Entrevista/ Luiza Trajano, uma das mulheres mais poderosas do Brasil que inspira e motiva empreendedores

Luiza Helena Trajano é o rosto por detrás de uma das maiores empresas de retalho do Brasil e um dos nomes que figura na lista de 2021 das 100 pessoas mais influentes do mundo, da revista Time. O Link To Leaders falou com a empresária sobre o seu percurso no grupo Magazine Luiza e como hoje em dia inspira e motiva empreendedores por todo o Brasil.

“Hoje, além de ter conhecimento, é preciso fazer acontecer, independentemente do cenário, opiniões ou estatísticas”. Esta é a convicção de Luiza Trajano, a empresária brasileira que foi nomeada durante quatro anos consecutivos como líder de negócios com melhor reputação no Brasil, pela consultora espanhola Merco. Integrou também a lista global do WRC – World Retail Congress e o top 100 mulheres mais influentes do mundo, em 2021, da Time, e figurou no ranking das 25 mulheres mais influentes de 2021 do Financial Times.

Luiza Trajano é presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza desde 2016, uma das maiores empresas de retalho do Brasil, que conta hoje com mais de 1.100 lojas em 18 estados brasileiros e emprega mais de 47 mil colaboradores.

Formada em Direito, em 1972, começou a trabalhar numa das lojas do grupo e passou por diversos departamentos antes de assumir a liderança da organização, em 1991. Sob a sua direção, a empresa criou as primeiras lojas virtuais e começou a sua expansão para o Paraná e para o Mato Grosso do Sul.

Com o negócio da família nas mãos do seu filho Frederico Trajano, Luiza Trajano concilia atualmente a função de presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza com a de liderança de um grupo que fundou com outras empresárias, o Mulheres do Brasil, que apoia pequenas e médias empresas.

Quem é Luiza Helena Trajano?
Sou completamente normal, gosto de tudo o que faço, da minha atuação no Magazine Luiza como presidente do Conselho, de estar constantemente junto com a equipa e também de agir com a sociedade civil, através do Grupo Mulheres do Brasil. Estou sempre em movimento. Aliás, dizem que a sorte só aparece para quem está em movimento. E gosto, também, de estar com a família e na companhia dos meus netos.

O que aprendeu nos últimos anos, nomeadamente com a pandemia de Covid-19 e depois com a Guerra na Ucrânia?
Todos aprendemos muita coisa, em todas as áreas, mas as principais lições a que o mundo deve estar cada vez mais atento relacionam-se com a preservação do meio ambiente e com o investimento em ciência e saúde, que deve ser uma prioridade cada vez maior dos governos.

No últimos dois anos comprou mais de 20 empresas, investiu em áreas diversas, como conteúdo, tecnologia e logística. Quais os desafios que têm enfrentado?
A integração de empresas compradas é sempre um desafio. Criámos uma dinâmica através da qual não fazemos críticas quando adquirimos uma empresa, mas procuramos aprender o que ela tem de bom e as qualidades que a levaram a destacar-se. Depois temos um longo processo de integração de culturas, de torná-la com o jeito de ser da Luiza, ajudando-a a incorporar os nossos valores. Tudo isso tem que ser de uma forma orgânica.

“O retalho está sempre em transformação, o retalho físico sempre existirá, e o que garante essa vida é justamente a sua constante mudança e adaptação aos desejos do consumidor”.

O que tem surpreendido mais na transformação do retalho?
O retalho está sempre em transformação, o retalho físico sempre existirá, e o que garante esta vida é justamente a sua constante mudança e adaptação aos desejos do consumidor.

Numa altura em que a transformação digital é irreversível, qual o input que a tecnologia pode trazer ao setor do retalho?
Há muito tempo que a transformação digital é irreversível para o retalho, independentemente da dimensão da empresa. A multicanalidade é uma realidade há muito tempo e cabe ao retalho acompanhar todas as transformações impostas pelo digital, que não é uma aplicação, mas sim, uma cultura.

