Opinião
Escassez de talento: start-ups atraem mais?

A escassez de talento e a sua grande competição global em especial na indústria das tecnologias de informação, apesar de serem um dado adquirido, a verdade é que algumas organizações têm ganho o interesse crescente deste talento. Quem são e porque (provavelmente) atraem mais talento face a grandes empresas?
As start-ups têm suscitado o interesse crescendo do talento a nível mundial, desde o mais junior ao mais sénior e isso prende-se a meu ver com cinco fatores principalmente:
– Mentalidade empreendedora. As start-ups quando criadas são projetadas para crescer muito rapidamente, face ao seu potencial de escalabilidade, como é de perceber. Em face deste contexto assumido pelos seus fundadores e pelo próprio mercado, as tomadas de decisão, a experimentação de ideias e processos, são muito mais rápidas e ágeis do que acontece com uma empresa de média ou grande dimensão. Lideranças seniores “hands-on” a “abrir caminho” rapidamente, o retorno de quem aprende neste contexto é 10 vezes superior à de uma empresa média e as suas lições de negócio são mais intensas e bem mais reais do que qualquer MBA.
– Feedforward e aceleração de carreira. As start-ups são, na sua maior parte caracterizadas por estruturas hierárquicas muito simples e horizontais. Caracterizam-se por lideranças de muita proximidade, acompanhamento e gestão de “porta aberta”. Há um alinhamento muito grande com a liderança e por isto mesmo, este tipo de liderança atrai os talentos e retém os existentes. As pandemias e outros acontecimentos recentes mudaram as pessoas, não os mercados. As pessoas procuram entrosamento e uma ligação emocional e genuína com os seu líderes e gestores. Estas ligações de grande proximidade “exigem” que os lideres estejam sempre a olhar para o futuro dos seus talentos ( feedforward) dentro da organização, em que o coaching e a mentoria são ferramentas valiosas nas práticas de gestão de recursos humanos, para desenvolver capacidades e competências futuras e acelerar carreiras.
– Diversidade e inclusão. Como consequência das duas primeiras e a acrescentar a missão de atrair os melhores talentos para chegar a objetivos ambiciosos, as start-ups removem todos os obstáculos, sejam geográficos, socioeconómicos, culturais ou quaisquer outros para atrair os melhores talentos e quando estes chegam querem a sua melhor contribuição, participação, cooperação criando culturas de verdadeiro sentido de pertença. A autonomia, a flexibilidade, a liberdade de estar e ser, são dados adquiridos numa start-up.
– ROI emocional. Este ROI é o retorno que se traduz em felicidade, bem-estar global e motivação pelo fato de que cada função, seja ela qual for, tem um grande impacto na start-up. O trabalho de todos contribui para o crescimento e sucesso da start-up. É sentido um propósito real e verdadeiro, maior do que a mera função que lhe está adstrita.
– Integração de carreira e família (work-life integration). O paradigma mudou de balanceamento entre vida e trabalho, para uma verdadeira integração. As pessoas e as famílias mudaram, e muito. Percebemos, durante dois anos, que de um momento para o outro, perdemos familiares e amigos e que afinal nada é garantido. Percebemos sim, que temos de desacelerar e que é muito mais do que “às terças e quintas podes chegar às 10 horas ao escritório para levar os filhos à escola”. O mercado do melhor talento, quer autonomia, quer flexibilidade, quer ser responsável pelos seus atos e decisões de forma genuína e responsável e para isto precisa de liberdade de escolha, onde viver e trabalhar com a sua família. Qualidade de vida para si e para a sua família, em especial para os seus filhos. Vidas autênticas e de verdadeira conexão com a natureza e com equilíbrio. Cada vez mais as start-up procuram locais “uncrowded” com locais “desacelerados”, mas onde podem crescer rapidamente e dar qualidade de vida às famílias dos seus talentos, por um lado e aceleração de carreiras por outro.
O mercado de trabalho mudou e ainda bem que mudou, porque as pessoas mudaram e os talentos querem outra forma de trabalhar, estar, viver e contribuir. A sua satisfação pessoal e familiar e a sua saúde metal ganharam proporções grandiosas. As start-ups tem um conjunto de características que as tornam atrativas para estes talentos e que acabam por “ganhar” a guerra de talentos.
*E Ambassador na Fábric@ Empreendedorismo Município de Seia