Opinião
Empreender aos 70 anos. Conheça a história por trás da Citadin Shoes
Com venda exclusiva online, os sapatos Citadin Shoes são fabricados na zona de Felgueiras, onde os próprios artesão contribuem para os brainstormings criativos das novas coleções. Saiba mais sobre esta empresa que carrega o peso da história de Mia Teixeira da Mota.
A Citadin Shoes é uma marca de calçado 100% portuguesa, um negócio familiar impulsionado por uma mãe de quatro filhos, que, ao longo do seu percurso de vida, desenvolveu um gosto particular pela moda. Mia Teixeira da Mota, matriarca da família, é a mulher que está por trás desta marca. A inspiração para se lançar no setor do calçado surge pelo incentivo dos dois filhos mais novos que a ajudaram a fundar a Citadin Shoes, depois de identificarem uma lacuna na indústria do calçado masculino internacional: a inexistência de sapatos de qualidade a preço acessível.
As coleções da marca são pensadas em total sinergia de conhecimentos entre a família e os artesãos de Felgueiras, que cuidadosamente preparam protótipos únicos e originais que dão alma e vida a este pequeno negócio assumidamente ‘Made in Portugal’.
Em entrevista ao Link To Leaders, a empreendedora de 70 anos falou do objetivo que já está traçado: ser uma marca de referência no mercado nacional e aumentar a expressão no mercado internacional, apoiando-se sempre num produto 100% português.
O que os levou a criar a Citadin Shoes?
Primeiramente, a vontade de empreender e criar um negócio de família. Depois, porque os meus filhos, Philippe e o Thomas, vivem no estrangeiro e estavam cansados de não encontrar sapatos bons a um preço acessível. Como a indústria do calçado em Portugal é muito boa e a criatividade também não nos falta, avançámos para esta nova aventura! Eu também estava a chegar à chamada idade da reforma e sentia que ainda queria um projeto novo, mesmo tendo passado a vida toda a começar novos projetos
O que os diferencia de tantas outras marcas de sapatos que estão hoje a nascer em Portugal?
É difícil dizer, porque há imensas marcas novas cheias de bom gosto e ambição, mas o que mais nos orgulhamos na Citadin é do foco total no consumidor – provavelmente por sermos uma empresa familiar. O nosso objetivo é que todos os nossos clientes estejam satisfeitos connosco; desde as interações no social media até ao serviço de pós-venda. Oferecemos retornos completamente gratuitos, mas conseguimos manter a taxa de devolução abaixo de 1%, e mais de 10% dos nossos clientes já compraram mais de um par.
Além disso, acompanhamos tendências e tentamos inovar tanto no design dos nossos sapatos, como na maneira de chegar ao cliente (distribuição direta por internet, showroom no Chiado, presenças em mercados de moda, etc.); respondemos a mensagens ou social media, fazemos marcações no showroom a qualquer hora e qualquer dia…
Apenas integram oferta masculina. É o propósito da marca ou apenas uma primeira fase?
Por enquanto e, pelo menos nos próximos anos, é o propósito, mas nunca se sabe. Temos imensos pedidos de mulheres para fazermos uma gama especial para elas. Temos até algumas mulheres já clientes que usam os nossos sapatos – alguns modelos são bastante unissexo de fato, mas não produzimos abaixo do 39 para homem.
Os Citadin Shoes já caminham por Portugal, mas nasceram com um pedido do estrangeiro. Como pretendem fazer cumprir esse pedido e ganhar cota de mercado no estrangeiro?
A nossa ambição num curto prazo é em Portugal – um mercado que conhecemos melhor e onde estamos a crescer bastante. No entanto já vendemos para 8 países na Europa, e muitas das visitas ao nosso site vêm do estrangeiro. Uma vez que apostamos no e-commerce – a internet é a nossa montra e, portanto, a potencial audiência é global (ou Europeia) mais do que unicamente Portuguesa -, no futuro queremos crescer bastante no resto da Europa (e quem sabe no resto do mundo), provavelmente por campanhas de marketing digital.
O objetivo é também desenvolver a imagem do ‘Made in Portugal’ no estrangeiro; as pessoas associadas à industria já sabem que é bom, mas o consumidor final normalmente não sabe e prefere produtos de outros países. Há um trabalho importante de educação, do qual queremos fazer parte.
Quais os mercados preferenciais para a expansão da marca?
Hoje em dia olhamos para a Europa como um mercado único – vendemos pela internet e temos a logística necessária para entregar encomendas na maior parte dos países da Europa. Mas claro que países com mais poder de compra, como Inglaterra, Franca, Alemanha e os países Nórdicos são sempre mais apetecíveis e fazem mais sentido para uma aposta inicial de marketing.
Em termos de estratégia de negócio, quais as duas maiores apostas que fizeram?
No e-commerce: saltar a rede de distribuição e vender diretamente ao cliente, sendo que controlamos a total experiência do utilizador (ou quase, porque temos um parceiro para as entregas) e podermos oferecer preços mais acessíveis.
Manter o foco no segmento masculino é outra das nossas apostas. As mulheres compram mais sapatos, mas estão também à espera de mais variedade e de uma oferta bastante diferente de ano para ano; alguns dos nossos sapatos são “intemporais ou clássicos” com poucas modificações em cada coleção/ano, e funcionam muito bem.
São uma empresa familiar, mãe e irmãos. Como se gere um negócio que está a nascer entre relações familiares?
É muito divertido! Felizmente damo-nos todos muito bem, comunicamos todos os dias num grupo de WhatsApp e as coisas funcionam bem. Não que fosse necessária esta conexão adicional, mas o negócio faz com que estejamos ainda mais unidos…
Estão incubados na Startup Lisboa. O que os levou a dar esse passo?
Estamos incubados virtualmente, o que é um bocado diferente, ou seja, os nossos escritórios são aqui no nosso showroom e não na Startup Lisboa. Juntámo-nos porque achamos que é um movimento importante para Lisboa e Portugal, e uma plataforma que nos ajuda a crescer: tanto através das parcerias com outras empresas, como ao nível da comunicação.
Quais as maiores dificuldades por que passaram desde que era apenas uma ideia?
O grande desafio é encontrar as fábricas certas para trabalhar – inicialmente produzíamos em quantidades muito pequenas e precisávamos de alguém de qualidade que acreditasse no projeto; felizmente tivemos bastante sorte e ao fim de pouco tempo já tínhamos protótipos em produção!
O que falta hoje no ecossistema empreendedor português?
Não sei se sou a pessoa mais indicada para falar sobre isso, mas acho que tem/vai haver mais dinamismo – sobretudo fora de Lisboa – e mais pessoas dispostas a arriscar. Para isso precisamos de todo um ecossistema – empreendedores, mas também de investidores, engenheiros, subsídios/investimento do governo, etc…
Respostas rápidas:
O maior risco: começar a produzir sapatos baseado no nosso “bom gosto”.
O maior erro: não ter lançado um site em português desde o início.
A melhor ideia: acredito que continua a ser pôr o cliente em primeiro lugar.
A maior lição: ser possível com a minha idade continuar a inovar e empreender!
A maior conquista: lançar uma empresa com os meus 2 filhos e o meu genro!








