Empresas familiares são as que mais sofrem com a crise em Portugal, dizem economistas
Mais de metade das famílias portuguesas que têm negócios próprios atuam no grupo de setores de atividade mais afetados durante o período de confinamento, concluem economistas do Banco de Portugal.
Em Portugal, quem tem um negócio próprio está mais exposto à crise provocada pela pandemia de Covid-19 do que no resto da Zona Euro, segundo um estudo publicado pela Revista de Estudos Económicos, do Banco de Portugal.
Sónia Costa, Luísa Farinha, Luís Martins e Renata Mesquita, economistas e investigadores do Banco de Portugal, analisaram as características das famílias proprietárias de negócios em Portugal, visando compará-las com o panorama ao nível dos restantes países da Zona Euro. Os dados são de 2017, mas permitem tirar conclusões para compreender melhor o impacto da pandemia de covid-19 na economia portuguesa, pode ler-se na revista.
De acordo com o estudo, um dos fatores que contribui para a economia portuguesa estar particularmente exposta à crise atual está relacionada com o tipo de negócios familiares que são característicos no país. Em Portugal, 14% das famílias tinham pelo menos um negócio em 2017. No conjunto dos restantes países da área do euro, este valor era cerca de 11%.
Mais de metade (56%) das famílias que têm negócios próprios atuam no grupo de setores de atividade mais afetados durante o período de confinamento, concluem os economistas. “Esta percentagem é mais do dobro da que se observa em média nos restantes países da área do euro (24%)”, adiantam.
Além disso, a percentagem de famílias com negócios nestes setores e que são, simultaneamente, financeiramente muito dependentes do seu negócio, é mais elevada em Portugal do que no resto dos países da moeda única: 18% contra 10%.
Em causa estão os setores da indústria transformadora, comércio e reparação de veículos automóveis e motociclos, alojamento e restauração, atividades imobiliárias, atividades administrativas, atividades artísticas, de espetáculos, desportivas e recreativas e os transportes e armazenagem.
Analisando os setores que, depois de terminado o confinamento, continuam com perspetivas de recuperação da sua atividade mais negras, Portugal volta a destacar-se entre os países mais vulneráveis. “O conjunto de setores com uma recuperação mais lenta abrange 10% dos negócios das famílias em Portugal, duas vezes mais do que na média dos restantes países da área do euro”, lê-se no estudo dos economistas do Banco de Portugal.
Os setores considerados neste grupo de recuperação lenta são os do alojamento, restauração e similares, e atividades artísticas, de espetáculos, desportivas e recreativas. No conjunto de famílias com negócios nestas áreas, 4,5% estão muito dependentes do seu negócio, enquanto no resto dos países do euro há 3% nessas circunstâncias.