Quais os planos para o futuro do Magazine Luiza?
Continuar a crescer com lojas físicas, trabalhar para consolidar ainda mais o marketplace e dar aos vendedores e pequenos empreendedores condições para sobreviverem bem. Comprámos muitas empresas, de formação a logística, e passámos a nossa experiência, tudo o que temos de sistema, para o pequeno e o microempresário.

“No Brasil, esperamos que o novo governo aja para criar condições favoráveis para a recuperação económica”.

Qual a sua visão sobre a recuperação económica no Brasil e no mundo?
Já enfrentámos dezenas de crises e sempre as superamos. Antes, o cenário era até pior, pois qualquer crise mundial influenciava ainda mais negativamente o Brasil. Num mundo globalizado, um conflito inesperado pode agir negativamente em qualquer economia. No Brasil, esperamos que o novo governo aja para criar condições favoráveis para a recuperação económica.

Criou o Grupo Mulheres do Brasil. Em que é que consiste e que iniciativas têm lançado?
O grupo nasceu de maneira orgânica em 2013, quando reunimos cerca de 40 mulheres de todos os segmentos e classes para uma reunião em Brasília. Foi uma troca de experiências tão rica que decidimos continuar com as reuniões e alargar a participação de mulheres para trabalhar em causas concretas para a sociedade civil.
Hoje, somos mais de 109 mil mulheres em todo o Brasil e em vários núcleos de brasileiras que moram no exterior, conectadas em dezenas de comités de trabalho que realizam ações práticas em áreas como saúde, educação, igualdade racial, combate à violência contra mulheres, empreendedorismo e em muitas outras.

O que deve ser feito para estimular a inserção das mulheres no mercado de trabalho?
Avançámos muito na quebra de preconceitos, mas ainda temos muito a conquistar. No entanto, o mercado está a colocar as empresas que não têm equidade e diversidade nos seus quadros para trás, justamente por não refletirem as constantes mudanças da sociedade.

“Atitude empreendedora é fundamental para qualquer profissional que deseja destacar-se em qualquer organização”.

Que conselho deixaria a uma jovem executiva com ambição de alcançar um cargo de liderança?
Atitude empreendedora é fundamental para qualquer profissional que deseja destacar-se em qualquer organização. E desenvolver competências empreendedoras nas pessoas é um diferencial para a carreira.

Quais as principais competências para se ser uma boa líder nos dias de hoje?
Cada um desenvolve o seu próprio estilo de liderança e não há uma receita única para se ser líder. Porém, há algumas características que são mais marcantes nas pessoas que estão a obter sucesso atualmente. Hoje, além de ter conhecimento, é preciso fazer acontecer, independentemente do cenário, opiniões ou estatísticas. É necessário ousar, fazer diferente e saber tirar o melhor das pessoas.

Em 2021 foi eleita pelo quarto ano consecutivo como a líder de melhor reputação do Brasil, numa pesquisa publicada na Revista Exame, e distinguida pela revista Time como uma das 100 mulheres mais influentes do mundo. Só para enumerar algumas. Qual o segredo para estas distinções?
Não existe um segredo ou fórmula. Tudo foi acontecendo naturalmente através do trabalho que desenvolvemos. Nunca fui à procura de nenhum prémio, eles foram acontecendo. Cada vez que recebo uma distinção, a minha responsabilidade como cidadã e pessoa ativa na política, através da sociedade civil organizada, aumenta ainda mais.

O que falta fazer à Luiza Helena Trajano empresária? E à Luiza Helena Trajano mulher?
Muita coisa, vivo sempre em movimento e tenho, tanto no Grupo Mulheres do Brasil como no Magazine Luiza e nos conselhos e comités em que participo, diversos projetos e ações concretas para a melhoria do Brasil. Todas essas causas, e outras que virão, trazem satisfação e dão a impressão de que sempre temos algo para fazer.

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