto desfruta do sabor da planta de canábis.
A start-up suíça Hempfy (2016) equilibra o “amargo das ervas com um sabor rico e a leve carbonatação” de substâncias de canábis com baixo CBD em produtos como vinhos, tónicos, água de recarga e óleos. Também há artigos cannatech na área de saúde e bem-estar, usados em loções, alívio da dor e mais.