Quatro grandes falhanços empresariais que marcaram 2018

Desde inovadores testes de sangue falsos à preservação de cérebros. Estes são dois de quatro casos de falhanços empresariais em 2018.

Os últimos 12 meses trouxeram grandes histórias de start-ups. Em Portugal, houve a entrada da bolsa da Farfetch, a OutSystems tornou-se unicórnio, a Probe.ly prossegue uma rota ascendente e recolheu mais uma ronda de capital, e continuam a surgir novos fundos de investimento – para enumerar apenas alguns dos acontecimentos positivos.

Mas não foi só por notícias positivas que o ano ficou marcado: houve alguns falhanços que vão ficar para a história. Os quatro projetos internacionais que se seguem apresentaram todos novos formatos de abordar os seus mercados, mas falharam redondamente.

Theranos

“Teria de se esforçar muito para não ver Steve Jobs em Elizabeth Holmes”, escrevia a Inc. sobre a fundadora da Theranos numa reportagem datada de outubro de 2015. Esta start-up prometia revolucionar o mercado dos testes de sangue, mas cerca de três anos depois, em setembro deste ano, o The Wall Street Journal noticiava o fecho do projeto anteriormente avaliado em perto de oito mil milhões de euros.

A ordem veio do ministério público norte-americano, depois de ter chegado à conclusão que a empresa tinha enganado investidores – em perto de 900 milhões de euros -, médicos e pacientes.

A Theranos dizia ter um dispositivo que era capaz de fazer testes com precisão laboratorial com apenas uma gota de sangue. John Carreyrou, do The Wall Street Journal, foi fundamental para a queda da empresa. O jornalista descobriu que, dos testes que estavam a ser feitos, apenas uma pequena parte eram realizados com os aparelhos da empresa – o resto estava a ser feito com analisadores comerciais.

MoviePass

E se, por nove euros por mês, pudesse ir ao cinema todos os dias ver um filme? Como é que lhe soa esta ideia? Demasiado boa para ser verdade? Se calhar é porque não é!

Este plano chegou a ser real e foi concretizado por Mitch Lowe, cofundador da Netflix. O projeto, que vinha a ser montado desde 2011, arrancou em agosto de 2017. Em menos de um ano o negócio já contava com três milhões de subscritores. A grande questão, no entanto, prendia-se com o modelo de negócio: como é que a equipa ia conseguir sustentar um projeto desta envergadura a um preço tão baixo?

Alguns especialistas acreditavam que o valor estava nos dados que os clientes disponibilizavam à empresa, mas no mesmo mês em que atingiram os três milhões de subscritores foi tornado público um documento da SEC (a CMVM norte-americana) que indicava que a empresa estava a perder mais de 19 milhões de euros mensalmente para continuar em funcionamento. A MoviePass acabou por ter de alterar o modelo de negócio insustentável e limitou o acesso para três filmes mensais.

Mais recentemente, noutra tentativa para se manter em funcionamento, a empresa anunciou que em janeiro vai adoptar três novos escalões para os passes. Felizmente para o cofundador da Netflix, houve capital para “queimar” e para se manter em funcionamento até alterar as condições do serviço.

Nectome

Em março, o Link to Leaders apresentou a Nectome, uma start-up que “pretende ligar cérebros a uma cloud – mas com um senão”. A ideia de Ryan McIntyre, fundador do projeto, era preservar cérebros humanos através de um processo de vitrificação que já tinha sido testado e comprovado em coelhos e porcos. O objetivo era conservar os cérebros humanos para futuros cientistas conseguirem criar uma simulação de memórias.

O “senão” era que, para levar o procedimento a cabo, o cérebro tinha de estar fresco, o que significa que para preservarem as redes neurais dos seus potenciais clientes eficazmente, os químicos desenvolvidos pela equipa de cientistas têm de ser a causa da morte.

A Nectome chegou a entrar numa das aceleradoras mais conhecidas do mundo, a Y Combinator. Um dos diretores executivos desta organização que apoia start-ups, Sam Altman, foi uma das primeiras 25 pessoas a pagar um depósito de 10 mil dólares para entrar para a lista de espera.

O final deste filme de ficção científica chegou em abril, quando o MIT Media Lab, um dos apoiantes do projeto, cortou laços com este. Nesta altura, a McIntyre deu a conhecer que não tinha qualquer plano para continuar o projeto a curto prazo.

Raden

A Raden foi “morta” pela regulação. Fundada em 2015, esta empresa, sediada em Nova Iorque, queria modernizar a forma como as pessoas transportam os seus bens em viagem. A equipa desenvolveu uma mala de viagem que continha caraterísticas como um sensor de peso, um carregador de telemóvel, um localizador e acesso a uma conexão Bluetooth.

O projeto nova iorquino chegou a recolher 26,5 milhões de euros em investimento, mas em dezembro de 2017 as grandes companhias aéreas anunciaram a proibição de bagagem inteligente que tivesse baterias de lítio que não fossem removíveis.

Sem conseguir dar a volta a esta condição, a Raden acabou por fechar operações em maio deste ano.

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