Empresas procuram modelos alternativos aos venture capital

Os obstáculos tradicionalmente associados ao financiamento através de  fundos de capital de risco têm levado as empresas a procurar alternativas inovadoras. A londrina Consilience Ventures lançou a ideia de um clube de financiamento.

Muito se tem questionado se o modelo dos venture capital  (VC) está ou não esgotado e muitos experts na matéria não hesitam em afirmar que 95% dos fundos de capital de risco não são lucrativos. Uma das últimas pesquisas do TechCrunch revelava que apenas 5% dos fundos obtêm três vezes o retorno necessário para fazer com que esta forma de investimento valha a pena. Muitas vezes os modelos de fundos de capital de risco também não são dos mais apelativos para as start-ups, sobretudo quando estas têm de passar parte do controlo da sua empresa para os investidores.

A pensar nestes pós e contras começam a surgir propostas alternativas aos modelos convencionais que procuram conquistar o seu espaço como é o caso da londrina Consilience Ventures, que teve a ideia, que partilhou com o site Sifted, e que pode ajudar a encontrar uma alternativa: um clube de financiamento exclusivo para start-ups, investidores e consultores. Os riscos são acumulados e o dinheiro circula pelo clube usando um token baseado em blockchain. A Consilience Ventures seleciona cuidadosamente um grupo de start-ups (cerca de 60), investidores (mais de 500) e mais de 1200 especialistas (consultores, contabilistas, advogados) para este clube privado. O clube funciona por recomendação de membros.

Depois, a Consilience desenvolve um pequeno ecossistema financeiro para este clube, baseado num token blockchain. Os investidores aplicam o seu capital (um investimento mínimo inicial de 25 mil libras, cerca de 27.500 euros) e as start-ups colocam uma parte do capital próprio (inicialmente 1% a 3%). Todos os envolvidos recebem tokens de segurança. O valor do token é baseado no valor coletivo de todas as start-ups do clube.

Se uma start-up tem um desempenho francamente positivo, o valor do token sobe ligeiramente para todos os envolvidos. Também pode acontecer contrário se uma start-up não vingar no seu setor. Todavia, como o risco fica diluído no conjunto de todas as start-ups do clube de financiamento, em teoria, nenhum dos envolvidos estará só a financiar e a apostar numa start-up.

Os tokens podem ser comprados e vendidos dentro do ecossistema, fomentando alguma liquidez para investidores e start-ups. Se uma start-up precisar de mais financiamento, pode vender mais capital próprio através de tokens dentro do clube, o que se traduz num método de financiamento mais simples do que estar à procura de investidores para cada ronda de investimento.
Os investidores, por seu turno, podem vender as suas participações a um outro comprador dentro do clube de forma mais rápida do que com o tradicional processo de investimento em capital de risco, onde o capital fica preso por muito mais tempo (habitualmente uma média de 13 anos).
Se uma start-up for comprada ou se for realizada uma OPI (Oferta Pública Inicial), todos os membros do clube recebem uma parte dos lucros, de acordo com o número de tokens que possuem, tornando o investimento de risco mais fácil.

Prós e contras desta solução
O diretor executivo da Consilience Ventures, Kevin Monserrat, reconhece o ceticismo do mercado face à ideia, pois trata-se de um modelo totalmente novo e sem provas dadas. Além disso, existe o perigo desse tipo de investimento ser simplesmente comparado a outro empreendimento de ICO ou criptomoeda. De salientar que anteriormente existiram outras tentativas de usar tokens de criptomoeda como forma de investir em start-ups, mas nenhuma teve uma evolução positiva. Todavia, aquele profissional assegura que distingue o modelo não será a tecnologia ou o token, mas sim a qualidade das empresas do clube.

O factor diferenciador neste método é que todos os intervenientes se entre ajudam, partilham ideias, fazem apresentações, colaboram em termos tecnológicos, visto que todos os membros do clube têm interesse em garantir que o valor do token se mantenha o mais alto possível, o que pode ajudar a dar ao portefólio uma taxa de sucesso maior.

Até ao momento, a Consilience Ventures conseguiu alguns investidores iniciais e está em negociações com mais. Também selecionou três start-ups para investir – mas precisa de encontrar muito mais antes de lançar o projeto no final deste ano.

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