Entrevista/ “Faz tudo o que podes com aquilo que tens. Essa é a tua realidade. Constrói a partir daí”

Mário Caetano, coach e palestrante

“No final de 2008 estava falido financeiramente, deixei de ter capacidade de comprar comida para a família e demorei 3 anos a recuperar todas as minhas dívidas. Foi a pior e a melhor coisa que me aconteceu na vida”, contou ao Link To Leaders Mário Caetano, que lançou este mês um documentário, onde relata a aventura de 14 pessoas que, durante seis dias, passaram por várias situações adversas, como a imersão no gelo, na Serra da Estrela.

É coach há 14 anos e já ajudou mais de 100 mil pessoas. Em novembro do ano passado organizou um retiro na Serra da Estrela, que originou o documentário “Spiritual Mindset – Derrubando os limites da mente”, que foi apresentado no início deste mês.

Desde 2008, momento em que se tornou empreendedor, coach e palestrante profissional, inspirou milhares de pessoas a ultrapassar problemas e a tomar importantes decisões nos seus relacionamentos e nas suas carreiras.

A vida de Mário Caetano, que entrou várias vezes em falência enquanto empreendedor, é o exemplo de que é possível ultrapassar obstáculos, concretizar sonhos e encontrar um sentido maior para a vida.

O que o levou a lançar o documentário “Spiritual Mindset – Derrubando os limites da mente”?
A realização do documentário Spiritual Mindset tem como intenção passar uma mensagem que vai para além do gelo, da respiração e da meditação. Esta é uma mensagem disruptiva que tem como propósito ajudar as pessoas a pararem e a pensarem no sentido maior para a vida.

Quais as principais mensagens que quer passar?
Desde o início de 2020 que a sociedade nos diz que a vida se desenrola sob um carácter de proteção máxima. Nos últimos 2 anos e meio fomos instruídos a proteger-nos de tudo e de todos, e estamos a sofrer as consequências dessas medidas. O sofrimento humano acontece quando bloqueamos a nossa essência e nos separamos de quem somos e intensifica-se quando aprendemos a viver encostados a um canto. Para nos encontrarmos e encontrarmos um sentido maior para a nossa vida, precisamos de arriscar, inovar e adaptar-nos continuamente.

A forma mais rápida e criativa de o fazermos é utilizarmos a natureza como estímulo mental e corporal, de forma a transcendermos e a superarmos as nossas limitações. Rodeando-nos das pessoas certas e com as estratégias e metodologia adequadas, criamos um sentimento de pertença, encontrando um propósito maior para aquilo que fazemos. Nesse momento dá-se o maior encontro que podemos ambicionar viver: o encontro com quem nós somos.

O que mais o impressionou nas 14 pessoas que participam no documentário?
A capacidade de entreajuda e união, foco e compromisso com a missão e confiança na equipa durante toda a jornada.

“A mente humana possui uma limitação domesticada e um potencial ilimitado. A linha da superação é composta por muitos pontos que se unem, dos quais destaco três”.

Como pode o ser humano superar barreiras que não lhe parecem possíveis à primeira vista? Que dicas aconselha?
A mente humana possui uma limitação domesticada e um potencial ilimitado. A linha da superação é composta por muitos pontos que se unem, dos quais destaco três. Chamo-lhe os três pês: Propósito; Preparação e Persistência. Para superarmos barreiras, transpormos muros e sairmos de buracos, precisamos de ter consciência dos três pês que podem impulsionar a nossa vida.

Como caracteriza a postura dos líderes de hoje?
Existem os líderes que vemos na TV e os líderes que fazem o mundo avançar. Os líderes que fazem o mundo avançar possuem uma postura autêntica, destemida, focada nas pessoas e comprometida com uma causa maior. Estes são os verdadeiros líderes.

O teletrabalho obrigou os líderes a repensar a sua forma de liderar as equipas e de mantê-las motivadas. Que desafios os líderes enfrentam hoje?
A motivação é uma enxertia massificada pelas organizações que não produz resultados duradouros, pois arde rapidamente. A liderança precisa de compreender que estratégias puramente táticas não solidificam nem fidelizam as pessoas. As lideranças precisam definitivamente de compreender que as pessoas estão carentes de pertença, de propósito e de sentido. Os líderes precisam de se focar em criar e fomentar estas três variáveis com as suas equipas.

Como devem os líderes repensar a forma como interagem com as suas equipas e como devem motivá-las?
Não adianta motivar as equipas se o propósito não for trabalhado em profundidade dentro das organizações. As organizações precisam de alma e, para isso, precisam de trabalhar a sua cultura como foco prioritário. É a cultura que comanda toda e qualquer organização.

A metodologia Spiritual Mindset assenta em três sólidos pilares: Pilar 1 de impacto – Este pilar responde à pergunta “Em que me quero tornar e que impacto quero criar? Qual o propósito maior para o legado que quero deixar?” – ; Pilar 2 a visão – Este pilar responde à pergunta “Em que preciso de me focar para me tornar no que quero?” – e Pilar 3 de Mindset – Este pilar responde à pergunta “Que pensamentos, hábitos e crenças preciso de derrubar e quais os que preciso de criar?”

Cada um destes pilares aprofunda-se numa série de estratégias e metodologias que tenho desenvolvido e aplicado na vida das pessoas e das empresas, de forma a criar equipas mais holísticas, orgânicas e com mais sentido.

Tecnologia e humanização. Na sua ótica qual a receita ideal para combinar estas duas vertentes no seio de uma organização?
A tecnologia deve ser um impulsionador da essência humana, tal como o avião é o acelerador da experiência do viajante. Não podemos nem devemos fugir à evolução disruptiva que vai acontecer nos próximos 10 anos. O mundo está e vai mudar a uma velocidade alucinante e a receita está em cada um de nós descobrirmos e utilizarmos os nossos dons e talentos para surfarmos a onda ao invés de a tentarmos deter. O segredo reside na aplicação consciente dos nossos talentos em algo que consiga criar impacto positivo na vida das pessoas, utilizando a tecnologia como rampa de impulsão.

“Um dos momentos mais desafiantes foi o facto de em 2007 me ter despedido de um emprego seguro e muito bem remunerado e ter seguido o mundo do empreendedorismo, sem qualquer conhecimento”.

Qual foi o momento ou momentos mais desafiadores na sua carreira e como os superou?
Um dos momentos mais desafiantes foi o facto de, em 2007, me ter despedido de um emprego seguro e muito bem remunerado e ter seguido o mundo do empreendedorismo, sem qualquer conhecimento. No final do 2008 estava falido financeiramente, deixei de ter capacidade de comprar comida para a família e demorei 3 anos a recuperar todas as minhas dividas. Foi a pior e a melhor coisa que me aconteceu na vida.

Qual foi o melhor conselho que recebeu e que deu?
Melhor conselho que recebi: Aguenta firme, tudo passa. E o melhor conselho que dei: Faz tudo o que podes com aquilo que tens. Essa é a tua realidade. Constrói a partir daí.

Que conselhos deixa aos nossos empreendedores para se superarem e encontrarem o seu caminho
Independentemente do caminho que escolheres, as pessoas vão sempre julgar-te. Portanto, mais vale fazeres o caminho que te entusiasma. Agora!

O que gostaria de fazer e ainda não teve oportunidade?
Subir o monte Evereste.

Respostas rápidas:
O maior risco: 
Despedir-me.
O maior erro: Investir todo o meu dinheiro em três start-ups.
A maior lição: A mente é ilimitada.
A maior conquista: Concluir uma ultramaratona de 100km com um osso do pé deslocado.

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