Financiamento nas start-ups abrandou em todo o mundo em 2016

Os investimentos nas start-up recuaram 10% no ano passado em todo o mundo, avança a KMPG. Contudo, a dinâmica continua positiva, nomeadamente em França onde continuam a ser elevados os levantamentos de capital.

As eleições americanas, o Brexit… O contexto internacional pesou, no último ano, teve reflexos nos investimentos realizados nas start-ups. Segundo o estudo trimestral da KPMG sobre o tema, citado pelo Les Echos, no final do ano passado sentiu-se um claro abrandamento a nível mundial, que fez o balanço anual cair no vermelho. Em 2016, 127 mil milhões de dólares (mais de 120 mil milhões de euros)  foram destinados às start-ups, contra 141 mil milhões em 2015 (cerca de 133 mil milhões de euros), ou seja, menos de 10 %.

O número de levantamentos de fundos também caiu brutalmente, passando de 17.992 para 13.665. “As incertezas que pesavam no mercado provocaram a redução da atividade dos grandes fundos de pensões norte-americanos”, afirma Marie Guillemot, associada da KPMG encarregada do setor das Telecomunicações, Media e Tecnologia.

Os investidores também reduziram os seus financiamentos para impedir a corrida desenfreada às valorizações, especialmente nos Estados-Unidos. Estas estão a estabilizar, particularmente em relação às start-up mais maduras: a valorização média das empresas que tinham levantado fundos da série D (levantamentos de várias dezenas de milhões de euros) foi de 189 milhões de dólares (179 milhões de euros) em 2016, contra 190 milhões (aproximadamente 180 milhões de euros) em 2015, depois de anos de crescimento.

As grandes empresas como drivers de crescimento

Apesar destes elementos conjunturais, a dinâmica continua positiva, embora o ano de 2015 tenha sido “especialmente bom”, de acordo com a KPMG. O corporate-venture (investimentos realizados por grandes grupos, por si ou através de um veículo de investimento) estabilizou. “É uma das tendências do mercado, que deveria continuar e provocar um novo impulso no financiamento das start-ups”, afirma Marie Guillemot. Os grandes grupos intensificaram os seus investimentos, não necessariamente para adquirir start-ups, mas para as integrar no seu ecossistema. A França segue a tendência do ano passado, por exemplo com os investimentos da PSA na Koolicar ou os fundos criados pela AXA, Safran, Orange e também a Engie.

Foi sobretudo nos Estados-Unidos e na Europa que o abrandamento mais se fez sentir no ano passado, com a Ásia a continuar mais dinâmica. “A China e a Índia apoiam os investimentos da região. A transformação do modelo chinês, de uma sociedade industrial para uma sociedade de serviços apoiados na tecnologia, faz com que a Ásia deva continuar a mostrar-se dinâmica no futuro”, esclarece Marie Guillemot.

A França confirma o seu estatuto na Europa. A French Tech permanece em terceiro lugar, atrás do Reino-Unido e da Alemanha, em montantes investidos, e segunda em número de operações. A França é o único país da Europa a manter a sua posição em 2016 (1,6 mil milhões de euros investidos, praticamente estabilizado em relação a 2015), enquanto o Reino-Unido, a Alemanha e a Europa do Norte veem os seus investimentos nas start-ups baixar. Outras classificações, nomeadamente a que foi publicada recentemente pelo EY ou pelo CB Insights, apontam mesmo para uma subida, em função de uma metodologia de âmbito diferente.

O hexágono salientou-se também pelos diversos levantamentos de fundos que ocorreram, como os da Sigfox (150 milhões de euros), a Devialet e a Deezer (100 milhões). Paris ultrapassou Berlim com 1,1 mil milhões de euros de investimento nas jovens empresas em crescimento, em 2016

Contudo, ainda é necessária prudência. A incerteza que pesou sobre os Estados-Unidos no ano passado pode repetir-se este ano na Europa, com as eleições em França e na Alemanha. Segundo Marie Guillemot, “as questões políticas europeias em 2017 poderão travar alguns investimentos, enquanto a América do Norte, em especial os Estados-Unidos, parecem recuperar algum dinamismo, depois de vários meses de instabilidade”. As perspetivas bolsistas são também mais positivas do lado de lá do Atlântico. Várias unicórnios americanos (Dropbox, WeWork, Airbnb) poderão lançar-se em Wall Street, na senda da Snapchat.

 

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