Entrevista/ “A economia circular deve ganhar um novo fôlego com projetos a surgirem em diversas áreas”

João Bernardo Parreira, CEO da The Loop Co.

Está sediada em Coimbra e dedica-se a projetos de economia circular como a BabyLoop, plataforma de compra e venda de puericultura, e Book in Loop, compra de livros escolares em segunda mão, mas também a desenvolver soluções de software para empresas, através da BiLD Analytics, e a ajudar os mais jovens a conseguir uma oportunidade de trabalho. Falámos com o CEO da start-up The Loop Co. que quer agora expandir o seu negócio geograficamente.

A The Loop Co. continua a desenvolver o seu trabalho em três áreas de negócio: o comércio eletrónico de economia circular, através das marcas Book in Loop e BabyLoop em Portugal; na área do desenvolvimento de tecnologia, que vai desde o software à IOT, desenvolvem produtos e projetos para empresas nacionais como a TicketLine, a Sonae ou a Mota-Engil; e na área da data science e business analytics prestam consultoria a empresas internacionais como a Carlsberg ou a Exon Mobil.

Em entrevista ao Link To Leaders, João Bernardo Parreira, CEO da start-up sediada em Coimbra, fala da adpatação aos tempos de pandemia, do lançamento da quarta edição do programa de estágios de verão em parceria com a Universidade de Coimbra, cujas candidaturas decorrem até ao final do mês, e dos objetivos para o futuro: “crescer em termos de clientes, áreas de negócio e presença geográfica. Ainda este ano vamos alargar a Book in Loop para outras geografias”.

Como é que a Loop Co se está a adaptar a estes tempos de pandemia?
Entrámos agora numa nova fase em que a economia começa a reabrir aos poucos, mas creio que o impacto real da pandemia nas contas do país, e no ecossistema das start-ups em particular, só será possível medir à posteriori. As consequências da pandemia para as start-ups variam sobretudo por uma questão de exposição à paragem forçada da economia e da capacidade que cada estrutura teve e continuará a ter para se adaptar e reinventar. De alguma forma, também sabemos que estamos numa situação vantajosa, comparativamente com outras start-ups dependentes da presença física de clientes, já que desenvolvemos soluções tecnológicas e de economia circular baseadas no digital.

Em termos práticos, mantemos a atividade nas plataformas de e-commerce que desenvolvemos, nomeadamente a BabyLoop, que no primeiro trimestre cresceu mais de 100% em termos homólogos e cerca de 50% em relação ao trimestre anterior, muito devido ao interesse crescente dos consumidores pelas entregas ao domicílio nos últimos meses; no mês de abril continuámos a aceleração, crescendo 40% face ao mês anterior. Continuamos a entregar soluções de software para outras empresas, através da BiLD Analytics. Conseguimos manter todos os projetos em curso e acompanhar as necessidades dos nossos clientes.

Considera que esta é a altura ideal para mudar mentalidades e perceber que o sucesso futuro, ou parte dele, depende da colaboração?
Sem dúvida. Arriscaria dizer que o futuro do trabalho já começou e foi amplamente acelerado por esta pandemia. Muitas das tecnologias, tendências e normas culturais que vinham a moldar os locais de trabalho tornaram-se uma realidade, de um dia para o outro, e as empresas tiveram de se adaptar. O grande problema desta evolução é saber como adequar tantas mudanças e é neste contexto que a colaboração é fundamental. Dela depende a produtividade, a integração de novos elementos na equipa, a qualidade do trabalho desenvolvido e a partilha de conhecimento entre as pessoas.

“Desde que estamos a trabalhar remotamente já recrutámos e integrámos na equipa duas pessoas e lançámos, no dia 1 de maio, as candidaturas para a quarta edição do programa de estágios de verão que desenvolvemos em parceria com a Universidade de Coimbra (…)”.

Em termos globais, muitas das start-ups foram forçadas a reduzir os recursos humanos. Contrariando esta tendência, a The Loop Co., continua a recrutar e tem a decorrer, até 31 de maio e pelo quarto ano consecutivo, candidaturas para um programa de estágios. Para que áreas são e a quem se destinam?Desde que estamos a trabalhar remotamente já recrutámos e integrámos na equipa duas pessoas e lançámos, no dia 1 de maio, as candidaturas para a quarta edição do programa de estágios de verão que desenvolvemos em parceria com a Universidade de Coimbra, que acreditamos poder ser ainda mais benéfico nesta fase, dando oportunidades de trabalho aos jovens, que têm visto muitas portas a fecharem-se no último mês.

As candidaturas decorrem até 31 de maio, no site da The Loop Co. e, no final do processo, serão selecionados 20 jovens para um estágio remunerado de três meses. Os candidatos integrarão as áreas de gestão de operação, serviço ao cliente, marketing e redes sociais, sendo admitidos estudantes ou jovens que tenham terminado a licenciatura ou mestrado há menos de dois anos.

Como surgiu a ideia de abrirem novamente um programa de estágios?
A experiência dos anos anteriores foi muito positiva, integrámos alguns dos estagiários na equipa e achamos que, dado o contexto atual, é ainda mais importante que os jovens tenham oportunidades. Tendo condições para o fazer, não vimos motivo para interromper o programa que desenvolvemos com a Universidade de Coimbra e que acreditamos ser relevante para o dinamismo da cidade, até porque, como todos sabemos, no interior não há assim tantas oportunidades para os jovens.

“(…) na vertente tecnológica trabalhamos com cada vez mais parceiros, desde a área do retalho à bilhética e eventos para melhor a experiência online dos consumidores”.

Como justifica este reforço no recrutamento em tempos de crise?
Justifica-se pelos projetos que temos em curso nas várias frentes da empresa. A BabyLoop está a crescer, quer em termos de volume de vendas, quer no tipo de produto disponível na plataforma e não queremos parar de inovar na nossa abordagem tecnológica à economia circular; vamos expandir geograficamente a Book in Loop, já neste verão, e na vertente tecnológica trabalhamos com cada vez mais parceiros, desde a área do retalho à bilhética e eventos para melhor a experiência online dos consumidores.

Como tem sido a aceitação a este programa de estágios?
Muito boa. O programa tem crescido e, de ano para ano, recebemos mais candidaturas. Na última edição, por exemplo, recebemos 200 candidatos, 20 jovens fizeram o estágio de verão connosco e três acabaram por integrar a equipa no final dos três meses.

As formas de consumo vão mudar drasticamente na União Europeia. Lançado no passado dia 11 de março, o Plano de Ação para a Economia Circular da Comissão Europeia determina fortes restrições aos produtos de utilização única. Concorda com este plano? Os portugueses estão preparados para cumprir os objetivos?
A nossa experiência diz-nos que sim. No primeiro ano de operação, a Book in Loop, plataforma que desenvolvemos para compra e venda de manuais escolares em segunda mão, movimentou cerca de 15 mil livros. Em 2017, quadruplicámos este número e atingimos a marca dos 60 mil livros escolares trocados na plataforma. Em 2018, aproximamo-nos dos 100 mil livros e no ano passado, apesar da gratuitidade dos manuais escolares para todos os alunos do ensino público, houve 5 mil famílias a optar pela reutilização, através da Book in Loop.

Outro exemplo: um ano e meio depois de ter chegado ao mercado, a BabyLoop conta já com mais de 15 mil utilizadores registados, mais de 4 mil produtos submetidos para avaliação. Estes números significam uma poupança de 50 mil euros para as famílias portuguesas e, aproximadamente, 4 toneladas de material reutilizado.

Claro que ainda há um caminho a percorrer, mas a sociedade está cada vez mais alerta para a necessidade de reutilizar e de promover um consumo consciente. Acredito também que esta crise venha acelerar este processo, dado que, mesmo depois da pandemia, e tendo em conta os seus efeitos económicos, os consumidores pensarão duas vezes antes de fazer um investimento, pelo que a economia circular deve ganhar um novo fôlego com projetos a surgirem em diversas áreas.

Com as alterações no ano letivo impostas pelo Covid-19 e a aposta no ensino à distância, como está a Book in Loop a pensar responder a estes tempos? Têm novos projetos na manga?
Continuamos focados em dar continuidade ao trabalho que desenvolvemos até aqui e crescer em termos de clientes, áreas de negócio e presença geográfica. Ainda este ano vamos alargar a Book in Loop para outras geografias, que anunciaremos em breve.

Continuam a apostar na economia circular, impacto social e desenvolvimento de soluções tecnológicas? Que outros setores/áreas gostariam de trabalhar?
A nossa estratégia passa sobretudo por escalar as soluções que já desenvolvemos para outros setores e, obviamente, alcançar novos clientes, mas sempre com projetos de economia circular, com impacto social ou fortes componentes tecnológicas. É o que está na nossa gene e é com esse foco que trabalhamos.

“Na área do desenvolvimento de tecnologia, desde o software à IOT, desenvolvemos produtos e outos projetos para empresas nacionais como a TicketLine, a Sonae ou a Mota-Engil”.

Quantos projetos está neste momento a Loop Co a desenvolver/implementar?
A Loop Co está a desenvolver o seu trabalho em três áreas de negócio: o comércio eletrónico de economia circular, através das marcas Book in Loop e BabyLoop em Portugal e, em breve, também lá fora. Na área do desenvolvimento de tecnologia, desde o software à IOT, desenvolvemos produtos e outos projetos para empresas nacionais como a TicketLine, a Sonae ou a Mota-Engil. Finalmente, na área da data science e business analytics prestamos consultoria a empresas internacionais como a Carlsberg ou a Exon Mobil.

Que outros projetos têm para o futuro?
Em 2020 teremos duas grandes prioridades: em primeiro lugar concluir com sucesso a nossa primeira internacionalização de produtos próprios e, em segundo lugar, continuar a atrair e reter talento, que nos permita continuar a inovar a este ritmo, tanto nos nossos produtos como nos projetos para os nossos parceiros. Para tal, lançámos a primeira edição da nossa Academia, que, a partir de Coimbra, dá formação a jovens nas diferentes skills tecnológicas, mesmo aqueles que não têm experiência de programação, preparando-os para o mercado de trabalho do futuro.

Como imagina a Loop Co daqui a um ano?
Durante o próximo ano, queremos que Loop Co continue a crescer e a afirmar-se como uma verdadeira comunidade de talento e inovação, especialmente na área do comércio eletrónico, e agora de dimensão internacional.

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